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Sorrir ou não sorrir? Eis a questão!

26/07/2024

“Sorria!” é algo que ouvimos quase automaticamente ao nos prepararmos para uma foto. No mundo de hoje, sorrir virou um gesto quase obrigatório quando estamos diante de uma câmera ou ao sermos convidados para uma selfie. É um reflexo natural, instintivo, que surge ao ver uma lente se voltando para nós.

Entretanto, nem sempre foi assim. Durante grande parte da história, o sorriso não era uma expressão comum em retratos, sejam eles pinturas ou fotografias antigas. Mas por quê?

Uma questão de vaidade?

Uma das teorias que explicam a ausência de sorrisos nas obras antigas envolve a vaidade. Nos séculos passados, a higiene dental deixava muito a desejar, e as pessoas preferiam esconder seus dentes mal cuidados mantendo os lábios fechados. Porém, isso não explica tudo. O mau estado dos dentes era algo tão comum na sociedade que não provocava a timidez dos retratados ou a relutância dos pintores. A questão é mais profunda do que simplesmente esconder imperfeições.

A energia dos sorrisos

Hoje, tirar uma foto é questão de segundos, mas imagine manter um sorriso durante longas sessões de pintura. Posar para um pintor demandava tempo e paciência, e um sorriso tornava-se insustentável. Assim, um rosto sério era uma escolha prática para evitar desconforto. Seria impossível manter um sorriso sincero, já que é uma reação pontual e passageira, que vai tão rápido como veio.

Sorrir: um ato subversivo?

Além do aspecto prático, havia uma dimensão social. Sorrisos eram raros e, por isso, considerados radicais e indecorosos. Em um retrato, que deveria refletir a dignidade e a posição social do retratado, um sorriso era visto como inadequado. O pintor renascentista Antonello da Messina, por exemplo, ousou incluir sorrisos em suas obras, como em seu “Retrato de um jovem” de 1470, anterior ao famoso sorriso enigmático da Mona Lisa de Da Vinci.

No século XVIII, na Europa, sorrir mostrando os dentes era associado às classes mais baixas e a comportamentos indesejáveis. Somente alguns artistas, principalmente os holandeses como Jan Steen e Franz Hals, retrataram sorrisos amplos e naturais, refletindo seu interesse pelo cotidiano das classes populares.

A chegada da fotografia

Com o advento da fotografia, a seriedade dos retratos pictóricos foi mantida. Os longos tempos de exposição tornavam difícil sustentar um sorriso natural. Além disso, a influência das artes visuais e os padrões sociais da época continuaram a favorecer expressões sérias.

Outro ponto em comum entre fotografia e pintura é a importância que essas imagens tinham para os retratados. Uma foto era uma oportunidade rara e significativa de se eternizar. Ao contrário de hoje, onde temos centenas de fotos digitais e podemos escolher a melhor, antigamente uma imagem era definitiva. Mark Twain, em uma carta ao Sacramento Daily Union, destacou: “Uma fotografia é um documento muito importante, e não há nada mais condenável para a posteridade do que um sorriso tolo capturado e fixado para sempre.”

Hoje, o sorriso é parte essencial das nossas memórias visuais, mas a história nos mostra que, por muito tempo, manter a seriedade era a norma. Afinal, um retrato sério dizia mais sobre a dignidade e a importância de uma pessoa do que um simples sorriso poderia transmitir.

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