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28/04/2024



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Como os russos influenciaram a eleição presidencial estadunidense de 2016

 Como os russos influenciaram a eleição presidencial estadunidense de 2016

As eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2016 foram vencidas por Donald Trump. Este processo eleitoral foi fortemente influenciado pelas ações de guerra cibernética então desenvolvidas pelos russos, interessados em impedir a vitória da candidata do Partido Democrata, Hillary Clinton. No processo tiveram importância decisiva duas entidades, uma estatal e outra privada. Da parte do aparelho de Estado da Federação Russa atuou o Departamento Principal de Inteligência do Estado-Maior do Exército Russo (o GRU, na sigla em russo). Outra entidade importantíssima foi a fundação privada Agência de Pesquisa da Internet (Glavset, na sigla em russo). O estudo da maneira pela qual tais entidades agiram para influenciar a eleição do candidato de sua escolha serve como importante advertência para os riscos da negligência nas atividades de inteligência eletrônica, monitoramento e supervisão das mídias relacionadas à segurança nacional brasileira.

 

A Glavset foi criada em 2013 em São Petersburgo e empregava então cerca de 400 pessoas. Naquela época estava sob controle de Yevgeny Prigozhin, um bilionário russo frequentemente associado ao Presidente Putin. Posteriormente ele viria a ser conhecido também como organizador e principal financiador da Empresa Militar Privada conhecida como o Grupo Wagner, de intensa atuação em diversos conflitos armados no continente africano e na atual Guerra da Ucrânia. Na Primeira Guerra da Ucrânia (2014) já haviam sido empregados pelos russos diversas ações de guerra cibernética para falsificar resultados eleitorais e desmoralizar o processo democrático ucraniano.

 

A guerra cibernética travada por estas entidades nas eleições dos EUA em 2016 atuou em três principais atividades. A primeira se referia à espionagem das comunicações telefônicas e cibernéticas da candidata Hillary Clinton e membros de sua organização de campanha. Foram roubados documentos e grampeadas conversações sigilosas da candidata. Os resultados desta espionagem eram repassados ao comitê de campanha de Donald Trump, permitindo explorar vulnerabilidades e expor operações de sua adversária.

 

A segunda dizia respeito a manipulação da opinião pública nas redes sociais. Foram empregados usuários reais e virtuais (perfis fakes), para divulgar fake news e pautar o debate político nas redes sociais a fim de manipular a opinião pública. Ainda em 2017 o Twitter admitia ter 2.752 contas de usuários da Glavset e 36.746 outras contas vinculadas à Rússia. O conteúdo assim disseminado influenciava os eleitores americanos que passavam então a replicá-los, tornando-os virais. Finalmente, uma terceira vertente de operações cibernéticas visava aumentar a polarização política, confinando a disputa apenas a dois candidatos, ao mesmo tempo em que aumentava o descrédito na democracia e a desconfiança na validade dos resultados eleitorais.

 

A guerra cibernética russa jamais seria capaz de determinar o resultado das eleições americanas, mas produziu um efeito inegável. Conseguiu tornar Hillary Clinton tão rejeitada quanto Trump, até então o detentor dos mais altos índices de rejeição pelo eleitorado. Também é altamente provável que os russos tenham conseguido diminuir a confiança do eleitor na capacidade dos EUA de realizar eleições limpas e seguras. São indicativos desta tendência o elevado número de abstenções nas eleições de 2018 e a desconfiança generalizada nos resultados das eleições recentes.

 

É urgente que o Brasil reveja sua Política de Defesa Cibernética conforme denunciado nesta coluna em “Por uma Política Nacional de Defesa” para ler clique aqui.


Dennison de Oliveira é professor de História na UFPR e participou da banca de avaliação da Dissertação em Estudos Estratégicos da Defesa e da Segurança da Universidade Federal Fluminense de Linneo Augusto dos Santos Torres Machado intitulada “Intervenção Eleitoral na Era Cibernética: Um Estudo de Caso da Interferência Russa na Eleição Estadunidense de 2016” (2022) para ler clique aqui.


Leia outras colunas do Dennison de Oliveira aqui.

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