Se o seu desejo secreto é receber uma recompensa por seus talentos culinários, não apenas elogios da família, então Georgiana Viou pode servir de inspiração. A chef autodidata do Benim, país da África Ocidental, que chegou a Paris sonhando em se tornar intérprete, recebeu na segunda-feira, 6, uma estrela do Guia Michelin, a bíblia da gastronomia, por sua culinária no Rouge, um restaurante na cidade de Nimes, sudoeste da França. Ela não estava sozinha.
David Degoursy, um chef que estudou literatura, e Jeanne Satori, chef confeiteira formada em desenvolvimento sustentável, também ganharam uma estrela para seu restaurante de:ja, em Estrasburgo, no leste da França, onde foi realizada a cerimônia de premiação anual.
Os prêmios Michelin de 2023 para chefs franceses enfatizaram as regiões da França, não Paris. O único chef a receber três estrelas – o prêmio mais alto, reservado para luminares gastronômicos – foi Alexandre Couillon, pelas criações de seu restaurante La Marine, na ponta da Ilha de Noirmoutier, no Oceano Atlântico.
Das 44 estrelas Michelin distribuídas, a de Viou foi a única recebida por uma mulher que trabalha sozinha. Várias outras mulheres foram laureadas como parte de uma equipe, como no caso de Satori, a chef confeiteira do de:ja.
Viou, de 45 anos, descreve sua culinária como uma mistura de francesa mediterrânea perfumada com notas que lembram seu país natal. Ela já escreveu vários livros sobre a culinária do Benim.
Tornar-se chef foi um plano alternativo para Viou, que chegou à França em 1999 para estudar idiomas na Sorbonne, buscando se tornar intérprete. Trabalhando em uma agência de comunicação na cidade portuária de Marselha, ao sul, as complicações da vida a obrigaram a mudar de rumo, e aos 33 anos sua segunda paixão, a culinária, tomou a frente.
Em uma entrevista no começo do ano passado para a publicação online terrafemina, ela disse que, sendo uma mulher negra, africana, mais velha que a maioria dos chefs em treinamento, em um universo predominantemente masculino, sua maturidade a ajudou a suportar.
Mas ela não gosta de ser categorizada por seu gênero ou cor da pele, e diz que é “completamente ridículo” ser considerada “da moda” por ser uma chef negra. Ela quer ser avaliada pelo que está nos pratos que serve.
Viou aprendeu a cozinhar com sua mãe, que tinha um pequeno restaurante simples em Cotonou, Benim, e recebeu uma lição de perseverança de sua avó. Ela galgou degrau por degrau até se tornar chef em Marselha, e acabou por obter reconhecimento nos restaurantes que traziam seu nome.
Ela se juntou ao Rouge, em Nimes, desde a inauguração, em junho de 2021. No ano passado, Viou participou do júri do popular programa de TV Master Chef, anos depois de ter sido candidata.
A estrela Michelin de Viou foi concedida por sua “culinária singular (…) que celebra seu ambiente mediterrâneo e suas raízes do Benim”.
“Hoje é realmente o máximo”, disse ela na cerimônia de premiação, acrescentando que, ao ser convidada, pensou: “Isso é legal. Vou estar entre muitos chefs, uma boa ocasião para encontros”, não para receber uma estrela. Ela ficou claramente emocionada.
No Rouge, “Não somos uma equipe. Somos uma família”, disse ela, com a voz trêmula e os olhos cheios de lágrimas de felicidade. Ela deu então alguns tímidos passos de dança e ergueu os braços em agradecimento.
Chefs autodidatas com estrelas Michelin são menos raros do que se poderia imaginar. Há Eric Girardin, por exemplo, do restaurante La Maison des Tetes, em Colmar, perto de Estrasburgo, que começou sua vida profissional como engenheiro eletricista.
A única mulher que já recebeu três estrelas Michelin é Anne-Sophie Pic. Neta e filha de chefs, ela se mudou para Paris de sua região natal, Drome, para estudar comércio antes de retornar às raízes. Com restaurantes em Paris, Londres e Lausanne, Pic abriu mais um em Cingapura, em 2019.
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(Foto: Reprodução)
(Associated Press)