Por Marcos Traad
Cada vez que nos chegam informações sobre a população do planeta, passamos a refletir sobre os desafios que teremos de enfrentar e, agora, com 8 bilhões de habitantes. Quais impactos e perspectivas teremos em 30 a 50 anos por exemplo? Haverá um cenário mais favorável às futuras gerações? Conseguiremos melhorar a vida dos que passam por dificuldades?
Em meio à apreensão, fatos importantes e animadores. Um deles é o aumento da população idosa. Segundo a ONU (2022), a expectativa média de vida mundial chegou aos 72,8 anos, com uma projeção para 77,2 anos em 2050. Assim, temos que nos preparar melhor para o planejamento das cidades (estima-se que em 2050, 70% da população mundial será urbana), quanto à mobilidade, atendimento à saúde e qualidade de vida. O aumento na expectativa de vida vem atrelada à redução da fecundidade média que em 1950 era de 5 nascimentos por mulher e a projeção para 2050 é de 2,1.
Como valores médios, temos que relativizar as coisas, uma vez que há regiões onde observa-se a tendência de menor fecundidade e em outras tantas não. Tanto é que a ONU afirma com 95% de probabilidade, que a população mundial em 2100 estará entre 8,9 e 12,4 bilhões, o que gera certa dúvida pelo expressivo intervalo dos valores estimados.
Quanto à nossa capacidade de produzir alimentos para sustentar a população, lembremos da Teoria de Malthus (1798): “a população cresce em progressão geométrica e a produção de alimentos em escala aritmética”. Contudo, muito avançamos de lá para cá e graças ao desenvolvimento científico e tecnológico na produção agropecuária, continuamos a observar aumentos da produção e da produtividade. O grande desafio que persiste para ser enfrentado é o acesso ao consumo pelas populações carentes. Se por um lado o problema atual e urgente é a fome (a ONU estima que 830 milhões de pessoas passam fome no planeta), devemos considerar ainda que, mesmo alimentados, um contingente enorme de seres humanos sofre pela desnutrição acentuada.
A produção de alimentos agora se depara com outro problema grave: As Mudanças Climáticas. O assunto está sendo discutido faz tempo e, desde a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o clima (COP), em Estocolmo (1972), conhecemos os insistentes alertas dados pelos cientistas. A contundência dos debates e a mobilização de cada vez mais segmentos interessados e afetados pelo assunto, tem sido recorrente. Ocorre que, mesmo com todos os esforços para que a questão social seja o meio pelo qual os grandes responsáveis pelas emissões sejam sensíveis, prevalece a inércia. Sempre à frente está o aspecto econômico, o que não é novidade, tendo em vista que, passados 50 anos de muita conversa e, muitas vezes de devaneios sobre o assunto, ainda não chegamos ao que interessa: como e quando haverá aporte financeiro para o cumprimento de metas encaradas na atualidade como inadiáveis?
O Brasil possui, se não o melhor, um dos melhores arcabouços legais do mundo em termos ambientais. O setor do Agro, que nos mantém com excelentes resultados econômicos, tem sido tratado como vilão, o que na realidade é um absurdo. O que precisamos é o suporte institucional aos órgãos competentes, para que se faça cumprir a lei e que, com tecnologia e pessoal competente, a fiscalização seja intensiva e que também não haja a procrastinação dos processos administrativos e judiciais. Estamos descrentes quando o assunto é a falta de senso de justiça, tamanha é a insegurança quanto à punição exemplar às transgressões.
Há, contudo, aqueles de pensamento nocivo que, ancorados numa demanda urgente pela reforma administrativa, continuam a acreditar que desqualificar o serviço público é atitude liberal. NÃO É! Eu insisto: numa reforma séria, será necessário fazer com que o Estado Brasileiro cumpra com as suas determinações legais, o que não acontecerá pelo desmantelamento que muitos têm aplaudido sem qualquer conhecimento sobre o assunto. Por ouro lado, os “magos” que administram as nossas finanças, devem colocar em prática os princípios da eficiência e da eficácia, para que, gastar bem os elevados impostos que pagamos seja palavra de ordem.
Estamos cansados de ouvir os discursos com vozes impostadas, que se perdem no momento em que os grandes eventos se concluem. Afinal, o que mais temos presenciado em grande parte dos importantes eventos realizados pela ONU é a adoração ao discurso em detrimento da prática. Que tenhamos fé sobre a busca do melhor para as nações e que cada um de nós possa fazer a sua parte, tendo em vista que a depender do que pactuam os que decidem os rumos do planeta, teremos dificuldades intransponíveis para chegarmos aos 12 bilhões de habitantes em melhor situação do que a atual.
MARCOS TRAAD é graduado em Zootecnia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Mestre e Doutor pela Universidade Federal do Paraná. Foi Pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná e Professor Titular da PUCPR.