Os escritores sabem o quanto lhes custa enfrentar sessões de autógrafos. No meu caso, fico preocupado com o desconforto das pessoas na fila, em dar atenção aos que comparecem e, o mais sensível dos problemas, o nome de cada pessoa.
É verdade que o post it preenchido pelo responsável pela venda e entrega dos livros, pode resolver. Mas o que acontece quando o convidado dispensa essa medida, alegando que o autor o conhece de sobra? É vexame na certa.
Certa vez esqueci o nome de um jornalista muito amigo. Ele tentou ajudar: Paulo Assunção. Saí da enrascada com uma mentira:
– Isso eu sei. Só não lembro se o Assunção tem “p” no meio.
Pois no sábado, 18 de março, encarei uma sessão de autógrafos no bar Ao Distinto Cavalheiro, para lançamento do livro de crônicas Pequenas Aberrações de um Sujeito Quase Normal, coletânea de textos publicados aqui no portal. Foi um evento agradável, com umas 100 pessoas circulando, tomando seu chopinho e degustando a ótima feijoada da casa.
Eis que vejo na fila um advogado que imaginei ser José Afonso Dallegrave Neto. Quando me estendeu o livro, não tive dúvidas, lancei um “Ao caro amigo Dallegrave…”. Ele saiu. Passada uma hora, quem observo na fila? O amigo Dallegrave.
Aí caiu a ficha. Eu o havia confundido com o também advogado Marco Aurélio Guimarães, outro amigo. Mal-estar completo. A primeira medida curativa veio do verdadeiro Dallegrave:
– Autografa este exemplar para o Marquinho que eu troco com ele.
Assim fiz, mas para mim o problema não estava resolvido. Marcamos, então, um encontro na semana passada para desfazer o equívoco. Levei exemplares de dois outros livros meus, como “indenização” pelo equívoco e tomamos um bom café.
Para tentar justificar a confusão, devo esclarecer que ambos são advogados trabalhistas. Há pouco mais de um mês, em sessões distintas, entrevistei-os para o Projeto Memória do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região. Os dois são professores universitários, lecionando Direito do Trabalho. E têm quase a mesma idade.
O detalhe mais interessante descobri durante o café. Marco Aurélio tem um irmão gêmeo. Dallegrave Neto é gêmeo de uma irmã. Como cereja deste bolo geminado, contei que meus dois irmãos mais moços são gêmeos – e inclusive estiveram presentes ao lançamento.
Pronto, ficou explicada a bagunça. A profusão de gêmeos foi a causa da confusão. Não importa que eu desconhecesse tamanha gemelitude.
Gêmeos são pessoas diferenciadas, capazes até de confundir a mente de um pobre escritor carente de irmão uterino.
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1 Comentário
Um belo texto, só possível quando quem conta um fato, é um mestre da crônica. Parabéns, Ernani, ao longo de muitos anos não deixo de ler seus textos. Parabéns e abraços!