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‘A Fonte da Juventude’, com Natalie Portman e John Krasinski, é ação com filosofia; leia entrevistas

20/05/2025

estadão

O diretor Guy Richie não deu muito sossego para os atores Natalie Portman e John Krasinski durante os bastidores do filme A Fonte da Juventude. Não era exatamente por conta das cenas de ação complexas ou das gravações em locações grandiosas, mas sim porque o cineasta não conseguia evitar o desejo de discutir a filosofia por trás do que estavam filmando.

O longa-metragem, que chega à Apple TV+ na sexta-feira, 23, acompanha Charlotte (Natalie) e Luke (Krasinski), irmãos distanciados que se reúnem em uma missão ao redor do mundo para descobrir a localização de uma lendária fonte da juventude, um lugar secreto escondido por uma conspiração que já dura milênios.

A empreitada é financiada por Owen Carver (interpretado por Domhnall Gleeson, de Questão de Tempo), um bilionário que busca a ajuda de Luke e sua equipe porque quer ser curado de um câncer. A questão é que, em meio à busca, nenhum deles sabe o que realmente será esse lugar que supostamente oferece a vida eterna.

“Nós nos encontrávamos no trailer [do Guy] para falar sobre o trabalho do dia, mas ele sempre queria filosofar e falar sobre a ideia maior da jornada e do prêmio e o que é a fonte da juventude. O que você espera que ela seja? O que você gostaria que fosse?”, lembra Krasinski ao Estadão, durante uma roda de conversa com veículos internacionais.

A trama nasceu inspirada por um mito que realmente existe e aparece em escritos datados desde o século 5 a.C. O historiador grego Heródoto foi o primeiro a falar de um povo do Chifre da África que viveria por mais tempo por beber a água da tal fonte. Ao longo dos séculos, encontrar o local mágico foi objetivo de diversos exploradores; até Alexandre, o Grande, que governou a Macedônia, é citado como um deles.

Luke, o personagem de Krasinski – conhecido por séries como The Office e Jack Ryan -, é um explorador moderno, uma espécie de bon-vivant clássico de filmes de ação. Ele quer continuar o caminho do pai, que também era um explorador famoso cujo lema era a frase “o prêmio é a jornada”.

Esse estilo de vida é confrontado pelo de Charlotte, personagem de Natalie, que há muitos anos desistiu da vida de exploradora e agora trabalha como curadora em uma galeria de artes de Londres. Para Krasinski, era um ponto forte do roteiro a forma como o filme faz o espectador refletir sobre como conduz a própria vida.

“O que há em sua vida que o faz feliz? E há coisas que você pode fazer agora que o deixariam mais feliz? Ou o que você quer mudar e melhorar? Achei isso muito interessante. [O filme] realmente lhe dá esse senso de si mesmo e essa ideia dos poderes que você tem para ser o que quiser. Eu achei isso ótimo”, diz.

Natalie concorda com o colega: “Há algo quase limitante em viver apenas um caminho. E você sempre pensa: e se eu seguisse caminhos diferentes ou se eu pudesse voltar a ser jovem e tentar algo diferente?” Ela brinca que o bom de ser atriz é poder fugir um pouco disso: “Talvez seja o que mais se aproxima de ter várias vidas.”

Trabalhando juntos pela primeira vez, Natalie e Krasinski precisaram desenvolver essa relação de muita tensão e, ao mesmo tempo, cumplicidade entre dois irmãos que não veem mais o mundo da mesma forma. “Acho que o relacionamento entre um irmão e uma irmã é muito raro de se ver no centro desse tipo de filme”, aponta a atriz.

“Uma das razões pelas quais eu estava tão animada para interpretar esse papel é que sempre sonhei em ter um irmão, já que sou filha única. Pude colocar anos de imaginação para trabalhar no filme. E adoro o fato de que, ao procurar a fonte da juventude, eles são acompanhados pela pessoa que os conhece desde que eram crianças”, completa.

Ao redor do mundo

A Fonte da Juventude é a nova empreitada de Guy Richie no streaming depois de sucessos como Guerra Sem Regras (Prime Video) e Magnatas do Crime (Netflix). O diretor ficou famoso por filmes de ação com comédia como Snatch – Porcos e Diamantes e Sherlock Holmes, mas com o novo trabalho faz um resgate a alguns filmes de aventura clássicos, como Indiana Jones e A Múmia.

