Se você é empresário ou gestor, aqui vai um dado impossível de ignorar: os afastamentos por ansiedade e depressão nunca estiveram tão altos. Isso significa que, enquanto sua empresa segue focada em metas, produtividade e faturamento, a base que sustenta tudo isso, “as pessoas” está desmoronando.
E a pergunta que ninguém quer responder é: o que você está fazendo a respeito?
Porque não adianta promover palestra motivacional, oferecer uma assinatura de aplicativo de meditação ou colocar pufes coloridos na sala de descanso se a cultura da empresa continua pressionando os funcionários até o limite. O ambiente de trabalho se tornou um dos principais gatilhos de ansiedade, e fingir que isso não está acontecendo não vai impedir que o problema exploda dentro do seu próprio negócio.
A ansiedade é uma reação natural do corpo ao estresse, mas quando esse estado de alerta se torna constante, ele se transforma em um problema sério. No ambiente corporativo, a pressão por desempenho, a cultura do “sempre disponível” e a insegurança profissional, criam o cenário perfeito para que essa condição se instale de forma crônica. O funcionário começa a perder o sono, vive em estado de tensão e sente um medo constante de falhar. Ele pode até continuar entregando, mas a que custo?
A questão não é se sua empresa será afetada por isso ela já está sendo. A ansiedade não escolhe nível hierárquico, setor ou tempo de casa. Ela corrói a produtividade, mina a criatividade, desacelera as entregas e transforma profissionais brilhantes em sombras do que poderiam ser. E, quando o limite chega, as consequências são inevitáveis: afastamentos médicos, demissões inesperadas, turnover alto e um time cada vez mais esgotado e improdutivo.
Se você acha que sua empresa não tem nada a ver com isso, pare e observe. Quantos dos seus funcionários estão sempre online, respondendo mensagens fora do expediente? Quantos já não demonstram o mesmo entusiasmo de antes? Quantos aparecem para o trabalho, mas claramente não estão 100% ali? O presenteísmo quando o funcionário está fisicamente presente, mas mentalmente distante já virou rotina no mundo corporativo. E é justamente esse tipo de funcionário que mais custa caro. Ele não sai, mas também não entrega.
Agora pense no impacto financeiro disso. Quanto custa para sua empresa perder talentos porque eles não aguentam mais um ambiente desgastante? Quanto custa ter que repor profissionais constantemente porque os que entram percebem rápido demais que aquele não é um lugar sustentável? Quanto sua empresa já perdeu com erros cometidos por equipes exaustas, que operam no automático e sem energia para inovar?
Esse cenário não afeta apenas as empresas de forma isolada, mas a economia como um todo. Um mercado onde o adoecimento mental se tornou rotina perde competitividade, reduz seu potencial de inovação e gera custos bilionários com afastamentos. Ignorar essa realidade não é apenas irresponsável é um erro estratégico.
A ideia de que “quem aguenta pressão se destaca” está ultrapassada. O mercado mudou, e os profissionais também. Ninguém mais quer trabalhar em um lugar que exige tudo e dá quase nada em troca. Empresas que não entenderem isso agora vão sentir o impacto na pior forma possível: com fuga de talentos, produtividade instável e uma reputação que, aos poucos, afasta os melhores profissionais do mercado.
A solução não está em remendos paliativos, mas em mudanças reais. Empresas que realmente querem combater a crise de ansiedade no trabalho precisam reformular suas práticas. Isso significa estabelecer limites claros, treinar lideranças para identificar sinais de esgotamento, ajustar expectativas de produtividade e, principalmente, criar um ambiente onde os funcionários não sintam que precisam escolher entre ter uma carreira ou ter saúde mental.
Mas isso exige mais do que boa vontade. Exige decisão e mudança de postura. Empresas que esperam que a nova geração se adapte ao modelo ultrapassado de trabalho estão fadadas a falhar. Hoje, os profissionais têm voz, têm escolhas e buscam qualidade de vida. E se sua empresa não oferecer isso, pode ter certeza: outra empresa vai.
No final do dia, a escolha é simples: sua empresa pode ser parte da solução ou continuar sendo parte do problema. Mas uma coisa é certa – ignorar essa crise não vai fazer com que ela desapareça. Vai apenas garantir que, quando a conta chegar, ela seja ainda mais alta.
Você tem atuado na redução dos níveis de ansiedade da sua empresa?
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