Como falar de vinhos e não falar do Rio Grande do Sul? O vinho brasileiro só existe no mapa mundi por conta do esforço, dedicação e muito trabalho do povo gaúcho.
O solo e o clima fizeram dos espumantes produzidos naquela terra uns dos mais premiados do mundo, batendo produtores tradicionais, inclusive da França, o país da Champagne.
A tragédia que acontece no Rio Grande sangra o coração de todos nós.
Neste momento a preocupação é salvar vidas humanas, e resgatar os animais ilhados ou presos entre escombros e destroços. A água baixa lentamente e ainda é impossível ver a real extensão do que aconteceu. As terras produtoras de vinho ou vieram abaixo em deslizamentos de encostas, ou foram alagadas, ou levadas pelas enxurradas que varreram praticamente 80% do território gaúcho.
Somos bombardeados as 24 horas do dia por imagens de salvamentos e resgates, e também de solidariedade. Mas infelizmente neste momento ainda tem gente se aproveitando para roubar os voluntários que trabalham nos salvamentos, e saquear casas, lojas e comércios. Até onde chega a bestialidade humana? Me pergunto se o planeta Terra tem salvação?
Entre tantas imagens que vi nestes dias apareceram duas que mostraram um parreiral completamente destruído e uma distribuidora de vinhos com o seu armazém debaixo da água suja e barrenta. Tudo virou lixo. Nada pode ser aproveitado. Não dá para calcular o que vai acontecer com os milhares de produtores de vinho do Rio Grande do Sul. Só saberemos mais tarde a dimensão de tudo, mas uma coisa todos nós temos certeza: o povo gaúcho vai se reerguer, mais forte do que antes.
A missão do jornalista é escrever, mas juro para vocês que hoje a minha vontade é mais de chorar do que qualquer outra coisa. Tenho amigos e conhecidos no Rio Grande do Sul que estão passando o maior perrengue. Mas o meu ofício é informar. Pensei em escrever sobre algum vinho ou espumante gaúcho, mas preferi não fazer isso.
Enquanto chovia no Sul a massa de ar quente que estacionou no Paraná não deu trégua. No Interior do Estado a temperatura passou dos 35 e em
Curitiba bateu os 29 graus. Havia separado dois vinhos brancos, ambos
Chardonnay e argentinos, para fazer uma comparação e segui o meu cronograma, para manter a rotina mesmo neste cenário de guerra e devastação.
Pela Bodega Salentein peguei o Chardonnay produzido no Vale de Uco e pela Catena Zapata separei um blend de Chardonnay dos vinhedos de Domingo e La Pirâmide. 2 anos de diferença nas safras separou os vinhos. Gosto da uva
Chardonnay, e nesta temporada de calor têm sido os meus preferidos. Ambos os vinhos tinham aparência amarelo dourado, com aromas de frutas, como o pêssego, e na boca a mineralidade e o sabor de frutas brancas ganharam destaque. Os dois vinhos foram aprovados por quem estava à mesa. Na minha opinião o Nunima ganhou o meu paladar, já que passa 8 meses por barricas de carvalho, o que lhe dá mais complexidade. Na dúvida, eu recomendo fazer um teste parecido e comparar, é uma brincadeira boa para se fazer.
Dicas da semana
1 – Salentein Numina Chardonnay. Valle de UCO. Safra 2020. 13% de teor alcoólico. Em sites especializados a partir de R$ 187,00;
2 – DV Catena Chardonnay-Chardonnay. Safra 2022. 13,6% de teor alcoólico. No site da Mistral por R$ 212,00.
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