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EDITORIAL

As lições que as urnas deixaram para Cristina Graeml

29/10/2024
cristina

Toda eleição deixa lições. A deste ano não foi diferente. O recado das urnas normalmente é mais barulhento aos derrotados já que, pressupõe-se, a estratégia dos vencedores não exige reparos. Também não foi bem assim, mas isso é assunto para outro editorial. Diante disso, é possível estabelecer vários erros adotados pela campanha derrotada de Cristina Graeml.

As parcerias que a candidata estabeleceu para lhe acompanhar na disputa eleitoral foi um dos maiores erros. Não se ganha uma eleição com companhias tão constrangedoras. Cristina errou na escolha do vice e do coordenador de campanha, ambos envolvidos em denúncias de golpes financeiros. Ter como contador da sua campanha, indicado na prestação de contas enviada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), um sujeito que foi preso dirigindo um carro roubado também não ajudou. Outra derrapada foi trazer a Curitiba – e desfilar pela cidade na sua companhia – um jornalista que defendeu a matança de judeus brasileiros e a apropriação de todos os seus bens.

A candidata do nanico PMB chegou ao segundo turno pelas mãos de uma direita radical que, na ânsia de tirar o ex-prefeito Luciano Ducci do páreo, optou pelos exageros ideológicos de Cristina ao invés do discurso mais moderado de Eduardo Pimentel. Ao sair da bolha do 1º turno, ela mostrou quem realmente é. Totalmente despreparada, sem conhecimento da cidade e do funcionamento da administração pública.

Mal orientada por um marqueteiro antiquado, adepto do quanto pior, melhor, Cristina sacramentou outro erro e transformou sua campanha em um samba do crioulo doido. A ordem era bater, não importa em quem, apenas agredir e criticar. Sem qualquer critério estratégico, a campanha de Cristina tentou desconstruir Curitiba, mostrando a capital como um pântano poluído com o que há de pior na administração pública e ferindo a autoestima do curitibano.

A campanha da candidata do PMB promoveu agressões a Eduardo Pimentel e sua família como há muito não se via em disputas políticas. Em atitudes até certo ponto infantis, Cristina usou os debates para zombar e debochar do candidato do PSD com piadinhas e apelidos jocosos. No debate derradeiro, na RPC, a candidata atingiu o ápice da falta de ética e pudor ao usar a falecida mãe de Eduardo para desestabilizá-lo.

Ao seguir as equivocadas orientações desse marqueteiro, Cristina e seu staff não perceberam que, para vencer a eleição, não bastaria se mostrar como militante ideológica. Seria preciso convencer o eleitor que ela poderia ser uma administradora em potencial.

Por outro lado, talvez seja essa a razão para a estratégia suicida de Cristina. Ao optar por uma campanha pautada em agressões e em mentiras, como a patética acusação de que Eduardo tinha o apoio do PT – que lhe rendeu uma condenação da Justiça Eleitoral – Cristina escondeu sua ausência de propostas e sua completa incapacidade administrativa como gestora.

Em sua análise para o jornal O Estado de S.Paulo, o jornalista e consultor político Fabiano Lana ressalta que a extrema direita peca por não ter propostas e discursos para o que de fato interessa quando o que está em jogo é a administração de uma cidade: a zeladoria. E que a ideologia é apenas um processo lateral ao que realmente interessa: qual proposta garantirá o futuro melhor das pessoas. “O que esse tipo de discurso ajudará quando a preocupação é com mobilidade urbana, iluminação, ensino básico ou o atendimento nos postos de saúde?”, questiona ele. Trocando em miúdos, ao apenas repercutir as pautas do bolsonarismo, Cristina deixou evidente que era só mais uma militante ideológica e não uma administradora.

Nada contra a ideologia de cada um, mas os grandes políticos sabem avaliar o momento ao seu entorno. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, considera, por exemplo, que o discurso bolsonarista está saturado. “Ninguém aguenta mais, é uma conversa chata, cansativa, enjoada, as pessoas acham que de repente são professores de Deus. ‘Tem que ser assim, falar desse jeito, se não for assim, você é comunista’, essas coisas cansaram”, disse ele em entrevista à Folha de S.Paulo desta segunda-feira (28).

Para Caiado, o ex-presidente “foi extremamente desrespeitoso e deselegante. Para ganhar uma eleição é preciso que entenda a vontade da população. Não é impor o número e achar que a população não vai ver as qualificações da pessoa”. Em Curitiba, Bolsonaro jogou contra Eduardo Pimentel, apesar do vice, Paulo Martins, ser do seu partido, e apoiou, mesmo disfarçadamente, a candidatura de Cristina Graeml.

O governador de Goiás, que é pré-candidato à Presidência da República, deu um conselho: “temos que ter muita humildade, pisar na vaidade todo dia. Não existe ninguém que seja dono do eleitorado no Brasil. O que essa eleição demonstrou? Que nós estamos, de uma certa maneira, cansados dessas posições, do que chamo de falsos dilemas ideológicos. (…) Essas coisas cansaram. O povo tá doido para ter emprego, renda, educação, saúde, lazer. Você precisa mostrar por que você quer governar, não é criar uma situação de guerra de secessão no país”, disse ele.

Para onde vai Cristina Graeml em seu futuro político só ela sabe. Com uma boa dose de humildade poderá alçar voos maiores. Não parece ser o seu estilo, no entanto, e, dessa forma, investe em mais um erro. Ao contrário da grandeza que se espera de grandes políticos, Cristina foi a única candidata que não cumprimentou Eduardo Pimentel pela vitória. Até mesmo seu vice, Jairo Filho, divulgou um vídeo desejando sorte ao novo prefeito. Ao contrário, no domingo, logo após o resultado das urnas, Cristina deu entrevista ao lado justamente do jornalista que pregou a matança dos judeus. A eleição acabou. Tá na hora de descer do palanque, lamber as feridas, avaliar os erros e, se possível, não repeti-los.

1 comentário em “As lições que as urnas deixaram para Cristina Graeml”

  1. ANDRÉIA SCHOEPPING KÖHLER

    correção o ducci não foi prefeito, e sim vice prefeito, o richa só deixou o ducci sozinho quando mudou de cargo de prefeito para governador, depois veio fruet que provou que tem como destruir Curitiba durante 4 anos só :S

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