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ARTIGO

A Família Folhas de Curitiba e a sua real importância

03/10/2022

Por Marcos Traad

 

Uma excelente estratégia em atividades de educação e orientação sobre temas específicos pode ser a criação de personagens que se identifiquem com o público-alvo, para promover mudanças comportamentais com vistas à plena cidadania. Na Educação Ambiental, a abordagem lúdica possibilita, principalmente para o público mais jovem, a formação conceitual pretendida. Mas, para que haja efetividade, as atividades devem ter caráter permanente e não temporário ou pontual.

Fato marcante no processo de Educação Ambiental continuada em Curitiba, foi a criação da Família Folhas, de autoria do grande cartunista Ziraldo, na década de 1990. Tal atitude, do então Prefeito Jaime Lerner, teve enorme repercussão na cidade e no país. Havia sido lançado um grande desafio para todos os cidadãos, principalmente quanto à necessidade de separação dos resíduos domésticos, que deu início às condutas para a reciclagem, por meio da campanha: “Lixo que não é lixo, não vai para o lixo, SE-PA-RE”.

Escolas, condomínios residenciais, atividades diversas nos parques e na cidade eram sempre animadas por aquela simpática família, composta por um casal com dois filhos, um menino e uma menina.

A consciência coletiva em relação ao cuidado com que devemos tratar o meio ambiente avançou muito em Curitiba. Como resultado, a cidade se destaca no mundo como referência em vários aspectos. Temos cerca de 60 m² de área verde por habitante, 44 parques e bosques (prestes a chegar a 45, com o novo parque Pinhal de Santana), além de sermos a capital com o maior número de Reservas Particulares do Patrimônio Natural Municipal (RPPNM) do Brasil.

A separação do “lixo” tem também um caráter social importante, com cerca de 900 famílias diretamente envolvidas no processo, devidamente amparadas pelo poder público municipal, em associação à busca do maior respeito ambiental.

O sistema de arborização das vias públicas possui cerca de 330 mil árvores plantadas, além de um trabalho exemplar em relação à fauna doméstica e silvestre, através da Rede de Proteção Animal. A preocupação com a qualidade dos cursos d’água, com projetos que envolvem a comunidade de forma geral é referencial.

Continuamos, no entanto, a ter grandes desafios em função do crescimento urbano que, mesmo com um regramento rigoroso, muitas vezes foge ao monitoramento da prefeitura e que, depende de um processo contínuo de vigília.

Por longo período, a campanha da Família Folhas ficou esquecida e sempre houve cobranças pelo seu retorno pela população e por servidores das Secretarias do Meio Ambiente e da Educação, as principais pastas que atuam mais diretamente no processo de conscientização dos munícipes.

Com a recente criação da Escola de Sustentabilidade de Curitiba, lançada pelo Prefeito Rafael Greca, a Família Folhas ressurge com o mesmo entusiasmo. No entanto, com novos integrantes, e a sua formação atualizada ao nosso tempo, tanto pelos novos desafios ambientais e sociais a serem encarados, quanto na composição, mais adequada ao perfil familiar atual. São agora sete integrantes. Seu Folha e Dona Fofo, o casal original, pais de Fefo e Flora, agora, têm “três netos”. Fifo é solteiro e tem um cão como companheiro, o Folheco. Flora, mãe solo de Fófis (menina PcD, com uma prótese na perna) e de Fefo.

O tempo é inexorável e, com ele, a sociedade vai se modificando. Tanto os problemas quanto a busca por soluções são dinâmicos. Como exemplo, o Folheco, um cãozinho adorável, conclama os cidadãos a entenderem o seu papel como tutores de animais de companhia e trata da gravidade da situação de abandono e dos maus tratos, de forma geral.

O mesmo ocorre com os temas atuais que estão em evidência e que precisam também de uma abordagem incisiva. Mudanças climáticas, fontes de energias renováveis, consumo consciente, compostagem, plantio de árvores, separação do “lixo”, entre outros, são apresentados de forma interativa com a comunidade.

Esperemos que a Família Folhas continue sendo um referencial importante para a educação ambiental na cidade de Curitiba e que, independentemente de quem seja o administrador da cidade, ela seja o meio pelo qual os “Curitibinhas”, carinhosamente assim tratados pelo Prefeito Greca, sejam exemplos para um país mais racional e justo com o meio ambiente.


MARCOS TRAAD é graduado em Zootecnia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Mestre e Doutor pela Universidade Federal do Paraná. Foi Pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná e Professor Titular da PUCPR.

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