Ainda com muitos dias de verão pela frente, a cerveja se mantém como um dos meios favoritos dos brasileiros para se refrescar. A tendência da alta no consumo de cerveja nos dias de calor pôde ser observada na onda de altas temperaturas no fim de 2022, quando a expectativa de crescimento da procura por cervejas era de 40%, segundo dados da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes).
O calor pode ser também uma boa oportunidade para conhecer novos tipos e estilos de cerveja, seja para sair do tradicional ou ainda pular de cabeça no mundo cervejeiro. Para descobrir se existem cervejas que mais combinam com o verão e com o calor, procuramos alguns especialistas que nos falaram sobre os melhores tipos e estilos de cerveja para esse clima: Rodrigo Louro, mestre cervejeiro especialista em microbiologia do Tank Brewpub, e Kathia Zanatta, mestre cervejeira e sommelière de cervejas do Instituto da Cerveja
Cervejas para o calor: o que procurar?
Em consenso, os dois especialistas indicaram as cervejas de sabor mais leve e com teor alcoólico mais baixo para os dias quentes do verão. Entre as justificativas para a escolha, Louro destacou a tendência em se consumir maiores quantidades de cerveja para espantar o calor.
O mestre cervejeiro também destacou a importância de procurar cervejas sem pasteurização. Ele afirma que, entre as opções para o verão, as cervejas armazenadas a frio e com ausência de pasteurização apresentam uma qualidade superior, principalmente quando se trata das cervejas com frutas: “Principalmente nas cervejas com fruta, é importante que sejam pasteurizadas – ao realizar esse processo com as frutas, elas ficam com sabores inclinados às compotas e geleia”, explica Louro.
Outra dica é buscar as cervejas que não sigam a Lei alemã de pureza das cervejas, que aponta que a bebida deve ser produzida apenas a partir de água, malte, lúpulo e levedura. “Seguir essa regra é coisa do passado dos produtores de cerveja. Normalmente se usam adjuntos para deixar a cerveja mais leve e com características sensoriais mais expressivas, que não seguem essa lei”, conta o especialista. Seguir a lei de pureza também não seria possível nas cervejas com adição de outros ingredientes, como as frutas, que são também boas pedidas para o calor, segundo os mestres cervejeiros.
Quais tipos e estilos escolher?
Veja os estilos de cerveja recomendados para o verão pelos especialistas:
• Witbier: cervejas à base de trigo, leves e de baixo teor alcoólico. As notas de casca de laranja e sementes de coentro, segundo Zanatta, são perfeitas para o calor por conta da sua refrescância. Louro destaca as Witbiers belgas;
• Session IPA: a presença de “Session” nos rótulos indica que a cerveja apresenta menor teor alcoólico. Zanatta afirma que essas cervejas podem até ser um pouco mais amargas em sabor, apesar de terem menos álcool;
• Lager: a recomendação ficou com as lagers mais leves, como as American Lager ou Pilsen;
• Sour: as cervejas de perfil de sabor mais inclinado ao azedo são refrescantes e fáceis de beber em volumes um pouco maiores. Segundo Louro, com as sours, “um gole puxa o outro”. Zanatta recomenda conferir as Catharina sours, estilo brasileiro de acidez marcante e com adição de frutas;
Cervejas com fruta: aposta para o calor
As cervejas que remetem aos sabores de frutas da estação são boas apostas para o verão, segundo Zanatta e Louro. Geralmente, as frutas são adicionadas no processo de maturação e fermentação da cerveja, contribuindo com os sabores característicos das polpas, cascas e sementes na bebida. O especialista conta que, como o açúcar da fruta vira álcool, a cerveja vai ficar com todo o frescor do aroma e do sabor das frutas, sem ficar muito doce.
A regra geral, para Rodrigo Louro, é ir atrás das cervejas que apresentem frutas que você gosta de consumir in natura. Para ele, “boas pedidas para o verão são as cervejas de frutas amarelas, como maracujá, cajá e manga, e as frutas tropicais da estação, como, por exemplo, a acerola e a pitaya.”
Como harmonizar essas cervejas?
Segundo os mestre cervejeiros, vale usar a criatividade para testar as combinações de sabores da cervejas e dos alimentos por tentativa e erro. No entanto, existem caminhos possíveis para você começar a buscar harmonizações que funcionem para o seu paladar.
Zanatta aponta que as cervejas leves, no geral, funcionam bem com alimentos também leves. Por sua vez, Rodrigo Louro aposta na possibilidade dessas cervejas funcionarem também como contraste a pratos mais carregados no paladar.
No caso das cervejas do tipo sour (ou em qualquer cerveja com perfil de sabor mais ácido), de acordo com Louro, vale experimentar o pareamento com alimentos condimentados e gordurosos, tendo a cerveja a função de “limpar” o paladar entre porções dessas comidas, equilibrando os sabores da refeição.
Entre as variações de cervejas desse tipo, Zanatta recomenda combinar as Catharina Sour’s com pratos um pouco mais leves: a depender das frutas adicionadas, vale parear com vinagrete de peixes brancos e de polvo, ou ainda sobremesas leves, como uma panacotta com calda de frutas similar à cerveja degustada.
As Witbiers seguem um caminho parecido: tome junto a peixes brancos grelhados ou em ceviche, ou até mesmo ao lado de uma boa salada caprese.
Dicas para servir
Claro, não é complicado servir cervejas de qualquer tipo, mas você pode evitar alguns erros para ter uma experiência ainda melhor com essas bebidas no calorão.
De início, segundo Rodrigo Louro, vale utilizar qualquer copo ou taça para degustar a sua cerveja, como o clássico copo americano. Para reter melhor a espuma das lagers leves, sirva na tulipa brasileira (aquela mais alongada e sem curvatura), ou até mesmo em um copo de cerveja tipo caldereta (mais largo no topo).
Para as sours, que não criam tanta espuma, é interessante servir em copos de boca mais larga, como a taça belga, que ajudam na hora de sentir os aromas da cerveja, sendo as tulipas originais de cerveja (com leve achatamento na parte superior da taça) do tipo também uma boa opção.
Um erro muito comum está na hora de colocar a cerveja no copo escolhido. “Talvez educadas por gerações que tomaram majoritariamente American Lagers aqui no Brasil, muitas pessoas insistem em servir devagar e com o copo deitado para não fazer espuma. Isso é muito ruim, porque você mantém o gás carbônico dentro da cerveja, resultando em uma sensação maior de estufamento após beber”, comenta Louro. O mestre cervejeiro explica que a espuma é importante para a cerveja, uma vez que um pouco do gás carbônico se desprende para ela, que também ajuda a cerveja a se manter em gelada por mais tempo.
Falando em temperatura, não há a necessidade de deixar a cerveja quase congelando. Segundo o especialista, colocar em um balde com gelo já basta para manter a temperatura próxima de 4 graus, ou um pouco mais perto de 0°C, que seria adequada para a bebida atingir seu máximo potencial aromático e de sabor, sem deixar de lado a refrescância.
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