Vai mal a Educação Pública do Estado do Paraná. Permanecem intocados antigos problemas como a inexistência da dedicação exclusiva do professor a uma única escola, abandono das políticas de formação continuada, defasagem salarial dos profissionais da educação e abuso do recurso à contratos de trabalho precarizados como são os condenáveis Processos Seletivos Simplificados (PSS), só para citar alguns.
O contexto recente trouxe desafios ainda maiores como a necessidade de se recuperar conteúdos prejudicados ou inteiramente perdidos pelo prolongado recurso à educação no modo remoto durante a pandemia da Covid além de uma caótica, irracional e inaplicável reforma do Novo Ensino Médio cuja revogação imediata aparece como única alternativa plausível. Vexames históricos como o do Paraná recordista em número de analfabetos também seguem sem solução. Contudo, pode-se pensar a reversão de tão funesto quadro a partir do potencial estratégico do Parque da Ciência Newton Freire Maia em definir o futuro da Educação no Paraná.
Inaugurado em 2003 o Parque da Ciência Newton Freire Maia se constituiu desde então em uma instituição modelar dedicada a divulgação e popularização da ciência. Seus impressionantes espaços de interação com o público se dividem em cinco pavilhões de grandes proporções voltados a temas de pesquisa em diferentes ramos do conhecimento: cidade, energia, água e terra. Nestes espaços os visitantes interagem com uma equipe de profissionais que fazem a mediação com diferentes recursos didático-pedagógicos destinados ao ensino e divulgação da ciência.
O principal atrativo do Parque da Ciência é o caráter laboratorial das atividades ali oferecidas. Os conteúdos de diferentes disciplinas como a química, física, astronomia, geologia, meio-ambiente etc. são tratados em espaços projetados e construídos especificamente para tais funções. Diversos recursos como laboratórios, maquetes, mídia audiovisual, ambientação, cartografia, simuladores, demonstrações de softwares etc. proporcionam aos visitantes de diferentes faixas etárias uma experiência ao mesmo tempo lúdica e educacional. Dentre os visitantes mais engajados em tais atividades se destacam as crianças e adolescentes em idade escolar, motivados pelo fascínio que desperta a participação ativa em experiências concretas de um saber científico que, até então, só conheciam de forma teórica e abstrata, às vezes empregando aplicativos de celular de utilidade duvidosa (eufemisticamente chamados de “plataformas”) desenvolvidos por empresas privadas para o Governo do Estado.
Além da excelência das instalações o sucesso do Parque se deve ao trabalho dedicado, inspirado e competente de seus profissionais. Equipes de professores capacitados, criativos e experientes propõe e realizam diferentes experimentos dedicados a demonstrar aos visitantes as interfaces entre o conhecimento científico e a realidade vivida cotidianamente.
É impressionante o efeito que exercem sobre o público. Para além da divulgação e popularização da ciência em geral, as atividades ali desenvolvidas têm evidente utilidade para a compreensão, complementação e aprofundamento dos conteúdos escolares. Provavelmente também servem para despertar vocações para a carreira científica – embora inexista no Brasil a profissão de cientista.
Nestes termos o Parque da Ciência Newton Freire Maia pode ser entendido como uma ilha de excelência num mar de escolas públicas onde predominam a mediocridade dos recursos didático-pedagógicos e o desestímulo e a desvalorização da carreira docente. A metáfora da ilha deve ser tomada de forma literal. Embora esteja formalmente subordinado à Secretaria de Estado da Educação do Paraná o Parque não exerce qualquer autoridade ou influência sobre os currículos e métodos de ensino e aprendizagem da educação pública estadual, o que é paradoxal.
Para aqueles que visitam o Parque o encanto que suas atividades despertam leva à conclusão de que esta é a forma correta de se ensinar ciências. O enfado, monotonia e decepção geralmente associados à frequência às aulas de diferentes ciências na educação formal, puramente teóricas e geralmente abstratas, são desafiados e superados nas atividades laboratoriais mediadas pelos profissionais do Parque.
O que se pode concluir é que o Parque da Ciência Newton Freire Maia não pode e nem deve seguir sendo mera ilha de excelência isolada e desconectada do sistema estadual de ensino público do Paraná. Pelo contrário, o Parque tem que ser convertido o mais rapidamente possível em instância de definição e estabelecimento de padrões de métodos e técnicas de ensino e aprendizagem em todos os ramos do conhecimento a serem seguidos e adotados em todas as escolas do Paraná, a começar pelas mantidas pelo Governo do Estado. O que se propõe aqui é que todas as escolas estaduais disponham de espaços, recursos e equipes como os do Parque da Ciência Newton Freire Maia. Quanto mais cedo começar este processo tanto melhor para o futuro da Educação do Paraná.
Dennison de Oliveira é professor de história na UFPR e autor do livro “Professor-pesquisador em educação histórica” (Intersaberes, 2012) para adquirir clique aqui.
Leia outras colunas do Dennison de Oliveira aqui.
1 Comentário
Ótima matéria, muito importante divulgar uma instituição de excelência em qualquer área, tanto mais na educação. Parabéns