“Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela menina
Que vem e que passa
Num doce balanço
A caminho do mar.”
De Vinícius de Moraes, esses versos foram eternizados pelo público que viveu Ipanema. Uma geração que cantou, ao som do violão, as músicas de Tom Jobim. A beleza e a graça da mulher têm sido cantadas, escritas, pintadas e esculpidas por séculos, fruto da admiração e das paixões dos artistas, que não cabendo mais em si, deixaram derramar, em forma de arte, seus sentimentos.
Talvez sejamos apaixonados pela beleza em si, pela harmonia das formas, pelas proporções, ou pelas linhas sinuosas que nos entram pelos olhos e atingem a alma. Psicólogos, físicos e outros estudiosos acreditam que o equilíbrio é o destino das ações e movimentos, tanto na vida do homem como do próprio universo e que, em uma explicação simples, dizem ser o resultado de forças de igual resistência que puxam em direções opostas.
O movimento busca o repouso, a solução das tensões. Na música, as frases musicais seguem em movimentos lentos ou mais agitados, ascendentes ou descendentes, na busca de uma conclusão. É como se as notas, das quais são formadas essas frases, seguissem brincando pelos pentagramas, como que num “pega-pega”, por um determinado tempo, até se encontrarem no “pique”, que seria o acorde final, momento em que descansariam, chegando ao repouso, como se concluíssem uma busca.
O estado de equilíbrio e descanso causam prazer, assim como a beleza. Muitos têm sido os caminhos para desvendar os segredos da beleza que, como um peixe escorregadio, nos escapam das mãos, em cada tempo. Desde o ideal, representado pelos deuses gregos com suas qualidades invejáveis e nada humanas, passando pela busca da harmonia, no Renascimento, com seus símbolos religiosos e estéticos, até os dias de hoje. Atualmente, muitas vezes os museus, com suas obras consagradas, dão lugar às páginas da internet, onde se sucedem, diariamente, imagens de corpos malhados nas academias e rostos construídos nas mesas de cirurgia plástica, em frenética busca de exposição e adequação aos conceitos de beleza ditados pelo momento.
Vivemos em constante movimento e transformação em busca da tão desejada estabilidade, mesmo que temporária. Talvez por isso mesmo, pela impermanência e fragilidade das conquistas, vivamos tão intensamente em busca do equilíbrio, seja ele de que tipo for, tentando agarrar e tornar perenes a beleza e a ilusão de permanência que tanto almejamos.
“Ah, se ela soubesse
Que quando ela passa
O mundo inteirinho se enche de graça
fica mais lindo
Por causa do amor”
(“Garota de Ipanema”, de Vinicius de Mores e Tom Jobim)
(Imagem de abertura: “Nu na Paisagem”- Pierre-Auguste Renoir, (1887). Óleo sobre tela ( 21×31,7cm ). Princenton University Art Museum.)
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1 Comentário
Ah … A beleza! Ela não é relativa, há critérios, regras, medidas… Mas a busca pela perfeição pode ser desastrosa. E mais, um pouquinho de imperfeições pode trazer um certo charme 💞