Um expressivo número de meninos brasileiros sonha em jogar futebol. Sonham em tornar-se craques, ídolos. Participar desse mundo que traz dinheiro, fama e tudo mais.
Mas o número de moleques que conseguem passar nesse “vestibular” é absurdamente pequeno. É ínfimo. Proporcionalmente é um “vestibular” mais disputado que os mais concorridos vestibulares das melhores universidades do país. São muitos milhares disputando pouquíssimas vagas.
E aí partimos para aquilo que sempre buscamos entender melhor aqui em nossas reflexões. Fazer análise financeira que proporcione descobrir qual o melhor caminho para os clubes. Formar ou “comprar semi-pronto”?
Tenho certeza que a maioria, de bate pronto, fala que é mais barato formar. Os custos de construção de um atleta, desde menino, são baixos. Será que é isso mesmo?
Vamos lá. A estrutura atual de categorias de base é muito intensa, muito profissionalizada. Há toda uma cercania de custos envolvida. Lembremos também que beira à totalidade o número de atletas que vem das classes menos favorecidas da população. Auxílio financeiro mensal, auxílio financeiro à família, transporte, alimentação, suplementação, medicina de acompanhamento, odontologia de acompanhamento, fisiologia, fisioterapia, psicologia, escola, alimentação, uniformes de treinamento, etc e etc.
Todos esses itens, quando individualizados, não são caros. Agora, quando multiplicados pelo número de meninos que fazem parte das categorias de base de um clube, passam a ser muito expressivos. O budget de qualquer clube que usa esse caminho para formar atletas ultrapassa vários milhões de reais ano após ano.
E, agregado ao valor financeiro, outras variáveis precisam ser levadas em consideração. Até os 14 anos não há nenhum vínculo entre atleta e clube. Atletas captados em categorias sub 10, por exemplo, podem sair com 13 anos e 364 dias para qualquer outra agremiação. O clube investe 4 anos e, quando chega a hora do vínculo, o potencial atleta migra.
E, na esteira dos exemplos, temos vários. Mesmo após eventual vínculo ter sido formalizado há infinidade de situações que podem levar o atleta a não completar seu ciclo de formação e chegar ao profissional. Empresários com interesses distintos, o atleta não mais performar, o atleta não se desenvolver fisicamente, o atleta não mais querer continuar, o atleta ter uma lesão que comprometa sua performance, o atleta não se adaptar, e por aí vai…
O risco é gigante para quem está formando. O dito “vestibular” é cruel e vários dos “atores” do processo podem atuar contra a instituição que está promovendo a oportunidade. Aos que “passaram” no processo seletivo, inúmeros desafios serão impostos para que consigam chegar ao “dia da formatura”.
Ou seja, o investimento é muito representativo. O tempo de retorno é muito alto. E variáveis que não estão na mão do clube formador interferem diretamente no processo.
Com a experiência vivida nesse mercado, afirmo que (mesmo sabendo que riscos existem) o modelo mais apropriado é o da compra semi-pronta. Traz-se o propenso atleta já perto do final de sua formação. Suas características já estão desenhadas. Vários das situações que dificultam a formação já foram superadas.
Dizer que gosto do processo seria mentira. A formação “romântica” seria sempre a ideal. Formar desde sempre. Conhecer o atleta desde as primeiras saídas da casa da família. Só que temos que lembrar que futebol e dinheiro se confundem. Quanto menos tempo para se conseguir retorno, melhor. Quanto menor a margem de erro para que o retorno aconteça, melhor.
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