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Brasil abriga planta que usa nova tecnologia para produção de aço verde

14/03/2024
tecnologia

O hidrogênio verde é avaliado como o combustível mais indicado para descarbonizar a produção de aço, eliminando a alimentação dos fornos por combustíveis fósseis. O problema é o custo da nova energia, que pode ser até 40% mais alto do que o carvão mineral ou derivados do petróleo, como o coque. Há, contudo, uma solução nova sendo experimentada.

 

A tecnologia chamada Eletrólise de Óxido Fundido (MOE, na sigla em inglês) foi criada pela Boston Steels, dos Estados Unidos. O método utiliza uma corrente elétrica que gera altas temperaturas para depurar o minério. Com isso, produz ligas metálicas com alto grau de pureza. A energia deve ter origem em fonte limpa (hidrelétrica, eólica ou solar) para que o produto final receba o carimbo verde.

 

Uma planta da Boston Steels entrou em operação no início deste mês na cidade de Coronel Xavier Chaves, em Minas Gerais. A produção em 2024 deve ser de apenas 720 toneladas de metais de alto valor, mas o plano é entregar 10 mil toneladas/ano até 2026.

 

A empresa sustenta que a célula MOE é modular e escalável. Ou seja, para ampliar a capacidade basta adicionar novas células ao processo. A tecnologia pode processar minério puro ou rejeitos com baixos níveis de concentração de metais. A empresa americana conta com investidores como a ArcelorMittal, BHP, Vale, Microsoft e Breakthrough Energy Ventures, um fundo dirigido por Bill Gates para patrocinar soluções de energia sustentável.

 

Aço limpo

A geração direta de calor por corrente elétrica, criada pela Boston, se difere da tecnologia conhecida por “ferro de redução direta” (DRI), alimentada por hidrogênio verde e bastante disseminada no setor de metalurgia e siderurgia. No DRI, o H2 reage com o oxigênio para produzir vapor quente (H2O), aquecer os fornos e separar o minério. O que é igual, nos dois casos, é a eliminação das emissões de carbono. Em relação ao custo, o modelo americano elimina a etapa de produção do hidrogênio verde, que também exige grandes fontes de energia limpa.

 

Dilema da moda (I)

Fabricantes asiáticos fornecem cerca de 70% dos produtos têxteis vendidos na União Europeia (UE). Mas desde que o bloco instituiu regulamentações mais rígidas para o setor, exigindo roupas mais duráveis, compostas principalmente por materiais recicláveis e livres de substâncias perigosas, muitos fabricantes convivem com riscos de perder negócios. A maioria opera no modelo de alta quantidade e baixas margens de lucro para atender gigantes do fast fashion e não tem condições de descarbonizar a linha de produção.

 

Dilema da moda (II)

Índia, Bangladesh, China e o Sudeste Asiático abrigam os maiores fabricantes do vestuário vendido por grandes conglomerados da moda. Por lá, as fábricas são fortemente dependentes de carvão e têm um parque de máquinas ultrapassado e ineficiente. A atualização do processo produtivo naquela parte do planeta é parte de uma conta estimada de US$ 1 trilhão para que o mundo da moda alcance o net zero até 2050. Hoje, o setor têxtil responde por 8% das emissões de gases de efeito estufa e o World Resources Institute (WRI) estima que 96% da pegada de carbono está na cadeia de suprimentos.

 

Regulação do H2v (I)

Na semana passada o Senado deu o primeiro passo na tramitação do projeto de lei que institui o marco legal do hidrogênio verde no Brasil. A matéria aprovada pela Câmara dos Deputados, no final de 2023, terá a relatoria do senador Otto Alencar. A proposta cria a Política Nacional do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono e o Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono (PHBC), além de instituir incentivos para a produção e uso do combustível.

 

Regulação do H2v (II)

A regulação do mercado de hidrogênio verde no Brasil é fundamental para dar segurança jurídica e alavancar investimentos. O País deve ser um dos maiores produtores do mundo e atualmente há vários protocolos de entendimento entre empresas e governos, além da construção de algumas plantas, principalmente no Nordeste. No ano passado a União Europeia se comprometeu a instalar uma indústria de H2v e amônia no Piauí. O bloco conta com 2 bilhões de euros para fomentar a oferta do combustível porque passará a consumir altas quantidades do produto nos próximos anos.

 

H2v da Copel (I)

Em fevereiro, a Copel produziu as primeiras moléculas de hidrogênio renovável em uma estrutura montada em Curitiba. A iniciativa é fruto de uma seleção de startups para criar soluções que atendam os desafios da transição energética. O hidrogênio verde começou a ser produzido, ainda em fase de testes, em parceria com a Solenium, uma empresa colombiana que desenvolve tecnologias para geração, monitoramento e controle energético.

 

H2v da Copel (II)

De acordo com a Copel, a solução da Solenium maximiza a eficiência energética dos módulos fotovoltaicos, tornando a produção de hidrogênio verde de 5% a 10% mais barata em relação a outras tecnologias. A startup estima que no Brasil o custo da produção de H2 renovável ainda é cinco vezes maior que a extração do petróleo. Entre 50% e 70% do custo do hidrogênio renovável é a energia elétrica utilizada.

(Foto: Ant Rozetsky/Unsplash)

 

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