A Espanha é linda. Isso é inquestionável. E os seus vinhos são para lá de especiais. A cada nova degustação ou prova de vinhos da região a vontade de se perder pelos vinhedos, pelos bares de tapas, pelas ruas sempre animadas e cheias de cantorias, é ainda maior. A cidade de San Sebastian, que fica ao norte, no País Basco, é a capital gastronômica da Europa, com vários chefs de cozinha Michelin espalhados por ali.
As vinícolas espanholas têm histórias fantásticas e uma muito especial é a da CVNE, Companha Vinícola do Norte de Espanha. A empresa foi fundada em 1879 e hoje já está na quinta geração de vinicultores que produzem vinhos de excelente qualidade, sempre inovando e buscando melhorias. Eles foram pioneiros em diversas técnicas que acabaram mudando o perfil do vinho espanhol.
Vinhedos em Rioja
No ano de 2013 tive a oportunidade de passar pela região e fazer uma visita à centenária propriedade da família, origem de tudo. Naquele ano a vinícola foi surpreendida por uma premiação do crítico norte-americano Robert Parker. O vinho Imperial Gran Reserva recebeu 100 pontos. Foi considerado o melhor do mundo. O pitoresco dessa história é que a divulgação ocorreu na Califórnia à tarde, noite na Espanha, com todos dormindo. O site da empresa recebeu milhares de visitantes, a grande maioria da China, que foram comprando todo o acervo do Gran Reserva disponível. A procura foi tão grande que o sistema caiu. No dia seguinte, quando os espanhóis acordaram e descobriram a premiação, o prejuízo já era grande. Se o sistema não tivesse caído não teria sobrando nenhuma garrafa para contar a história.
Comprei duas garrafas de outra safra. Depois de 10 anos de guarda resolvi abrir uma delas e lhes digo, é muito bom. A cor dele é um espetáculo, intensa; quando as primeira gotas caem no copo você já sabe que vai tomar um excelente vinho. Depois de deixar ele respirar, os aromas de frutas vermelhas e de ameixa preta aparecem primeiro. E na boca você vai sentir o gosto tostado dos barris de carvalho e um pouco de balsâmico, os taninos são leves e o sabor do vinho permanece na boca por um longo período.
As garrafas do Imperial Gran Reserva passam 36 meses descansando no mesmo método do século 19
A empresa não produz este vinho todos os anos. Para manter a qualidade, a safra depende da colheita e das condições climáticas. Se a produção for de qualidade o vinho é feito, caso contrário as uvas vão para a produção dos vinhos de entrada. Para este vinho são apenas 12 hectares de produção, com colheita manual, em caixas pequenas de apenas 20 quilos para não prejudicar as uvas, que depois de colhidas passam 24 horas descansando em câmaras frigoríficas. Os vinhos ficam no mínimo 24 meses em barricas de carvalho, podendo chegar até 36 meses, e outros 36 meses maturando em garrafas nas fantásticas adegas, com pouquíssima luminosidade, da CVNE. Dá para entender porque este vinho ganhou 100 pontos e porque virou um ícone entre os vinhos espanhóis.
Hoje a empresa produz nada mais nada menos que 58 vinhos diferentes em 10 propriedades diferentes que fazem parte do grupo. São vinhos brancos, roses, tintos e espumantes, tem para todos os gostos. Dá para passar uma longa temporada só para conhecer este vinhos e os vinhedos da CVNE. Se você tiver a oportunidade de encontrar algum destes vinhos numa loja ou mercado, arrisque, vale a pena. Mas se você encontrar outro vinho espanhol na prateleira, não fique com medo e comece a descobrir que além de um dos melhores campeonatos de futebol do mundo, a Espanha tem também excelentes vinhos.
Dicas de semana
1 – vinho tinto Imperial Gran Reserva CVNE. Safra 2017. Blend das uvas Tempranillo (85%), Graciano (10%) e Mazuelo (5%). 14% de teor alcoólico. R$ 1.245,00 no site da Mistral;
2 – vinho tinto Cune Crianza. Safra 2020. Blend da uvas Tempranillo (85%) e Garnacha Tinta (15%). 14% de teor alcoólico. R$ 223,00 no site da Adega Online.
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