Por Daniel Morel
O câncer de mama é a condição oncológica mais prevalente entre as mulheres no Brasil. De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), estima-se que, no triênio de 2023 a 2025, aproximadamente 73.610 mulheres receberão o diagnóstico dessa doença. Esse cenário, que também se reflete globalmente, merece atenção e ação imediata, uma vez que o câncer de mama corresponde a 11,7% do total de casos de câncer no mundo, com cerca de 2,3 milhões de novos diagnósticos apenas em 2020.
Para combater essa alarmante estatística e oferecer um horizonte de esperança às pacientes, é imperativo enfatizar a importância da realização de exames de rastreio e consultas de rotina, visando ao diagnóstico precoce, que é fundamental para aumentar as chances de cura. A mobilização da sociedade é notável, com entidades médicas, a mídia, organizações não governamentais (ONGs) e outros atores promovendo campanhas de conscientização, mutirões de mamografias e diversas iniciativas.
Além desse esforço conjunto, a área da saúde tem testemunhado um significativo avanço no uso de tecnologias modernas para enfrentar o câncer de mama. A inteligência artificial (IA), por exemplo, tem se destacado ao auxiliar médicos no diagnóstico preciso e oferecer opções de tratamento mais assertivas. Inúmeros casos de sucesso com a aplicação da tecnologia na medicina já demonstram seus benefícios aos pacientes.
A pandemia de COVID-19 trouxe à tona a necessidade de otimizar a telemedicina, permitindo que os pacientes mantenham o acompanhamento médico de forma segura. Esse contexto também viu o surgimento das prescrições eletrônicas e, mais recentemente, avanços na realização de exames físicos remotamente. A inteligência artificial tem sido uma aliada valiosa na detecção de nódulos mamários suspeitos, contribuindo para o diagnóstico precoce e, consequentemente, para a melhoria das perspectivas de tratamento e sobrevida das pacientes. Esses modelos de inteligência artificial têm se mostrado tão eficazes quanto radiologistas treinados na avaliação de mamografias, melhorando significativamente o potencial de diagnóstico de nódulos mamários.
Em um estudo recentemente publicado em junho de 2023 no periódico Radiology, da Sociedade Americana de Radiologia, comparou-se o uso de algoritmos de IA com modelos de risco clínico para prever o desenvolvimento de câncer de mama. Este trabalho avaliou mamografias negativas do ano de 2016, selecionando uma coorte de 13.628 pacientes. Além disso, foram adicionados 4.584 pacientes que receberam o diagnóstico de câncer dentro de 5 anos a partir do exame original de 2016. O algoritmo de IA foi capaz de prever o risco de desenvolvimento de câncer em 28%, quando comparado com os modelos clínicos, tornando-se uma importante ferramenta para o diagnóstico precoce.
Além dos avanços tecnológicos, a aprovação e disponibilidade de novos tratamentos têm proporcionado maiores chances de cura e controle do câncer de mama. No entanto, persistem desafios importantes, como a necessidade de ampliar o acesso a cuidados abrangentes e tecnologias que podem auxiliar na jornada de cuidado.
É fundamental também investir na educação da classe médica para promover a aceitação e a adoção de tecnologias, como a telessaúde e dispositivos de telepropedêutica, bem como o uso de modelos de inteligência artificial. A disseminação dessas práticas contribuirá para melhorar o atendimento e a qualidade de vida das pacientes.
Não podemos esquecer a importância das campanhas de conscientização, não apenas para o câncer de mama, mas também para outros tipos de câncer. À medida que a tecnologia na saúde avança, a perspectiva de diagnósticos iniciais e auxílio na cura de um número maior de pacientes torna-se cada vez mais promissora. O combate ao câncer de mama requer uma abordagem multidisciplinar, na qual a ciência, a tecnologia e a conscientização se unam na luta contra essa doença devastadora.
Dr. Daniel Morel é oncologista e diretor médico da Tuinda Care, Healthtech que tem como objetivo promover acesso médico especializado remotamente