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A Guerra na Ucrânia e seus resultados

09/03/2022

Por Dennison de Oliveira – 

 

A guerra desfechada pela Rússia contra a Ucrânia chega ao final da sua segunda semana de duração com muita especulação em relação aos seus possíveis resultados. Mas também segue em vigência alguns consensos no que se refere à situação estratégica na qual decorre o conflito. É importante examinar o contexto estratégico a fim de entender os possíveis desfechos da guerra.

 

Uma simples olhada no mapa revela as imensas desvantagens de ordem estratégica contra as quais a Ucrânia tem que lutar. Destas a pior de todas é, sem dúvida, o fato de ser atacada praticamente de todos os lados. Do Norte avançam tropas russas que havia previamente ao conflito tomado posição ofensiva na aliada República de Belarus. Trata-se da linha de frente mais perigosa de todas para os ucranianos, dada a proximidade da capital Kiev. Do Oeste partem ataques provindos das províncias separatistas de maioria russa de Donetsk e Luhansk, enquanto que do sul a ofensiva é conduzida a partir da Península da Criméia a qual já havia sido anexada pela Rússia em 2014. Ao tomar posse da Península da Criméia a Rússia estabeleceu o controle sobre os acessos aos maiores portos da Ucrânia. Espera-se para breve a tomada pela Rússia também do porto de Odessa, liquidando assim de forma definitiva com o acesso da Ucrânia ao mar. Assim, a Ucrânia só não está sendo atacada por terra pelo lado Oeste, onde faz fronteira com a Romênia, Hungria, Eslováquia e Polônia – todos países membros da OTAN. A também vizinha Moldávia tem um extenso enclave russo. Mas é duvidoso, por razões de ordem política e diplomática, que seja possível usar de tal proximidade para obter qualquer ajuda efetiva a tempo por parte de europeus ou americanos.

 

Além das imensas desvantagens da luta em terra a Ucrânia também tem que lutar sob total controle do espaço aéreo pelos russos. De fato, os primeiros dos mais de 600 disparos de mísseis de cruzeiro russos contra alvos ucranianos miravam a infraestrutura de defesa aérea e de manutenção da força aérea daquele país. Foram destruídas todas as estações de radar, posições de artilharia antiaérea e bases de operações das aeronaves militares ucranianas. Também cabe destacar a total inferioridade ucraniana nas capacidades de guerra cibernética. A intervenção militar russa na Criméia em 2014 já foi uma inequívoca manifestação da sua capacidade de invadir e interferir no funcionamento das redes de comunicação ucranianas. Os russos foram capazes de interferir ou até desligar os serviços de eletricidade, abastecimento de água, telefonia e internet ucranianas, bem como invadir o site oficial de divulgação dos resultados eleitorais para falsamente informar que o seu candidato, de orientação abertamente russófila, havia ganhado as eleições então em apuração. Finalmente, cabe mencionar a esmagadora superioridade numérica das forças armadas russas em todos os quesitos taticamente relevantes, em terra, mar e ar.

 

Diante desta situação estratégica desesperadora é óbvio que a Ucrânia não pode ganhar a guerra e nem sequer será possível sustentá-la por muito mais tempo. Cabe então especular sobre seus resultados possíveis.

 

O primeiro e mais óbvio é que a Rússia imponha suas condições e a Ucrânia reconheça as anexações territoriais russas e se comprometa a adotar uma permanente neutralidade, aos moldes do que foi imposto à Finlândia desde 1940. Pode ocorrer também o desfecho contrário, com os ucranianos recusando a rendição e adotando táticas de resistência à ocupação russa. Nesse caso, duas modalidades são possíveis, a resistência armada (aos moldes do que foi feito contra a ocupação nazista entre 1941 e 1945) ou pacifica (como a Tchecoslováquia desenvolveu em 1968 contra a invasão russa e seus aliados do Pacto de Varsóvia). Tanto num caso como no outro seguirá vigente o estado de guerra em todo país, com as consequentes privações e mortes a serem impostas à população civil.

 

O desfecho da guerra implica na condição em que um dos oponentes é capaz de impor sua vontade ao outro. No processo, a capacidade de manter a hierarquia e a disciplina de suas próprias tropas é uma condição indispensável. É impossível se estimar como os resultados da guerra poderão ser impactados pelo comportamento das milícias paramilitares, mantidas tanto por russos quanto por ucranianos, as quais podem vir a atuar conforme seus interesses particulares.
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Dennison de Oliveira é professor de História na UFPR, autor do livro História Contemporânea (IESDE,2007)

1 Comentário

  • Falta vergonha e coerência nessa mídia de interesses como vocês, porque não falam a verdade de quem realmente provocou essa guerra! Todos sabemos que a OTAN e ONU, estão por traz desse conflito podre, na qual quebraram a cara com a resistência russa, e agora querem fazer do Putin o patinho feio da história! VERGONHA.

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