Eiza González, atriz mexicana que integra o elenco como Esmé, diz que se inspirou bastante em Lara Croft (interpretada por Angelina Jolie na franquia Tomb Raider) para construir sua personagem, uma espécie de guardiã que entra no caminho de Luke e Charlotte por razões que só ficam claras no final do filme.

Eiza González, John Krasinski e Natalie Portman estrelam ‘A Fonte da Juventude’, que teve filmagens em pirâmides no Egito. Foto: Apple TV+/Divulgação

Ela lembra que algumas de suas cenas de ação foram desafiadoras por conta das condições durante as gravações. A produção percorreu locações impressionantes ao redor do mundo, como Bangkok, na Tailândia, que abrigou a frenética cena de abertura, e as pirâmides próximas a Cairo, no Egito, onde a equipe passou cerca de duas semanas.

“Às vezes, assistimos a filmes e não pensamos no clima, nas condições ou em nada ao redor [dos atores]”, diz. “Em Cairo, tudo era feito ao ar livre, sob o sol, e Guy tinha uma coisa específica em que queria que eu ficasse completamente coberta, como em uma performance no estilo ninja.”

Por outro lado, para Natalie, o ambiente ajudou de outra maneira: “As pirâmides são tão misteriosas. Quando você está lá, você realmente pensa: como eles construíram isso há centenas de anos? Isso definitivamente contribuiu para o mistério e a admiração do que estamos explorando no filme”.

Krasinski completa: “Eu não conseguia acreditar que eles nos deixaram chegar tão perto das pirâmides, muito menos que entramos em uma delas em um determinado momento.”

Temas atuais

Eiza, que já está em sua terceira colaboração com Guy Richie, com uma quarta no horizonte, diz que A Fonte da Juventude faz uma homenagem ao tipo de filme de ação que fazia muito sucesso no início dos anos 1990, “mas, ao mesmo tempo, é bastante atual e aborda de forma estranha assuntos que parecem muito oportunos no momento.”

“Será que estamos valorizando o que já temos? Bilionários [estão] tentando ir à lua. Há tantas coisas acontecendo simultaneamente que acho que as pessoas vão achar um pouco assustador, mas o filme continua sendo atemporal, no sentido de que poderia se passar em 2050 e você ainda poderia se identificar com ele”, explica a atriz.

atalie Portman, John Krasinski, Domhnall Gleeson, Carmen Ejogo e Laz Alonsem em cena de ‘A Fonte da Juventude’. Foto: Apple TV+/Divulgação

Esses bilionários estilo Elon Musk e Jeff Bezos são emulados em Owen, o personagem de Domhnall Gleeson, apesar de o intérprete afirmar não ter se inspirado em nenhum magnata da vida real em sua preparação. Para os atores, a fonte da juventude também pode ser uma metáfora para como a tecnologia tem avançado para ampliar a longevidade dos seres humanos.

“Nossos corpos não foram feitos para durar 90 anos, na verdade, e agora eles duram. Não acho que ‘para sempre’ seja uma boa ideia para qualquer coisa”, diz Gleeson. Natalie Portman lembra também o papel que a inteligência artificial tem nisso, conseguindo rejuvenescer atores como Harrison Ford, em Indiana Jones e o Chamado do Destino, e Tom Hanks, em Aqui. “A IA é uma espécie de fonte da juventude”, diz ela.

Eiza aponta que o avanço da tecnologia é fascinante e assustador ao mesmo tempo. “Sinto que nossas mentes sempre lutarão contra esse conceito de ter a oportunidade [do avanço], mas, ao mesmo tempo, estamos perdendo o valor desses anos, porque queremos adicionar 10 ou 20 ou o que quer que seja.”

“Digo tudo isso porque acho que esse filme dará início a essa conversa. Depois, levará a mais conversas sobre o que está sendo alcançado nos dias de hoje. Isso é interessante. Qualquer filme que possa entretê-lo e, ao mesmo tempo, educá-lo de alguma forma é sempre um bom filme, na minha opinião”, completa.

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