Na foto acima, a Imortal Lygia Fagundes Teles, ladeada por Malu e por mim, em 2002. Em dezenas de ocasiões recebemos membros da Academia Brasileira de Letras para palestrar aos alunos vestibulandos em nossos colégios, e Malu sempre era um dos convidados.
Esta é a 3ª e última matéria que publico aqui no HojePR, às quais denomino ‘Reminiscências da Coluna do Malu I, II e III’ (ver ao final desta coluna o link para as outras) que Luiz Alfredo Malucelli escreveu nos cerca de 20 anos, aos sábados na Gazeta do Povo. Muitas foram as horas de convivência com o Malu, horas de alegria, de bons vinhos, pratos com nobilíssimos temperos, e acima de tudo, do riso saudável e terapêutico. Que fazem bem à mente e à alma, pois, nas oportunas palavras de Umberto Eco, “o riso aproxima o homem de Deus”.
Aqui, graças à generosidade do Fernando Ghignone e do André Lopes, recordo de algumas dessas estórias que contei ao Malu e assim presto modestamente minha homenagem ao amigo que nos deixou, e aos que se interessarem pelo tema, sugiro a leitura para um melhor contexto, desta sequência de 3 artigos sobre a Coluna do Malu.
Abaixo, mais 7 causos publicados, por certo peco pela autorreferência, mas longe de qualquer gabolice, pois soaria como um vitupério ao estimado leitor. O propósito é a blague, a graça:
1. A morte anunciada
Nos anos oitenta, o professor Jacir Venturi dava aulas para as turmas de engenharia no Centro Politécnico. Horário: sábados, às 7h30. Parte dos alunos, que festavam na sexta-feira, chegava atrasada no sábado de manhã.
No ano seguinte, no primeiro dia de aula, o professor Jacir normatizou: a tolerância de atraso para a primeira aula seria de cinco minutos. Depois disso, os alunos entrariam somente na segunda aula.
Em tom de pilhéria, ainda disse:
– Atraso meu, só em caso de morte. Mas se eu morrer, aviso antes.
Tudo corria bem até que, num belo sábado, furou um pneu da Belina do professor, que chegou atrasado. Nenhum aluno na sala, mas no quadro-negro estava escrito em letras garrafais:
– O Jacir morreu.
(da Coluna do Malu – Gazeta do Povo)
2. A mãe sortuda
Nasceu Gabriel, filho de amigos meus, pais bem apessoados. Astrid, a radiante mãe de Gabriel, conta que recebeu de um amigo do maridão uma camiseta para o pimpolho com a criativa e hilária inscrição: “Sou um gatinho, meu pai um gatão e minha mãe uma sortuda.”
(da Coluna do Malu – Gazeta do Povo)
3. Professor também sofre
Nas décadas de 1970 e 1980, as provas de Geometria Analítica eram feitas aos sábados, às sete horas da manhã, na chamada “câmara de gás” do Centro Politécnico.
Os professores Leo Barsotti, Osny Dacol (ambos de saudosa memória), Ana Maria N. de Oliveira, Luci Watanabe, Ivo Riegler e Jacir Venturi mais pareciam um pelotão de fuzilamento. Participavam cerca de 700 alunos. “Quem não cola não sai da escola” era a filosofia dos estudantes. Boa parte deles passava a noite em claro preparando-se para aquele “Inferno de Dante”.
Às quatro horas da manhã do dia da prova, toca o telefone na residência do professor Jacir Venturi. Jacir, assustado, atende:
– Alô… – O Napoleão está?
– Aqui não tem nenhum Napoleão!
– Mas por que o cavalo dele está dormindo aí?
(Coluna do Malu – publicado no Jornal Gazeta do Povo)
4. O homem que calculava
O sogro do professor Jacir Venturi, já falecido, era fazendeiro em MS e divertia-se em fazer blague. Pediu ao genro que se posicionasse sobre as tábuas do mangueiro, junto com mais um peão, para contar os garrotes.
E a bezerrada entrava bastante acelerada por uma porteira, o que dificultava a contagem. E veio a hora do veredito: Jacir, engenheiro e matemático, contou 146; o peão, que estudou até a 5º ano, disse que eram 147 bezerros.
O sogrão, que também havia contado 147 (ou fingiu que contou), foi espirituoso:
– Jacir, é muito fácil saber quantos garrotes: basta contar o número de patas e depois
dividir por 4!
(Coluna do Malu – publicada na Gazeta do Povo)
5. Filha minha não se separa. Fica viúva!
O meu dileto amigo professor Jacir Venturi, diretor de várias escolas de Curitiba, sempre de bem com a vida, conta que em 1975 casou-se em Mato Grosso.
Seu sogro, boa-praça, tanto como prefeito e pecuarista, era tido como “coronel”. Na festa de noivado, o sogro não se fez de rogado e avisou:
– Filha minha não se separa. Fica viúva!
Até hoje o sogrão diz que foi tudo brincadeira.
Em tempo: Jacir continua casado com a mesma mulher.
(Coluna do Malu – publicada na Gazeta do Povo)
6. Adilson bom de cumprimentos
Conta o professor Jacir Venturi que o seu colega Adilson Longen, conceituadíssimo professor de Matemática do Curso Positivo, por dar aulas para milhares de alunos anualmente, não consegue guardar a fisionomia de todos. E quando sai à rua, se alguém o cumprimenta, responde efusivamente, sempre achando ser um aluno seu.
Um belo dia, andando pela Rua XV, foi saudado:
– Oi, Adilson, tudo bem?
– Tudo bem! E você, estudando muito?
– Pô, Adilson, eu sou seu vizinho!!!
(Coluna do Malu – publicada na Gazeta do Povo)
7. O doutor bom de bico
Dr. Amauri Zuotoski é um conceituado médico acupunturista curitibano. No entanto, como conta seu colega Jacir Venturi, quando recém-formado (1976) tinha uma vida estressante pela sobrecarga de plantões.
Num final de tarde, saiu do Hospital do Carmo, parou no Armazém Santana, no bairro Uberaba, pediu uns petiscos e uma boa dose de pinga com mentruz, que ali era muito requisitada. E sentia-se feliz por aquele momento relaxante, num lugar que se julgava anônimo.
Eis que entra um ex-paciente e flagra o nosso médico com o copo na mão:
– O sr. não é o Dr. Amauri? O médico não se desconcentrou e foi firme na resposta:
– Eu não sou o Dr. Amauri! Eu sou o professor Alfredo. O Dr. Amauri é meu irmão.
(Coluna do Malu – publicada na Gazeta do Povo)
Leia outras colunas do Jacir Venturi aqui.
1 Comentário
Parabéns amado Mestre.
Dei boas risadas 🤭 hoje … 🤦🏻♂️🤦🏻♂️😅😅😅😅