Não causou surpresa o recente anúncio (14/09) do Exército Brasileiro (EB) postergando a modernização dos seus velhos tanques (1980) de projeto alemão Leopard 1A5. A medida foi tomada devido “à alta demanda de peças para blindados no mercado internacional” que ocorre em função da procura deste tipo de equipamento por parte da Ucrânia desde a invasão russa. Diante deste cenário de total e irresponsável dependência de fornecedores externos até para manter atualizados seus velhos tanques, o Exército Brasileiro deveria considerar se desfazer e vender todos seus Leopard.
O Brasil comprou do Exército Belga, entre 1997 e 2000, 128 tanques usados do modelo Leopard 1A1, cuja origem remonta a 1965. Posteriormente em 2009 foram adquiridos do Exército Alemão outros 250 tanques Leopard 1A 5 usados, um projeto que datava dos anos 1980. O Brasil também pretendeu adquirir o modelo Leopard 2, que suporta as versões mais recentes e atualizadas do veículo, mas é difícil que o negócio ainda venha a ser consumado. Finalmente, em 2013 o Brasil comprou 34 veículos blindados antiaéreos usados Gepard 1A2 do Exército alemão, um projeto que remonta a 1976, também um produto da mesma empresa alemã Krauss-Maffei Wegmann que fabrica os Leopard.
O que impressiona em todas estas compras é a absoluta e absurda dependência brasileira no que diz respeito aos fornecimentos e infraestrutura necessárias ao funcionamento destes veículos. Todas as unidades de treinamento, na forma de réplicas de torres vazadas para instrução, simuladores digitais etc. foram importadas. Também todas as máquinas, ferramentas, peças de reposição etc. para os tanques também são de origem estrangeira. Finalmente, toda munição a ser utilizada por estes tanques também tem que ser importada.
Diante da inevitável e irreversível obsolescência destes veículos o EB inicialmente pretendeu comprar para eles novos sistemas de tiro, de comando e controle, de ar-condicionado e optrônicos. Superada essa fase se poderia avançar na modernização para incluir numa fase subsequente também sistemas a laser, de giro da torre e pontaria do canhão, de navegação, anti-incêndio e de fonte auxiliar de energia. Contudo, devido aos elevados custos, tal programa foi desde o início limitado a apenas 52 dos tanques existentes.
Agora o EB descobriu que nenhuma destas alternativas é viável, justamente pela elevada demanda no mercado internacional por este tipo de equipamento e sua quase total dependência de fornecedores estrangeiros. Diversos países membros da aliança militar da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) se comprometeram a enviar para a Ucrânia centenas de tanques Leopard 1 e 2, bem como suas munições e peças de reposição. O problema é que Brasil depende para modernizar seus tanques de empresas da Alemanha, Bélgica, França, Itália, Israel, Turquia e Suíça.
É trágica e perigosíssima a dependência brasileira de fornecedores estrangeiros para fazer seus tanques funcionar e combater. O exemplo ucraniano é eloquente nesse sentido. Atualmente a Ucrânia depende quase que totalmente de fornecedores estrangeiros para obter, adaptar, modernizar, consertar, municiar, abastecer e reparar seus tanques, face à inexistência de autossuficiência em tão crítico setor. Frequentemente os tanques ucranianos atingidos em combate têm que ser enviados até a Polônia ou Alemanha para serem reparados. Em comparação a autossuficiência russa nesse quesito permite realizar a maioria dos consertos nos tanques atingidos já na retaguarda imediata da linha de frente, reduzindo o tempo de indisponibilidade e ajudando as unidades a manterem completos seus efetivos de tanques.
A busca desesperada dos países europeus por peças de reposição para os velhos Leopard 1 enviados à Ucrânia tem produzido cenas grotescas de retrocesso tecnológico e industrial. Na Grã-Bretanha e na Dinamarca autoridades estão confiscando peças e veículos do tipo expostos em museus militares para serem enviadas à Ucrânia. A figura de retórica de um exército condenado a lutar usando peças de museu é, nesse caso, uma realidade literal.
No primeiro semestre deste ano o Brasil foi pressionado pelas autoridades alemãs a venderem à Ucrânia seus estoques de munição para canhão dos Leopard. Também houve pressões para que vendêssemos a munição dos Guepard. Ambos pedidos foram negados.
Face a impossibilidade de renovar e atualizar tais veículos, o Brasil deveria reconsiderar esta atitude. Defendo aqui o ponto de vista de que temos uma imperdível janela de oportunidade para nos desfazermos não apenas na munição, mas também dos próprios tanques, unidades de treinamento, máquinas, ferramentas e peças de reposição relacionadas aos Leopard e Guepard.
Com os recursos assim amealhados podemos dar início a um amplo processo de pesquisa, desenvolvimento e produção de tanques de fabricação própria, como se pretendeu fazer no século passado com a extinta empresa Engesa S.A. (Engenheiros Especializados S.A.) a qual chegou a produzir milhares de veículos blindados sobre rodas, principalmente para exportação. A Engesa faliu em 1993 justamente quando estava desenvolvendo um novo tanque sobre lagartas para o mercado internacional.
Mas, até mesmo para isso, o país tem antes que encarar uma questão que antecede todas outras: qual a Política Nacional de Defesa e qual papel que nela desempenham – ou não – os tanques? O tema já foi objeto desta coluna em “Por uma Política Nacional de Defesa” para ler clique aqui.
Dennison de Oliveira é professor de História na UFPR e autor de “Extermine o Inimigo – Blindados Brasileiros na Segunda Guerra Mundial” para adquirir clique aqui.
O problema é que não tem um carro de combate moderno com peso de 45 toneladas a 50 t no máximo, e este é o limite que o Exército busca devido nossa malha de transporte, e desenvolver um CC aqui custaria muito e levaria tempo.
Pode-se desfazer dos tanques. Denilson de Oliveira está certíssimo. Na Ucrânia, eles, tem baixa eficiência por serem alvos fáceis. Muito melhor será investir na produção de drones e mísseis.
Não temos inimigos externos em potencial. Não precisamos de blindados pesados. Precisamos sim de blindados leves e rápidos artilhados com lança -foguetes, mísseis ou canhões automáticos.