Chega a ser divertido ler alguns periódicos e ouvir alguns programas que são ligados ao futebol, nas duas épocas do ano onde acontecem as ditas “janelas de transferência de atletas”.
Primeiramente, vamos falar um pouco sobre as janelas. Instituídas pouco tempo atrás no mercado de futebol brasileiro, vieram – na teoria – buscar organizar o mercado de jogadores, fazendo com que as equipes tivessem um plantel razoavelmente idêntico durante a competição que estivessem disputando. Também buscavam fazer com que o poderio financeiro de algumas agremiações não fosse o fator determinante na ida ou vinda do atleta para esse ou aquele time em qualquer momento.
Passadas algumas janelas, podemos ver claramente que há um desajuste entre o que foi pensado e o que efetivamente está acontecendo. Os clubes ou SAFs com maior poderio financeiro contratam mais atletas e deixam “estocados”. Se, acaso, houver contusões que retirem o jogador do plantel até o final da competição, essas equipes terão peças de reposição. Agora, vejam que as equipes medianas e pequenas não tem como seguir esse mesmo caminho. Tem elas que contratar o número mínimo possível de atletas (que seus recursos permitam pagar), e torcer muito para que nenhum se contunda. Se houver a contusão, possivelmente não haverá outro para substituí-lo. Não há “estoque”.
Outro fator que pesa demais é a não unificação das janelas entre os continentes. Janelas asiáticas são mais longas e perduram por meses em que o futebol brasileiro já tem as janelas fechadas. A janela europeia (tão importante para que se montem planteis atualmente) é totalmente dissonante da brasileira. Aqui no Brasil a janela mais importante é a do início do ano (onde se monta a base do elenco). A do meio do ano é uma janela de correções, de ajustes. Na Europa é exatamente o contrário. A janela de meio de ano é a que traz as negociações de maior porte, onde as equipes de lá buscam fazer a coluna dorsal de sua equipe.
Feita essa explicação, entro no tema “divertido”. Você já reparou como a imprensa, de modo geral, especula sobre nomes de atletas, condições de negócio, valores, etc? Também já reparou que tudo isso gera um frenesi gigante com torcedores e fãs? Mas, mais que isso, já reparou que a maioria dos negócios especulados sequer acontece? Ou, se acontece, tem termos e condições muito diferentes daqueles que foram divulgados.
Isso tem explicação. Na verdade, algumas explicações.
O primeiro ponto é que nenhum clube gosta ou quer que qualquer negócio envolvendo atleta seja ventilado. Atrapalha a negociação, infla valores, coloca-se mais intermediadores num negócio que poderia ser feito com menos envolvidos, menos comissionados e de maneira mais rápida.
Oras, se o clube normalmente não gosta e não divulga, quem o faz? Por qual motivo há tanta especulação?
Entendamos que esse é um mercado que movimenta muito dinheiro. Como já disse em coluna anterior, quase nenhum atleta vem para qualquer clube por amor. Vem só porque a condição financeira foi melhor para ele. Para ele e para os agentes dele. Hoje a condução dos negócios (salvo raríssimas exceções) é feita pelos agentes. E eles olham para o negócio. Não para o clube. Então interessa muito para todos esses “operadores” de mercado do futebol que o seu produto (no caso os atletas) sejam “leiloados”. Querem ver a corda sempre esticada ao máximo para ver seus produtos valorizados. Sabem que as datas de fechamento de janelas jogam contra os clubes. A especulação é parte da estratégia deles.
Imprensa e paixão. Temos uma imprensa séria e que corre atrás de dados antes de lançar qualquer informação. Conheci vários profissionais nesse meio que trabalham de maneira ética e transparente. Contudo, também há outro viés. O da imprensa conduzida pelos “caçadores de likes”. Pouco ou nada tem compromisso com a veracidade do conteúdo. Precisam de muitas visualizações em suas matérias para ter o alcance que precisam. E aí usam a paixão do torcedor para conseguir o objetivo. Lançam qualquer fato não verificado (sabendo que nunca serão cobrados acaso o fato não se concretize), se enchem de “likes” e estragam eventuais negociações ou iludem quem está lendo ou ouvindo suas notícias.
O futebol é apaixonante. Todos sabemos. Mas alguns usam da paixão dos outros para conseguir benefício próprio. Mesmo que, para conseguir seus objetivos, prejudique direta ou indiretamente os clubes e seus aficionados.
Quando falei lá no início que chega a ser “divertido”, fui irônico. O texto hoje busca pedir que os apaixonados por futebol filtrem muito melhor suas informações. E não acreditem apenas no que o texto fala. Façam uma analogia de tudo que foi especulado em seus times de coração e de quanto tudo isso efetivamente se concretizou.
A cada dia que olharmos o negócio futebol com mais seriedade, com opiniões justas e honestas, sem o viés de interessados no próprio bolso, sem o viés de quem quer que consumamos o produto de informação incorreta deles, certamente ajudaremos nossos clubes.
Lembremos sempre que futebol é entretenimento sim; mas é o entretenimento mais rentável do planeta. E tem muita gente querendo que pensemos como eles querem e não como devemos pensar.