Duas situações devem ser colocadas aqui antes de seguir com o texto. Meus preceitos cristãos pedem para não julgar para também não ser julgado. Outra situação é que sempre minha coluna busca tratar o futebol como um negócio.
Aí entra o caso em si. Tudo ocorreu em 1987, em Berna – Suíça. Meios de comunicação que são habituais hoje em dia (celular, por exemplo) só começaram a se popularizar na outra década. A internet, outro instrumento que hoje para nós é imprescindível, também só começou a ser usada mais incisivamente na segunda metade dos anos 90. Ou seja, a propagação dessas informações foi muito pequena, principalmente se comparada ao tufão que ocorre tão logo uma notícia com esse viés acontece hoje em dia.
Outra situação fática é que não houve “descondenação”. Não tenho domínio sobre o processo jurídico suíço, mas fato é que houve uma condenação e os 37 anos que passaram sem a sentença ser cumprida, viabilizaram artifícios jurídicos que vieram a anular o processo. Outro fato é que apenas Cuca (por ter carreira destacada) teve notoriedade. Os outros três envolvidos quase nem citados são. Todos foram, à época (pelo que li em material cedido por veículo de credibilidade) presos por cerca de 30 dias. E, por último, e que me intriga muito: um dos três envolvidos foi absolvido! Ou seja, se um dos três foi absolvido, me faz pensar que houve intensa investigação para que a justiça de lá chegasse à essa conclusão.
E aí voltamos para o nosso mundo atual. Cuca passou anos na “sombra”. Como a divulgação desse caso era pequena, manteve sua carreira profissional e teve sucesso em várias oportunidades. Mostrou-se, em alguns trabalhos, um profissional capaz e de destaque. Conseguiu manter-se. Enquanto o ostracismo do caso imperava, ele continuou trabalhando.
Só que estamos em um mundo diferente. Os novos tempos e a possibilidade de que todos tenham voz e vez, participação e atuação, principalmente com o advento das redes sociais, fez com que as informações transbordassem rapidamente. Foi contratado no Corinthians e demitido em dias, pois a pressão foi gigante. Na época ainda não havia sido anulado o processo. Com a anulação, foi prontamente contratado por outra agremiação.
Muita polêmica. Muitos defendendo, dizendo que ele pelo olhar da lei está livre (e está mesmo) e outros citando que pelo que lá atrás fez (e eu não posso julgar se fez ou não) não deveria ter sido contratado.
Futebol é um negócio sim. Mas sempre acompanhado pelo fator paixão. Cito isso várias vezes. Tenho convicção plena que o percentual de apoiadores diminuirá absurdamente se os resultados em campo não forem bons. Um grande amigo me falou (e eu concordo) que, se fosse ele, em hipótese alguma se exporia a esse julgamento público. Sua apresentação na agremiação o blindou. Nada teve que comentar acerca do tema. Mas a blindagem dentro de suas cercanias e fora delas só se dará se os resultados vierem. Se não vierem, o apedrejamento acontecerá impiedosamente. Assim age o ser humano apaixonado pelo futebol.
E então, já me perguntaram, o que você faria? Contrataria? Traria? Já citei acima que não me cabe julgá-lo. Mas me cabe analisar o contexto. Ele é um bom técnico? Sim, é. O melhor ou está na prateleira dos melhores? Não, ainda faltam degraus. Está livre para exercer sua profissão? Hoje sim, está.
Em meu conceito o negócio é bom quando é bom para os dois lados; quando estabelece diretrizes claras; quando não deixa nenhuma suspeição para mim ou para o outro lado da negociação. Cerca de 37 anos de obscurantismo forçoso não me deixam ter a certeza de que os itens acima estariam sendo cumpridos.
A resposta é NÃO. Seguindo todo o contexto acima, não o traria. Há um problema mal resolvido. E esse problema não é meu e nem gerado por mim. Nunca teria a certeza de que estaria fazendo a coisa certa. Então por qual motivo trazer o problema para perto?
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