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‘Atração Fatal’ é atualizada para a nova audiência em série da Paramount+

06/05/2023

Atração Fatal, o filme de suspense de 1987, apresentou uma mulher, Alex (interpretada por Glenn Close), que tem um caso com um homem casado, Dan (Michael Douglas). Mais que isso: ela fica obcecada por ele, a ponto de persegui-lo e também a família dele depois que o homem tenta acabar com a relação, simplesmente descartando a mulher.

 

Uma série de TV da Paramount +, que estreou na segunda  (1), é baseada no filme, mas tenta responsabilizar Dan e Alex – interpretados por Joshua Jackson e Lizzy Caplan – por suas ações. Amanda Peet interpreta a esposa de Dan, Beth. A história se desenrola em duas linhas do tempo, seguindo Dan, Alex e Beth na época do caso e anos depois, quando a filha de Dan e Beth, Ellen (Alyssa Jirrels), é adulta.

 

Quando Caplan foi abordada para interpretar Alex, não foi um sim imediato, e ela se perguntou se o mundo precisava de outra Atração Fatal. Embora ela tenha gostado do filme, a representação de Alex a perturbou.

 

“Revi o filme e achei muito difícil assistir com o espírito que suponho que foi feito”, disse a atriz. “Eu não conseguia ver isso como ‘Alex é uma pessoa má que está tentando destruir esse homem tão gentil’.”

 

Joshua Jackson, que interpreta Dan na série, concorda que o personagem original é retratado como quase inocente, mesmo sendo casado.

 

Culpa

“A falta de consequência ou mesmo a aceitação de culpa ou culpabilidade por parte de Dan é chocante do ponto de vista de 2023”, disse ele. “Nós não temos que fechar os olhos para isso. Há uma misoginia subjacente no filme que é apenas parte da época em que ele surgiu. A simpatia da história está do lado do homem desse caso. Isso retrata muito bem a personagem Alex como a vilã ”

 

Caplan e Jackson concordaram em assinar o contrato quando leram os roteiros e viram que mantinham as emoções e o choque do filme, mas também entraram no “porquê” do caso, pois havia tempo para fazer isso em oito episódios.

 

“Há muito mais espaço para entrar nas perspectivas de cada personagem”, disse Jackson. “Também vemos como são as repercussões para Dan. Entramos na vida dele e vemos que essas coisas – não importa o quanto você queira – não vão embora.”

 

Esse ângulo é exatamente o que Alexandra Cunningham e Kevin J. Hynes, que desenvolveram essa nova abordagem, tinham em mente.

 

Motivações

Depois de assistir ao filme de 1987, Cunningham gostou da ideia de uma linha do tempo futura para Dan e sua família. Ela ficou com perguntas sobre o que aconteceu a seguir – particularmente com o casamento de Dan com Beth e o que teria ocorrido com sua filha Ellen.

 

“O filme termina apenas com a câmera se movendo para uma foto de uma família perfeita”, disse Cunningham. “E é como: ‘Tudo vai ficar bem agora que a mulher se foi’.”

 

Cunningham se perguntou: “Essa criança vai receber ajuda psiquiátrica? Eles vão para um aconselhamento matrimonial? Dan vai gastar algum tempo pensando sobre por que isso pode ter acontecido? Ele vai cometer esse erro de novo?”.

 

A versão para TV também dá a Alex um passado e toca em sua saúde mental, o que explica um pouco seu comportamento. Caplan quer deixar claro que “não se trata de um exame direto de doença mental. É uma atração fatal. O que é uma abordagem completa de como nós, como membros da audiência, mudamos. Acho que é assim que podemos segurar um espelho para nós mesmos e pensar: ‘Isso foi apenas há muitos anos’. Não há lugar para essa versão dessa história no mundo de hoje”.

 

Há uma cena no episódio final que representou uma espécie de gatilho para Jackson. Nela, Dan fala com Ellen, que agora é adulta, e assume alguma responsabilidade por suas ações.

 

“Gravar aquela cena não foi fácil”, disse Jackson. “Agora sou pai, e também sou filho de um homem que não queria estar na minha vida, e estar na encruzilhada dessa conversa. Foi impactante para mim em uma forma que eu não esperava naquele dia ”

 

Filme é um bom exemplo de quando Hollywood aposta no apelativo

Há mais de 30 anos, quando estreou nos cinemas, mais que um filme, Atração Fatal virou fenômeno social. Michael Douglas faz o marido que, na ausência da mulher, vai para a cama com outra. Mas Glenn Close não está pensando só em diversão por uma noite e persegue o homem, ameaça sua família. No limite, a esposa traída pega em armas em defesa do lar. Os críticos reclamaram, o público adorou, embora a ala masculina tenha ficado gelada nas poltronas com a história.

 

Ex-publicitário, o cineasta inglês Adrian Lyne, hoje com 82 anos, inundou as telas de cinema entre os anos 1980 e 1990 com filmes que beiravam a pornografia.

 

Moral

Como escreveu o crítico de cinema Geraldo Galvão Ferraz, no Jornal da Tarde, em 2002, na melhor das hipóteses, Lyne poderia ser visto como um moralista; na pior, apenas um oportunista. “Basta pensar em alguns de seus filmes, como 9 e 1/2 Semanas de Amor, Atração Fatal, Proposta Indecente e Infidelidade. Em todos, ele ofereceu emoções baratas, exploração sexual até um certo ponto, e uma mensagem final que prega medalhas no peito da moral mais convencional”, anotou Ferraz.

 

De fato, no velho estilo ‘morde e assopra’, os filmes de Lyne se tornaram corriqueiros em chamar atenção por um detalhe escandaloso, muitas vezes profano, mas sempre com um final moralista, para satisfazer a plateia – e a bilheteria.

 

No verbete sobre o longa escrito para o livro 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer (Sextante), de Steven Jay Schneider, o crítico Mikel J. Koven escreve que Atração Fatal é exemplo do que acontece quando a Hollywood de grandes orçamentos tenta algo no gênero dos filmes apelativos.

 

“Sem um diretor cujo estilo precede a substância como Lyne e sem astros como Douglas e Close, esse seria um típico thriller mediano, daqueles que vão direto para locadoras (hoje seria streaming)”, afirma. “Com o brilho típico de Hollywood, contudo, o longa ganha uma aura respeitável: não parece um filme de horror, mas um suspense dramático em ambiente caseiro com tom (talvez) erótico. Por isso que fez tanto sucesso.”

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(Foto: Divulgação)

(Associated Press)

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