Durante alguns anos fui filiado ao PDT, quando o partido era liderado pelo Brizola.
Independente de qualquer outra consideração, admirava a forma obstinada como ele e o Darcy Ribeiro defendiam a criação da escola pública de qualidade em tempo integral.
Meus encontros com ele não eram frequentes, porque minhas funções na Prefeitura e no Governo do Estado não permitiam que acompanhasse o Jaime Lerner em todas as viagens. Assim mesmo tive oportunidade de estar com o “velho” algumas vezes e ouvir “causos” contados por ele ou transmitidos por pessoas que os assistiram.
Lembro que foi dele que ouvi pela primeira vez a expressão “hacer malasangre”, que deve ter incorporado durante o exílio no Uruguai, mas uma das melhores histórias foi a que resultou no conselho que deu ao “Jeime”, como pronunciava o nome dele:
– Jamais perder a paciência e discutir com bêbado em comício.
E explicou porque:
– Certa ocasião estava discursando numa pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul, e cada vez que fazia uma declaração mais enfática, um cidadão nitidamente alcoolizado gritava:
– É isso aí, Brizola!
– Muito bem, Brizola!
– Falou a verdade, Brizola.
As manifestações do “correligionário” foram ficando mais frequentes e veementes, a ponto de deixar Brizola irritado e os demais correligionários aborrecidos.
Experiente e dono de uma oratória fantástica, entendeu que devia alterar um pouco o rumo do discurso, de forma a “enquadrar o pinguço”, e para isso foi por uma linha de mostrar os malefícios do álcool:
– É nossa obrigação educar as crianças e fortalecer os vínculos entre pais e filhos, alertando-os quanto aos riscos da embriaguez! O álcool é responsável pela dissolução da família, a célula-mater da sociedade, gerando o abandono dos filhos, o desemprego e a miséria…
O cidadão, que até então não economizava gritos de incentivo, acusou o golpe e mandou:
– Agora tu te cagaste, Brizola!