Por Marco Buchmann
Em matéria de diretas
Agora sim este povo/ vi pra frente
Eu quero votar pra presidente
Eu quero gente
O povo na rua
O voto na urna
Tudo vai ser diferente
Em matéria de diretas
Todo mundo diz presente.
Moraes Moreira e P. Leminski
Como se faz a democracia voltar a reinar em um país onde esse movimento esteve oprimido por uma ditadura de 20 anos? Em 12 de janeiro de 1984 acontecia o primeiro comício do movimento que viria a ser conhecido como Diretas Já. Alguns movimentos menores haviam acontecido em 1983, mas a grande articulação começou no fim de 1983, com Ulisses Guimarães, Tancredo Neves, Affonso Camargo, Álvaro Dias, entre tantos.
Ulisses, então presidente do MDB, escolheu Curitiba para sediar o primeiro comício do Brasil, com o discurso que “se der certo lá, vai dar certo no Brasil”. Nesse ponto, ele via Curitiba como o pêndulo que move a democracia. Álvaro Dias e Affonso Camargo foram incumbidos do trabalho de organizar o comício. A OAB/PR entrou como uma das organizadoras.
A importância de uma aceitação pública desse ato se mostra pela contratação da melhor agência de propaganda da cidade, a Exclam, para ajudar a dar uma “lapidada” naquele discurso. Ernani Buchmann, Antônio de Freitas, Bira Menezes e Sérgio Mercer foram os responsáveis por criar a campanha. “Eu Quero Votar Pra Presidente. Diretas Já” era o mote que norteava os trabalhos.
A campanha foi aprovada pelo Affonso Camargo, com a condição que fosse aprovada também pelo presidente nacional do partido, o Ulisses Guimarães. Ernani Buchmann, Antônio Freitas e o próprio Affonso foram à São Paulo, no escritório do Ulisses. Apresentada a campanha, Ulisses não esboçou nenhuma reação. Nem aprovou, nem desaprovou a campanha. Na saída do seu escritório estava uma equipe da Globo esperando para entrevistar o Ulisses sobre outras pautas. “O que há de novo?” perguntou o repórter. Affonso Camargo, espertamente, falou: “Ulisses acaba de ver a campanha pelas Diretas Já.” Foi o que bastou.
As articulações políticas tomaram um tamanho impressionante. Do interior, vieram mais de 45 ônibus, que lotaram o centro da cidade. No total, 60 mil pessoas tomaram a Boca Maldita, daquele que viria a ser o maior movimento popular da história do país.
Nos meses seguintes, mais 40 comícios tomaram conta do Brasil, todos com as cores e o mote que foi criado em Curitiba.
Apesar da emenda constitucional Dante de Oliveira, que restabeleceria o voto direto já no ano seguinte não ter sido aprovada em abril, o movimento foi tão intenso que acabou culminando com a volta de um governo civil e uma nova constituição, que traria o voto direto em 1989.
(Foto: Vitório Sorotiuk)
Marco Buchmann é diretor de cinema, ator, empresário e publicitário