E temos o início dos campeonatos de futebol das séries A e B no Brasil!!
Mais um ano de disputas interessantes. Mais um ano em que veremos revelações de atletas. Mais um ano que veremos consagração de alguns jogadores. Mais um ano em que equipes serão postas à prova. E mais um ano em que muito dinheiro será injetado para fazer do futebol o fenômeno político, cultural, geográfico e econômico que nós conhecemos (e amamos)!
Esses dois campeonatos chegam, em 2024, às suas vigésimas terceiras edições consecutivas e nesse mesmo formato. Já polemizando, digo que não sou defensor do modelo. Digo e mostro os motivos.
O modelo pode até ser o mais justo quando analisado de forma filosófica. Todos jogando contra todos, em jogos de ida e volta, oportunizando as mesmas chances para todos os envolvidos. Mas, quando colocado em prática, está longe de ser assim.
A filosofia é bem construída, mas o abismo técnico e financeiro entre equipes que participam do mesmo torneio é gigantesco. As condições de disputa que são, na filosofia, iguais demonstram-se totalmente desajustadas.
Boa parte dos jogos são entre “Davi e Golias”. Vez ou outra os “Davis” até acertam uma pedrada nos “Golias” e os derrubam. Mas, quando somamos 38 embates entre quem tem mais condições contra os que tem menos condições, certamente o cenário final será positivo para o mais privilegiado. Quem vê diferente disso, faça leitura dos últimos campeões dos torneios (de ambas as séries). Só há campeões que tem melhores condições que os demais. São torneios feitos para apenas alguns poderem ganhar. De 2005 para cá, onde os aportes de recursos ficaram ainda mais intensos, apenas 7 equipes foram campeãs da série A. E eu banco aposta alta que, nesse ano, teremos um desses 7 como campeão novamente.
Outra situação bastante peculiar é que teremos, na série B, talvez o clube brasileiro mais conhecido fora do Brasil. O clube que descobriu o talento e teve quase a totalidade da trajetória de alta performance do melhor jogador de futebol de todos os tempos. Esse clube abrigou o “Rei do Futebol “ por quase duas décadas. Será a primeira vez que isso acontecerá (disputa da série B) e também banco alta aposta que, ao final de 2024, não mais será frequentador desse torneio.
Falando agora de dinheiro, esses serão, sem nenhuma sombra de dúvida, os campeonatos que mais gerarão recursos na história. Os valores que estão sendo aportados são estratosféricos. Os patrocínios nunca chegaram a valores sequer próximos. Os direitos de transmissão tiveram seus valores extremamente majorados.
Disso tenho duas considerações por fazer. A primeira diz respeito ao “ecossistema”. Apesar dos valores serem muito superiores, apenas alguns atores se beneficiarão disso tudo. O valor não será distribuído de forma proporcional para todo o staff.
Agentes inflacionaram demais suas comissões e os salários de atletas. Cientes que o domínio dos atletas está na mão deles e cientes que os clubes não podem ficar sem os atletas, inflaram valores de salários e comissões como nunca visto antes. Ou seja, rodará bem mais dinheiro nos campeonatos desse ano, mas não necessariamente esse dinheiro agregará mais qualidade. O mesmo produto de anos anteriores ficou mais caro!
A segunda diz respeito às casas de apostas. São elas hoje, disparadamente, as maiores patrocinadoras de todas as equipes. Não se compara os valores dos patrocínios normais (de empresas tradicionais) com os valores ofertados pelas “bets”. Tenho convicção que, se o aporte delas é muito acima do normal, a receita que elas esperam obter também é muito fora da curva. Até aí nada de errado. Só espero que o mesmo “ecossistema” falado acima crie mecanismos de proteção para que o jogo seja apenas jogado. Que vença apenas quem tem melhores condições. Não aquele que seja mais interessante.
Sem mais delongas, que os torneios comecem logo. Nada no planeta mistura de forma tão mágica pouca racionalidade, muita emoção e muito dinheiro. Nenhum entretenimento é tão bacana e apaixonante. Que possamos ver ao vivo e também pelas telinhas (de tv, celular, tablets ou computadores) jogos de qualidade. E que, no final do ano, o time de cada um de nós chegue na posição que merece!
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