O nosso amado esporte tem 11 jogadores de cada lado, vestindo uniformes diferentes e buscando chegar no objetivo máximo (o gol) desde 1863. Nesse ano se instituíram as regras e elas são muito próximas às regras que temos hoje em dia. Há registros de jogos anteriores à 1863 com até 17 jogadores. Mas aí eu deixo de lado.
Essa similaridade nos conceitos, que já tem mais de 160 anos, mostra que em quase todas as posições os atletas mantiveram modos semelhantes de atuar. O lateral direito e o esquerdo são peças importantes (mas não vitais) tanto no auxílio à defesa quanto ao ataque. Os zagueiros (direito e esquerdo) são peças fundamentais para consolidar um sistema defensivo confiável. O meio de campo continua com atletas que se destacam mais no auxílio à sua defesa e atletas que são apoio fundamental ao setor de ataque. E o setor de ataque continua similar, com peças que abrem espaço pelos lados (geralmente velozes) e um atleta (geralmente forte e alto) que tem no currículo a habilidade necessária de “guardar” a bola nas redes.
O predicado que mais evoluiu, nesse século e seis décadas, para todas as posições “de linha” foi o condicionamento físico. Não há qualquer margem de comparação física entre os jogadores de tempos passados e os atuais. Os atletas hoje precisam ser atletas na concepção do termo. Senão não acompanham o ritmo dos demais e acabam não sendo usados. No mais, as qualidades técnicas necessárias são parecidas.
Mas será que não esquecemos de ninguém? Esquecemos sim! O goleiro!
E aí está a peça que, disparadamente, mais teve que evoluir no futebol. Atualmente os goleiros possuem uma série de valências que não precisavam ter. E também agregaram algumas características de jogo que antes não tinham.
Hoje o goleiro (notem isso) é um rebatedor nato. Esqueçamos aquelas fantásticas “pontes” que víamos goleiros antigos fazendo e caindo com a bola sob seu domínio. Goleiro agora trata de tirar a bola de perto com um soco, espalmada. Tira o risco dali. Tira a responsabilidade dele acaso tentasse segurar a bola e não tivesse sucesso.
Goleiro nenhum hoje tem menos de 1,90m. Todos precisam ter altura mínima para serem colocados no rol dos goleiros que terão sucesso na carreira. Já é fator de corte em todos processos seletivos de base.
Goleiro precisa saber jogar com os pés. Não há mais espaço para quem não saiba fazer um bom lançamento em média distância e que não saiba sair jogando em sua área com os zagueiros, laterais ou volante. O modelo de jogo atual exige.
Goleiro do século 21 possui agilidade, embaixo das traves, fora de série. Fruto de características físicas já dele mesmo e de muito treinamento (muito mesmo…) focado nas necessidades e desafios do jogo. Os atacantes de décadas atrás sempre “viam um gol enorme e um goleiro pequeno”. Não digo que essa máxima se inverteu por inteiro, mas tenho certeza que o “gol está bem menor do que já foi” para os atacantes. Reflexo apuradíssimo e velocidade na ação são virtudes dos goleiros atuais.
Quem já é mais “antigo” viu nomes fantásticos. Cito aqui uma dúzia pelo menos. Brasileiros e estrangeiros. Ubaldo Fillol, Rodolfo Rodriguez, Carlos, Waldir Peres, Taffarel (que tem 1,80m), Zubizarreta, Pagliuca, Chilavert, Oliver Kahn, Rogério Ceni, Leão, Marcos e por aí vai. Todos ótimos. Todos marcantes em seus clubes ou seleções. Mas todos enfrentariam grandes dificuldades para serem incorporados ao modelo atual que sua posição exige.
Se essas características dos goleiros forem sendo ainda mais melhoradas, muito em breve teremos que fazer um requerimento para que mudem a regra e aumentem o tamanho das traves. Fazer gol está cada vez mais difícil!
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