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Curitiba será a cidade com mais ciclovias no mundo

28/03/2023
ciclovias

Curitiba ainda não é, mas poderá um dia vir a ser a cidade com mais ciclovias no mundo. Quando dispuser desta infraestrutura de ciclovias cada habitante desejará ter sua bicicleta. Haverá de chegar o dia em que a maioria dos curitibanos lembrará que a cidade tem que ser feita para as pessoas, não para os automóveis. E neste dia cada curitibano olhará com horror para o número de acidentes com ciclistas – inclusive com mortes – e exigirá uma solução definitiva.

 

A solução será cicloviarizar toda Curitiba: implementar ciclovias para uso exclusivo dos ciclistas, delimitada do resto das vias de circulação por uma barreira física contínua. Este processo de implantação de ciclovias começará pela conversão para esta finalidade da maioria das áreas de estacionamento de automóveis do Estacionamento Regulamentado (Estar) presentes nos Eixos Estruturais.

 

O exame da configuração dos Eixos Estruturais, que constituem os Trinários do nosso planejamento urbano, ao centro dos quais trafegam em faixas exclusivas os Ônibus Expressos, explicita o problema. É visível como sucessivas gestões municipais repudiaram a diretriz antes central no urbanismo curitibano de que a cidade tem que ser feita para as pessoas, não para os automóveis.

 

Nos Eixos Estruturais, margeando a canaleta central de mão dupla onde circulam os Ônibus Expressos existem duas faixas de mão única, uma em cada sentido, para tráfego dos demais veículos. Ao longo destas existe uma ciclofaixa pintada no chão. Tal ciclofaixa não é exclusiva de uso dos ciclistas, mas sim “compartilhada” com os demais veículos. Também ao longo de ambas as faixas de mão única existe em todas as quadras local para estacionamento de automóveis.

 

O privilégio do automóvel é total: não só possui espaço reservado para estacionar como ainda sujeita os ciclistas a “compartilharem” o espaço da pista. É visível o absurdo de pretender que seja viável para o ciclista compartilhar a via com veículos seis vezes maiores e dez vezes mais pesados. E não há nada de surpreendente no fato de que em caso de acidentes apenas os ciclistas sejam as vítimas. Embora lamentável, é compreensível a prática de tantos ciclistas que preferem se arriscar trafegando ilegalmente na via central, disputando um espaço que deveria ser exclusivo dos Ônibus Expressos.

 

O dia em que a maioria dos curitibanos lembrar que a cidade tem que ser feita para as pessoas, não para os automóveis, a configuração dos Trinários será mudada. Pelo menos uma – senão ambas – faixas paralelas à canaleta dos Ônibus Expressos terá convertida o estacionamento de automóveis em ciclovia exclusiva. Assim, não só o uso “compartilhado” da pista com os demais veículos será extinto, como também terá fim os acidentes entre ciclistas e os Ônibus Expressos. O irresistível apelo da cidade com mais ciclovias no mundo terá o potencial de converter cada curitibano em um ciclista.


Dennison de Oliveira é professor de História na UFPR e autor de “Curitiba e o Mito da Cidade Modelo” (Ed. Da UFPR, 2000) disponível aqui.

 

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