Em Curitiba não se discute mais sobre política.
Dando continuidade a matéria publicada ontem (9) sobre o primeiro turno da eleição para Prefeito de Curitiba, vamos analisar outra informação que ajuda a entender o comportamento do eleitor no processo de tomada de decisão do voto.
Durante a realização de um grupo de Pesquisa Qualitativa uma frase usada por um dos entrevistados chamou muito a atenção: “política não se discute”
Parecia mais uma expressão antiga e muito batida, mas a continuidade do debate lançou luz para uma questão que estava invisível até então.
Além do Horário Eleitoral Gratuito na TV e rádios, outra grande aposta dos candidatos sempre foi o “Boca a Boca”, ou seja, a multiplicação da campanha através da conversa entre parentes, amigos, colegas de trabalho e debates em grupos de pessoas em todos os ambientes.
Este contato pessoal, que sempre foi muito inflamado durante os períodos eleitorais, praticamente desapareceu.
A explicação dos entrevistados foi bem pertinente: “não dá mais para discutir política sem o risco de perder o amigo, o parente ou até o emprego”.
Esta pode ser uma sequela da polarização que tomou conta do país na última eleição presidencial. O debate sobre política deixou o campo das ideias e se tornou um combate pessoal que invadiu o mundo político, empresarial, acadêmico e chegou aos lares, dividindo famílias com rompimentos que deixaram marcas até hoje.
Esta dificuldade de voltar a se posicionar e sofrer críticas e retaliações inibiu muito o diálogo sobre posicionamento político e escolhas.
Ainda está muito vivo o sentimento de que escolher um lado te coloca contra os demais. Parece que ainda reverberam as frases: “ou você está comigo ou contra mim”.
A internet veio preencher este espaço. As pessoas podem se informar, pesquisar para saber como os outros estão pensando sem se expor. É mais fácil exercer sua individualidade e liberdade de escolha no mundo virtual, onde cada um é dono de sua verdade, e não precisa enfrentar discordância.
Podem até deletar ou “cancelar” quem pensa diferente, sem o risco de perder amigos, brigas em família ou ser prejudicado no seu trabalho.
Para pessoas que estão acostumadas a se posicionar, pode não parecer um problema, porém grande parte da população ficou intimidada para o confronto de opiniões e tomada de decisão, esperando até o último minuto para sua escolha solitária.
Se observarmos a nossa volta, vamos encontrar famílias inteiras que foram as urnas e cumpriram seu dever cívico, porém nenhum sabe o voto do outro. Com medo até de perguntar.
Acredito que boa parte deste distanciamento também pode ser resultado do isolamento de quase dois anos na pandemia. Fomos obrigados a viver fechados em casa, sem contato físico nem com os familiares mais próximos, com medo da contaminação, trabalhando, estudando em home office, se comunicando basicamente pelo fone ou vídeo.
Esta é mais uma dificuldade que os candidatos vão precisar levar em conta agora no segundo turno.
Leia outras colunas do Bruno Lopes aqui.