Quem acompanha futebol, nas últimas quatro décadas, nota um acréscimo gigante no contingente de gringos que atuam no futebol brasileiro.
Se voltarmos aos anos 80, lembraremos até os nomes e as características físicas e técnicas de todos os jogadores de outros países que atuavam por aqui. Isso é possível pois a quantidade era muito pequena.
Agora façamos rápida análise nos esquadrões que disputam das séries A e B do campeonato brasileiro. Todas as equipes têm 3, 4, 5…9 atletas vindos de outros países. Como tornou-se um procedimento comum, nem se dá muita atenção ao fato. Confesso que até já vi jogador atuando e eu nem sequer sabia que era de fora do Brasil.
Mas qual a razão para isso acontecer? Qual o motivo da invasão? A qualidade técnica deles é superior à qualidade dos nossos atletas? O aspecto físico ou mental deles é mais privilegiado? Nada disso!
O fator qualidade é bastante nivelado (eu diria que numa faixa mediana, com jogadores nota 7 no máximo). A capacidade física de nossos atletas não deixa nada por dever aos de outra parte do mundo. O fator psicológico – por questões culturais – por vezes é até melhor em atletas que vêm de outras culturas, mas isso não chega a diferenciá-los estratosfericamente quando comparados aos nossos.
E vamos, novamente, ao tema que tratamos em quase todas as colunas. Futebol e dinheiro se confundem! Tem-se que ter o melhor resultado com o menor orçamento. Chegar mais à frente, em cada torneio que se disputa, gastando o mínimo possível.
A rubrica mais pesada nessa equação diz respeito ao processo de se trazer atletas e mantê-los (salário e direito de imagem). E aí está o motivo. Só temos essa grande quantidade de atletas estrangeiros pois eles têm características muito próximas às dos nossos atletas, contudo, com um diferencial competitivo gigante: são mais baratos!
Mesmo que todos os valores de aquisição de atletas, da intermediação dos empresários, de salários e direitos de imagem dos jogadores sejam precificados em dólar, o montante final das negociações é inferior ao valor praticado no mercado brasileiro.
Não é difícil adquirir um atleta vindo de fora do Brasil, de razoável nível técnico, com custas totais de 500 mil dólares e proventos na casa de 25 mil dólares. Traduzindo em reais, a negociação ficaria em torno de 2,5 milhões e o salário em torno de 125 mil.
O mercado brasileiro é extremamente inflacionado. Os empresários precificam seus produtos (atletas) em patamares absurdos. Pedem salários astronômicos pois, invariavelmente, ficam com percentual dos salários para administrarem a carreira do jogador.
O fator moeda desvalorizada (acreditem, temos moedas que tem poder de compra menor que a nossa) e as condições político-sociais (acreditem de novo, há países em condições piores que as nossas), fazem com que atleta e empresário facilitem a vinda para o Brasil.
Essa é uma tendência que não deve ser breve. Por muito tempo veremos inúmeros jogadores nota 6.5 ou 7 desfilando pelos nossos gramados.
Meu sonho e minha torcida é que o Brasil reúna condições de trazer também os gringos nota 8.5, 9 ou 9.5. Esses são os atletas que desfilam pela Europa. Se as condições que foram citadas fazem o Brasil ser um mercado atrativo, imagina-se o quanto os atletas (principalmente sul-americanos) custam pouco aos clubes europeus. Esses são dotados de orçamentos muito maiores e possuem moeda muito mais forte e valorizada.
Sonhar não custa. Mas ainda demoraremos a ver atletas estrangeiros em auge de carreira (nota 8 ou mais) disputando o Brasileirão. Por enquanto nos acostumemos com a invasão dos que já estamos habituados a ver.
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