Por Felipe Guerra Abreu
Nos últimos anos, o varejo tem observado uma série de mudanças decorrentes da implementação da inteligência artificial (IA) em atividades e funções operacionais. Tanto é que, segundo a pesquisa Worldwide Future of Operations Survey, da IDC, 48% dos entrevistados afirmam que ferramentas de IA são importantes para extrair novos e valiosos insights operacionais. O uso dessa tecnologia contribui para tornar o setor mais competitivo, colaborativo e rentável, com crescimento no número de vendas e aumento na margem de toda a cadeia do negócio.
Em linha com os aspectos econômicos, o emprego desses recursos também vem gerando impacto na maneira como os profissionais do varejo executam suas funções. Nesta combinação, a tecnologia aumenta a capacidade produtiva dos profissionais por meio do suporte, do processamento de dados e da geração de insights de forma mais rápida.
Exemplo desta sinergia está presente nas áreas de precificação dos estabelecimentos, nas quais os profissionais estão usando a IA para analisar um grande volume de dados de mercado, histórico de vendas e comportamento do consumidor, o que contribui para acelerar a adaptação e reestruturação de estratégias de pricing dos produtos.
De acordo com dados da Predify, cerca de 40% dos produtos no setor varejista demandam avaliações semanais de preços, podendo até mesmo exigir, em certos casos, revisões diárias. Além disso, é possível ajustar os preços várias vezes ao longo do mesmo dia no varejo online, o que é observado especialmente em produtos sensíveis a flutuações nas condições externas.
A tomada de decisão dos empreendedores também é impactada positivamente por essas mudanças. A IA permite que os varejistas coletem e analisem informações para criar experiências personalizadas aos seus clientes e gerar previsões de demanda futura baseadas em tendências sazonais, eventos externos e até mesmo condições climáticas. A tecnologia é empregada em sistemas especializados que ajudam a detectar suspeitas de fraude e prevenir perdas financeiras.
Com base em toda essa percepção, é importante destacar que o avanço no uso dessas soluções tende a aprimorar as atividades executadas pelos computadores, mas as decisões cruciais e a gestão de exceção continuam sendo executadas por profissionais qualificados. Ainda que algumas funções possam ser automatizadas, o desenvolvimento da IA irá abrir portas para cargos fundamentais dentro das operações, como analista, cientista de dados e estrategista de precificação.
Quando olhamos, por fim, o cenário brasileiro, observamos progressos na viabilização da sinergia entre inteligência artificial e qualificação profissional. Algumas empresas já estão utilizando a IA para automatizar tarefas repetitivas e liberar os profissionais para atividades mais estratégicas. No entanto, ainda há desafios a serem superados, como a falta de mão de obra qualificada e a resistência à mudança.
A tecnologia evolui com profunda rapidez e exige que a capacitação e o treinamento para esses profissionais sejam encarados como um investimento crucial e valioso para o negócio. Nesse contexto, a colaboração entre empresas, startups e instituições de pesquisa pode e deve ser incentivada, de forma a estreitar laços e intensificar ainda mais esse marco na relação entre varejistas e clientes em todo o mundo.
Felipe Guerra Abreu é diretor executivo de Estratégia e Produto da Neogrid