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28/04/2024



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O Golpe Militar de 1964 sessenta anos depois

 O Golpe Militar de 1964 sessenta anos depois

Decorridos sessenta anos do Golpe Militar de 1964 o evento ainda é referido com base em interpretações equivocadas, falsificadas, anacrônicas e até mesmo mentiras integrais. Diferentes segmentos militares, das três forças armadas, da ativa e da reserva, seguem acreditando e divulgando a mentira da Revolução Redentora e Democrática de 31 de março de 1964 que, supostamente, atendendo ao clamor popular, teria salvado o Brasil do comunismo. É importante examinar o impacto e as consequências derivados desta postura.

 

Ao contrário do senso comum sobre a História recente do Brasil, é decisivo notar que faz muito tempo que dispomos de um sólido conjunto de conhecimentos precisos e objetivos sobre as circunstâncias em que se deu o Golpe Militar de 1964. Para além dos depoimentos das personalidades diretamente envolvidas, tanto legados no calor dos acontecimentos como aqueles elaborados muito tempo depois, dispomos de uma variedade de fontes empíricas que revelam, em seu essencial, o que de fato aconteceu naqueles dias.

 

Desde a década de 1970 diversos acervos documentais, civis, militares e diplomáticos, contendo fontes primárias escritas, faladas, imagísticas e audiovisuais, de origem nacional e estrangeira, tem sido extensivamente explorados e investigados. Com base nestas fontes históricas emergem várias certezas.

 

O consenso vigente e há tempos estabelecido pela historiografia desmente de forma categórica a fantasia da Revolução Redentora e Democrática de 31 de março de 1964. Desde 1977 que se tornou público o papel do governo dos Estados Unidos da América no apoio à conspiração que derrubou o governo João Goulart em 1964, bem como nos preparativos para sustentar militarmente os golpistas na hipótese de o golpe degenerar em uma guerra civil. Já desde 1981 é conhecida em detalhes a atuação das principais organizações civis, entidades empresariais, sindicatos, partidos, igrejas, imprensa etc. que se articularam para, em conluio com os militares de extrema-direita, organizar, patrocinar, sustentar e conduzir a conspiração que perpetrou o Golpe Militar de 1964.

 

Desde então diversas pesquisas têm aprofundado diferentes aspectos da história da conspiração que derrubou o Presidente Jango e instaurou um governo chefiado pelo General Castello Branco. Um passo importante nesse sentido foi a abertura dos arquivos de instituições estadunidenses envolvidas, como o Departamento de Estado, a Agência Central de Inteligência (CIA), a Marinha de Guerra dos EUA dentre outras. Inversamente, jamais surgiram provas de ações ou propostas, seja do movimento comunista internacional, seja do governo João Goulart, no sentido da “comunização” do Brasil.

 

Na contramão desta imensa e bem fundamentada base empírica proporcionada por diferentes fontes históricas trafega o negacionismo terraplanista da Revolução Redentora e Democrática de 1964. As consequências desta abordagem são graves. No que diz respeito aos militares das três forças armadas isso implica na imposição do desconhecimento do fracasso da então vigente Doutrina de Segurança Nacional (DSN), da ignorância da subordinação da condução estratégica da defesa brasileira aos ditames e interesses de Washington, na justificativa e normalização dos métodos ilegais e criminosos da “guerra suja” contra as organizações terroristas de esquerda que surgiram depois do golpe de 1964, na cegueira para o caráter de classe das políticas econômicas e sociais imediatamente implementadas pelos que derrubaram o governo constitucional de João Goulart. A esse respeito é dedicada a coluna “As reformas do governo Castello Branco e seu legado (1964-1966)” para ler clique aqui.

 

No Relatório da Comissão Nacional da Verdade de 10 de dezembro de 2014 consta em sua Parte V uma série de conclusões e recomendações. Dentre outras cabe citar as Medidas Institucionais ali sugeridas como o reconhecimento pelas Forças Armadas de sua responsabilidade institucional pela ocorrência de graves violações de direitos humanos durante a ditadura militar (1964 a 1985); o prosseguimento e fortalecimento da política de localização e abertura dos arquivos da ditadura militar; a reformulação dos concursos de ingresso e dos processos de avaliação contínua nas Forças Armadas e na área de segurança pública, de modo a valorizar o conhecimento sobre os preceitos inerentes à democracia e aos direitos humanos; a modificação do conteúdo curricular das academias militares e policiais, para promoção da democracia e dos direitos humanos.

 

Uma década se passou e nenhuma destas medidas ainda foi implementada. É necessário e urgente que o Ministério da Defesa e o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania assumam estas tarefas legadas pelas sugestões do Relatório da Comissão Nacional da Verdade. Somente assim será possível pôr fim definitivo à mentira histórica da Revolução Redentora e Democrática de 31 de março de 1964.

 

Leia outras colunas do Dennison de Oliveira aqui.

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