Por Jaine Vergopolem
A virada da década do festival curitibano aconteceu nesta segunda-feira (27). A abertura da 31ª edição do Festival contou com uma espetacular releitura de Hamlet, do grupo peruano de Teatro La Plaza, no Teatro Guaíra.
O espetáculo “Hamlet”, do Teatro La Plaza, apresentado na principal mostra do festival, a Mostra Lucia Camargo, foi um manifesto, aos que não tem voz, aos que têm seus sonhos constantemente roubados, aos neurotípicos, proibidos do direito de existir.
Dirigida por Chela de Ferrari, a emocionante trama se desenrola entre Shakespeare e as próprias histórias dos 8 atores em cena. Imerso em comédia e drama, e mergulhado entre o som do pop e do rap. O espetáculo te convida para uma experiência que é ao mesmo tempo leve, mas também tocante.
A atriz Camila Pitanga, conversou com o HojePR, e contou que um pontapé melhor para a abertura do festival seria impossível. Ela definiu o espetáculo de abertura como “uma peça de confronto, de enfrentamento, com atores esplendorosos, trazendo o depoimento da vida. É disruptivo, como essa diretora renovou esse texto de Hamlet em outros corpos e fazendo a gente repensar tudo”, diz.
O deputado estadual Goura Nataraj (PDT) também prestigiou a abertura e disse que o festival é um patrimônio de Curitiba, e que “a abertura do festival foi emocionante, a apresentação do ‘Hamlet’ trouxe reflexões super pertinentes para os dias de hoje e tudo que a gente está vivendo.”
“Ser ou não ser?”
Jonathan Oliveros, codiretor de “Hamlet”, disse que a recepção das pessoas, a organização do festival Curitiba é espetacular, com muito carinho, e que é bom poder colocar a visibilidade à Síndrome de Down e tirarmos da cabeça esses mitos que se têm sobre o que as pessoas que têm podem e não podem fazer.
De acordo com Oliveros, “através de Hamlet queremos fazer essa grande pergunta que faz Shakespeare de ‘Ser ou não ser?’. Que coisa é ser? Para alguém que ao qual lhe dizem não, não pode, ao qual se tem muitas limitações, a sociedade lhe diz que não pode, então temos que escutá-los um pouco mais, temos que olhá-los e ver as suas capacidades”.
A obra se trata de um ato de autoafirmação das pessoas com Síndrome de Down. Trazendo a comprovação da verdadeira essência do teatro, de convidar o espectador ao questionamento de mitos sociais e de provocar a mudança de suas percepções sobre o mundo. Afinal, o teatro é uma forma de empoderamento, auxiliando as pessoas a encontrarem a sua voz – dentro e fora dos palcos.
Como o roteiro da obra nos afirma, “a representação será o laço onde se enreda consciência. Representaremos nossa história o melhor que pudermos. Observarei seus olhares. se estremecem, será porque a culpa os agita ou talvez porque conseguimos dissolver o véu da ignorância que hoje cobre seus olhos.”
Mas a adaptação não foi somente no roteiro, desde as legendas às colocações iniciais dos próprios atores sobre suas deficiências psicomotoras. Todo o processo criativo foi elaborado a fim de possibilitar ao espectador uma experiência reflexiva e teatral completa, aos atores a evidência de suas habilidades artísticas. E por meio da arte dar visibilidade aos reprimidos pelos tabus de uma sociedade repressora.
Ficha Técnica:
Texto baseado na obra Hamlet de William Shakespeare
Dramaturgia e direção geral: Chela De Ferrari
Direção adjunta e consultoria em dramaturgia: Claudia Tangoa, Jonathan Oliveros e Luis Alberto León
Elenco: Octavio Bernaza, Jaime Cruz, Lucas Demarchi, Manuel García, Diana Gutierrez, Cristina León Barandiarán, Ximena Rodríguez e Álvaro Toledo
Direção Musical e Treinamento vocal: Alessandra Rodríguez
Coreografia: Mirella Carbone
Vídeo: Lucho Soldevilla
Figurino: Gustavo Valdez
Projeto de iluminação Jesús Reyes
Produção: Teatro La Plaza
Equipe Brasileira:
Produção Executiva: Carla Gobi e Adolfo Barreto
Direção de Produção: Pedro de Freitas / Périplo
Espetáculo conta com legendas / Espetáculo Internacional
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