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28/04/2024



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A indústria do rock curitibano

 A indústria do rock curitibano

Na semana passada, participei de uma reunião do Coletivo da Cultura sobre assuntos pertinentes à cena Cultural do Estado do Paraná e às novas leis de incentivo que preveem repasses financeiros nos próximos cinco anos ao setor cultural: Lei Paulo Gustavo com R$ 3,8 bilhões e Lei Aldir Blanc com R$ 3 bilhões. O Coletivo da Cultura é, a princípio, uma candidatura coletiva à Assembleia Legislativa do Paraná encabeçada por Ângelo Stroparo – ex Diretor de Cultura da Prefeitura de Piraquara e Presidente do Conselho de Políticas Culturais. Também participam desta candidatura nomes da Cultura paranaense como Getulio Guerra, produtor cultural e ex Coordenador de Ações Culturais da Fundação Cultural de Curitiba, e Vlad Urban, produtor cultural e músico.

Na reunião estavam diversos representantes da cena de rock de Curitiba, com destaque para o heavy metal, e fiquei simplesmente embasbacado em ouvir as histórias de sucesso de caras que, até então, eram totalmente desconhecidas para mim.

Um deles era Sergio Mazul, sócio-proprietário do Blood Rock Bar, Vocalista/Compositor/Membro-Fundador da banda Semblant e Co-Autor/Escritor da graphic novel Semblant: Blood Chronicles (Darkside Books).

Um dos grandes nomes do metal brasileiro na atualidade, a banda curitibana Semblant está em plena consolidação de sua carreira internacional. Acabam de voltar de uma excursão de 22 shows pela Europa como banda headliner para o lançamento de seu quarto álbum: “Vermilion Eclipse”. A Semblant teve os seus dois primeiros discos lançados por selos nacionais, o primeiro “Last Night of Mortality”, de 2010, e o seu sucessor “Lunar Manifesto”, de 2014. Foi com “Lunar Manifesto” que a banda começou mostrar de vez a sua face para a cena mundial do metal. O single “What Lies Ahead” já passa de 35 milhões de visualizações no Youtube, uma marca gigantesca que ultrapassa nomes já consagrados da cena rock/metal mundial.

Isso chamou a atenção de uma das grandes gravadoras desta cena, a italiana Frontiers Music. No final de 2019, a Semblant fechou um contrato de cinco anos com a empresa para o lançamento do seu álbum “Obscura”. Esta gravadora detém grandes nomes da música como Whitesnake, Sammy Hagar, Nazareth, Mr. Big, Sebastian Bach, entre outros. Aqui você confere o primeiro single do CD “Obscura”, a implacável “Mere Shadow”, vídeo que também já está em pouco tempo com um milhão e seiscentas mil visualizações.

A banda se formou em 2006 em Curitiba, quando o cantor Sergio Mazul e o tecladista J. Augusto começaram a compor músicas que apresentavam todos os elementos sombrios e agressivos que eles apreciavam e amavam no heavy metal. Após alguns anos de mudança de formação, o grupo se estabeleceu com Mizuho Lin (vocais femininos), Juliano Ribeiro (guitarra), Welyntom “Thor” Sikora (bateria) e Johann Piper (baixo).

Sergio Mazul disse, na reunião do Coletivo da Cultura, duas coisas que me chamaram a atenção: está aproveitando os contatos e a recepção positiva da Frontiers Music para indicar novas bandas de heavy metal de Curitiba para a gravadora italiana e contou que nunca teve qualquer apoio do poder público para seus projetos: até tentou fazer algo mas desistiu diante da burocracia estatal.

Outra história que impressiona é a de Vlad Urban, um dos coordenadores daquela reunião: filho do fotógrafo João Urban e sobrinho de Teresa Urban, jornalista e ambientalista que participou de grupos de resistência à ditadura militar, Vlad tem a militância política no sangue. Trata-se de figura importante do gênero Psychobilly, a cena musical mais forte e organizada da capital paranaense, caracterizada pela união do punk, rock and roll e rockabilly e pelas referências aos filmes de terror. É produtor cultural do Psycho Carnival, vocalista e guitarrista das bandas Os Catalépticos, Partigianos e Sick Sick Sinners.

Banda formada em 1996, Os Catalépticos sempre fizeram um Psychobilly de ótima qualidade e profissionalismo (seus integrantes já tinham experiências em outras bandas do estilo desde1987, como Missionários e Os Cervejas). Devido ao seu som ser original e rápido, um Rockabilly quase Hardcore, a banda teve grande reconhecimento internacional no estilo, chegando a participar de várias turnês europeias. “From Beyond the Grave…” é um single em vinil lançado no Japão.

Uma vez vi um show deles no Hangar 110, em São Paulo, e fiquei de cara com o ferver dos fãs da banda. Com a morte do baixista Gustavão, no ano passado, a banda encerrou suas atividades, mas ganhará biografia a ser lançada em 2023, intitulada “Psychobilly is All Around – A História do trio curitibano Os Catalépticos”, escrita pelo jornalista Marcos Anubis. O último grande show foi em 2019, quando participaram do festival Pineda Psycho Carnival. O evento, que é o maior do estilo em todo o mundo, acontece na cidade de Pineda de Mar, na Espanha.

Além disso, Vlad é um dos criadores do Psycho Carnival, de Curitiba, que em 2020 apresentou a sua 21ª edição reunindo o que há de melhor no mundo nos gêneros Psychobilly, Rockabilly e Punk Rock. Com a participação de 37 bandas do Brasil e mais oito países, o festival foi realizado entre os dias 20 e 24 de fevereiro no Jokers Pub, e se prepara pra voltar ao vivo em 2023. Tudo isto feito com muita raça e pouco apoio dos órgãos de cultura locais.

 

 

Outra pessoa interessante que conheci na reunião da semana passada foi o DJ Jeison Sales. Nesta foto ele está comandando sua festa “De volta ao passado” composta de rocks dos anos oitenta para um público de até 3 mil pessoas, na faixa de 50 a 80 anos de idade, que costuma lotar suas apresentações na região metropolitana de Curitiba. Tudo também feito por iniciativa e grana próprias.

Por falar em rock dos anos oitenta, em cidades como Brasília a importância cultural desta cena é tão grande que foi criada oficialmente a Rota Brasília Capital do Rock. O decreto foi assinado pelo governador Ibaneis Rocha em maio de 2021. Ver os detalhes aqui.

Lembramos também que o rock brasiliense foi declarado patrimônio cultural imaterial do Distrito Federal, nos termos da Lei Distrital 5.615. Ver aqui.

Em países como a Finlândia, o heavy metal tornou-se o produto número 1 em sua pauta de exportações. Veja nesta matéria como o governo finlandês estimula esta cultura e seu interesse no mercado latino-americano.

Diante de tantas iniciativas próprias que demonstram a pujança do rock curitibano, não seria o caso de pensarmos em estímulos por parte do Estado para alavancarmos ainda mais esta indústria e trazermos mais turismo e divisas para a nossa cidade?

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