A cada ano, as regras de controle de emissões de veículos no Brasil se tornam mais rigorosas. Em 2025, entra em vigor o Proconve L8, uma rara resolução que, ano após ano, visa e consegue reduzir as emissões. Quem arca com isso, naturalmente, é o consumidor. É difícil acreditar que o governo esteja apenas preocupado com o meio ambiente, e não com sua crescente arrecadação. Afinal, a produção de veículos mais caros gera mais impostos, o que alimenta os cofres públicos que, convenhamos, pouco têm de “públicos”.
Diante disso, as montadoras que não conseguem desenvolver novos motores ou adaptar os atuais para atender às novas exigências acabam retirando modelos de linha. Uma das adaptações mais comuns é o sistema start-stop, que desliga o motor nas paradas de semáforos e congestionamentos. Em alguns modelos, felizmente, esse sistema pode ser desativado pelo motorista. Contudo, ele exige um sistema elétrico mais robusto e uma bateria de maior capacidade, que custa, no mínimo, o dobro de uma bateria convencional. Isso sobrecarrega o motor de arranque e compromete o funcionamento do ar-condicionado, já que o compressor é desligado sempre que o motor para.
Ou seja, você paga mais caro pelo veículo, enfrenta custos de manutenção mais altos e perde um pouco de conforto em dias quentes, mas seu carro emitirá menos poluentes. Certo? Talvez. Se você estiver utilizando etanol, por exemplo, todo esse esforço pode ser desnecessário, já que o combustível já emite menos poluentes sem precisar dessas tecnologias. Em alguns modelos, até a capacidade do tanque de combustível foi reduzida para acomodar os sistemas de controle de emissões prejudicando a autonomia.
Agora surgiram os primeiros híbridos leves. Sempre uma nova nomenclatura, mas sem motores elétricos potentes que ajudam a impulsionar o carro e a gerar uma economia significativa. Na prática, é uma evolução do sistema start-stop, mas agora, além de uma bateria de maior capacidade, há uma outra de lítio, pequena e de baixa capacidade, que fica instalada em alguns modelos, abaixo do banco do motorista e que um dia também terá que ser substituída. O motor de arranque tradicional é substituído pelo BSG, Belt Started Generator, um alternador especial, mais robusto, que não só gera e regenera energia das duas baterias, mas também dá a partida e atua um pouco nas arrancadas e acelerações. Isto sinaliza um padrão que provavelmente será adotado pelos demais fabricantes.
O resultado é uma maior economia no uso urbano do que no rodoviário, e, claro, o atendimento à regulamentação de emissões de 2025. O ar-condicionado, que agora é mais potente, ainda vai parar de funcionar quando o carro estiver parado, e, dessa vez, não há como desativar o sistema. Imagino o desconforto de viajar com o carro lotado em um calor intenso, enfrentando congestionamentos intermináveis. Voltar ao tempo das janelas abertas parece ser a única solução.
Nas propagandas e nas concessionárias, tudo é feito para convencer você de que, apesar do preço mais alto, você está adquirindo um veículo mais tecnológico, econômico e sustentável. Em alguns estados, não todos, é claro, até o IPVA e o rodízio são isentos para esses novos modelos, o que soa um tanto injusto, considerando o impacto limitado dessa tecnologia e o fato de que outros veículos, também dentro do Proconve L8, mas que não são híbridos leves, não recebem os mesmos benefícios.
Vamos acompanhar de perto e, no próximo ano, realizar testes imersivos dessas e outras tecnologias automotivas. Que 2025 seja um ano melhor do que as previsões que tentam nos atormentar.
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