Em seis de maio de 1965 a Organização dos Estados Americanos (OEA) em sua 10ª. Reunião de Consulta aprovou a intervenção de uma força interamericana no conflito então em curso na República Dominicana. O objetivo declarado da intervenção era pôr fim à guerra civil naquele país, restabelecer a paz, a ordem e restaurar a democracia, garantindo a segurança necessária para a realização do processo eleitoral que deveria instaurar um novo governo. Na prática se buscava evitar a iminente tomada do poder pelas forças de esquerda.
Antes mesmo da decisão da OEA já haviam chegado a República Dominicana os efetivos da 82ª Divisão Aerotransportada dos EUA. O contingente americano chegou a somar mais de 42.600 homens e, além dos elementos de combate, também tomou a seu cargo a logística e abastecimento das forças que comporiam a missão.
Naquele mesmo mês começaram a chegar àquele país os efetivos designados para compor a assim chamada Força Interamericana de Paz (FIP). Foram enviados militares do Brasil (1.200 homens), Honduras (250), Paraguai (184), Nicarágua (170) e Costa Rica (20).
A missão militar brasileira durou cerca de um ano e meio. Seus efetivos foram revezados três vezes, numa base semestral. No total participaram mais de 3.000 militares do Brasil, o maior efetivo (840 homens) foi do Exército, oriundos do I Batalhão do Regimento Escola de Infantaria e o restante do Corpo de Fuzileiros Navais, ambos sediados no Rio de Janeiro. Dentre as baixas se incluem oito feridos em ação e quatro mortos, todos em acidentes. Aos brasileiros coube exercer o comando da FIP a maior parte do tempo.
A atuação brasileira decorreu em três fases. A primeira abrange o período de maio até outubro de 1965, voltada à repressão aos conflitos armados. A segunda, de outubro de 1965 até abril de 1966 foi dedicada à manutenção da ordem pública. A fase final de abril até setembro de 1966 foi voltada ao treinamento da tropa brasileira para futuras operações de intervenção do mesmo tipo. Pela primeira vez foi usado em ação o recém-introduzido Fuzil Automático Leve (FAL), um substituto muito necessário dos então adotados Fuzis Mauser, cuja origem remonta aos contratos de aquisição firmados com a Alemanha em 1906 e 1922.
O balanço oficial da experiência é exitoso. De acordo com os registros oficiais da FAIBRÁS os brasileiros receberam uma lição viva da Guerra Revolucionária de inspiração comunista. Os brasileiros teriam sido expostos as pressões sociais e populares, ameaças, sabotagens, sequestros, terrorismo e guerrilhas. Na fase final da missão as tropas brasileiras estavam sendo treinadas para atuar em operações de transporte aéreo com helicópteros, guerra na selva e guerra na montanha, sempre com foco na atividade antiguerrilha. Também foram realizadas operações cívicas, destinadas a oferecer serviços sociais nas áreas de saúde e educação às populações rurais daquele país.
A atuação da FAIBRÁS se insere num contexto de intenso alinhamento automático do Brasil à política externa estadunidense. O Brasil havia reconhecido o governo de Fidel Castro que tomou o poder em Cuba em 1959. O país se absteve na votação que expulsou Cuba da OEA em 1962. Já em 1964, houve o rompimento de relações diplomáticas do Brasil com Cuba, as quais só seriam retomadas ao fim da Ditadura Militar (1964-1985).
Os contatos entre autoridades brasileiras e dos EUA que levaram à constituição da FAIBRÁS foram conduzidos pelo General Castello Branco, recém alçado ao cargo de Presidente da República pelo golpe militar de 1964 e o adido militar dos EUA na Embaixada estadunidense, o General Vernon Walters. Este último trabalhava para a Central de Inteligência Americana (CIA) e foi um dos conspiradores que articulou o apoio dos EUA à derrubada do Governo constitucional de João Goulart em 31/03/1964.
Embora tenha sido oferecido intenso treinamento às tropas brasileiras na atuação contrarrevolucionária, na expectativa de participar de novas forças de intervenção, a experiência da FAIBRÁS não voltaria a se repetir. O fim do governo Castello Branco significou a relativização do alinhamento automático do Brasil à política externa dos EUA.
O Brasil não só não voltaria a participar de forças de intervenção na América Latina como aliado dos EUA como também resistiu a todas as sugestões estadunidenses de apoiar o esforço militar daquele país na Guerra do Vietnã (1961-1973). Contudo, as forças armadas brasileiras voltariam à atuar na ilha Hispaniola no mar do Caribe entre 2004 e 2017, desta vez no Haiti. Os brasileiros atuaram no país vizinho à República Dominicana no decorrer da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti ou MINUSTAH, uma iniciativa que legou um impacto consideravelmente maior sobre as nossas forças armadas do que a FAIBRÁS.
Dennison de Oliveira é professor de História na UFPR e autor do livro “História Contemporânea” (IESDE, 2008). Leia outras colunas aqui.
1 Comentário
Professor. Belo artigo.
Infelizmente o sr. talvez por convicçao ideologica pinta de vermelho o seu artigo…
Seja fiel a história como deve ser um historiador sério, para não perder a credibilidade .
Não se misture como rede globo, cnn e outros meios de comunicação que imaginam que as pessoas não tem capacidade de analise.
obrigado.