Encorajados pela falta de cumprimento do marco temporal estabelecido na Constituição Federal promulgada em 1988, estimulados pela validação fraudulenta de falsos laudos antropológicos atestando a presença de vestígios dos povos originários em áreas onde eles nunca fincaram sequer uma oca e incentivados pela ação criminosa de ONGs que planejam criar na região noroeste do Paraná uma “nação guarani”, os novos conflitos fundiários que eclodiram dias atrás nos municípios de Guaíra e Terra Roxa com a invasão de propriedades rurais legitimamente tituladas por bandos de indígenas vindos até do Paraguai, desafiam a sociedade brasileira a dedicar mais esforços na busca de soluções definitivas para um problema que se arrasta há séculos, causando destruição, sofrimentos e mortes por todo o país.
Em um oportuno artigo postado recentemente em suas redes sociais, que reproduzo abaixo na íntegra, o médico-veterinário Antonio Cabrera Mano Filho, ex-ministro da Agricultura no governo Collor, nos convida a refletir, com uma abordagem mais ampla, sobre a maneira como essa questão é tratada no Brasil em comparação, por exemplo, com o Canadá.
Eis o texto:
“Há muita verdade na velha piada onde se pergunta: o que os socialistas usavam antes das velas? E aí alguém responde: a eletricidade.
Ela me lembra a situação dos índios brasileiros vivendo na região Norte do país.
A falta de uma visão que permita explorar as riquezas de forma sustentável ainda tem imposto um modo de vida medieval às tribos brasileiras que vivem naquela área.
Interessante é que há mais ONGs estrangeiras indigenistas e ambientalistas na Amazônia brasileira do que em todo o continente africano, que sofre com a fome, a sede, as guerras civis, as epidemias de AIDS e Ebola, os massacres e as minas terrestres.
Isso em uma região que tem ouro, nióbio, petróleo, as maiores jazidas de manganês e ferro do mundo, diamante, esmeraldas, rubis, cobre, zinco, prata, ou até a maior biodiversidade do planeta e outras inúmeras riquezas que somam, segundo cálculos conservadores, mais de 14 trilhões de dólares.
Mas não é isso que acontece com outras tribos no exterior.
De acordo com o Centro de Energia do Canadá, mais de 75 comunidades indígenas daquele país, lá chamadas de ‘Primeiras Nações’, tomaram uma decisão de explorar economicamente as suas terras.
Em Alberta e na Colúmbia Britânica, eles concordaram em participar de projetos energéticos, incluindo o oleoduto Coastal GasLink e as principais redes de transporte para a produção de petróleo de areias betuminosas.
Para se ter uma ideia, eles acabam de assinar o acordo de Parceria Musqueam do FortisBC, que partilhará os benefícios da fase de expansão da instalação de GNL de Tilbury, que começará em 2025.
Os beneficiários incluirão as comunidades de Snuneymuxw, T’Sou-ke, Esquimalt, Scia’new, Pacheedaht, Pauquachin, Huu-ay-aht, Kyuquot/Checleseht, Toquaht, Uchucklesaht e Ucluelet.
Da mesma forma, o projeto Woodfibre LNG, que iniciará a produção em 2027, beneficiará diretamente a comunidade de Squamish.
Diferentemente do que ocorre aqui, onde tudo se transforma em um santuário ecológico, o próprio documento relata que ‘os povos indígenas continuam a ter um modo de vida fortemente ligado ao Rio Fraser e aos seus recursos e continuam a pescar e a utilizar regularmente aquela via fluvial’.
Ou seja, o projeto será em um dos locais mais sagrados para os índios canadenses.
O custo desta expansão é estimado entre e 3 e 3,5 bilhões de dólares, sendo um dos maiores projetos de investimento no Canadá.
Resumindo, riqueza lá e pobreza cá no que diz respeito à questão indígena”, conclui Cabrera.
Muitos leitores devem estar lembrando também dos Estados Unidos, onde diversas etnias indígenas desfrutam de abastado padrão de vida embolsando milhões de dólares provenientes dos royalties que recebem anualmente da exploração de suas terras por empresas petrolíferas, cassinos, mineradoras e companhias de turismo, sem abandonar seus hábitos e costumes tradicionais.
Em suma, diante das inúmeras possibilidades que existem para propiciar aos nossos povos originários uma vida minimamente mais digna, não há outro motivo para mantê-los na mais absoluta miséria, sendo dizimados lentamente por desnutrição e doenças, senão pela preservação dos vultosos ganhos financeiros auferidos por instituições obscuras sob o pretexto de protegê-los.
Isso sim é genocídio.
CAIO GOTTLIEB é jornalista e editor do blog caiogottlieb.jor.br