Há um ano fui agraciado com o honroso convite para integrar o time de colunistas do recém-criado HojePR, publicando minha primeira coluna alguns dias depois (9/03/2022). Desde então foram publicadas 31 colunas na média de um texto a cada 12 dias. No decorrer deste período me esforcei em divulgar o Estado da Arte nas temáticas afetas à minha área de atuação, a História Contemporânea, aplicado a diferentes temas, sempre contando com o estímulo e apoio constante da direção do HojePR.
Os textos publicados tiveram como fundo comum a recusa em considerar o conhecimento histórico como algo morto e enterrado, confinado apenas no passado. Pelo contrário, a coluna se esforçou por demonstrar a utilidade do pensamento histórico para entender o presente e, em algum grau, também para antecipar tendências futuras. Cabe fazer aqui um balanço desta experiência.
No que se refere à frequência das temáticas abordadas o 1º lugar é ocupado por temas políticos, jurídicos e administrativos. Nada menos de nove colunas abordaram tais temas, sempre descrevendo as origens históricas dos problemas apontados e sugerindo soluções na forma de novas normas ou apenas exigindo o cumprimento das já vigentes. Esta ênfase se deve ao fato de que como profissional e cidadão considero a atual Crise de Autoridade a mais grave e pior ameaça ao destino do país. Não perderia por nada a oportunidade oferecida pelo HojePR de usar a coluna para tentar alertar e conscientizar a cidadania brasileira sobre os riscos e ameaças a que estamos expostos devido à tal Crise de Autoridade.
A coluna “Quem o Congresso Nacional representa”, publicada em 22/03/2022, notava a aberrante desproporção entre bancadas legislativas no Congresso Nacional e o tamanho das populações de cada estado da federação legada pelo Pacote de Abril de 1977. O resultado desde então é a super-representação dos Estados das regiões Norte e Nordeste em detrimento dos do Centro-Sul do país. Para reinstituir o princípio basilar da democracia segundo o qual cada eleitor vale um voto cabe considerar a adoção do Voto Distrital. Outra distorção aberrante foi tratada na coluna “A proliferação descontrolada de municípios no Brasil” publicada em 05/04/2022. A saída proposta era a extinção de 91% dos municípios brasileiros, tidos como inviáveis financeira e administrativamente, constituindo-se em entraves insuperáveis ao pleno funcionamento do Pacto Federativo.
A metodologia anticientífica e antidemocrática adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi questionada na coluna “O mito do Brasil de maioria negra” publicada em 03/05/2022. A solução proposta implica na adoção pelo IBGE da resposta aberta à autodeclaração dos indivíduos sobre sua origem étnica/regional/racial.
O ultra presidencialismo estadual foi objeto de crítica na coluna “A república dos governadores” publicada em 07/06/2022. No texto foram citadas várias iniciativas que poderiam ajudar a relativizar o poder autocrático, antirrepublicano e centralizador que os governadores dos Estados exercem atualmente. O mesmo sentido se encontra presente no texto “Ditadura do Judiciário” publicado em 14/06/2022. A coluna denunciava as figuras antidemocráticas e antirrepublicanas do juiz-legislador e do juiz-marajá para cuja erradicação se requer apenas que seja cumprida a Constituição.
Igualmente crítica era a coluna “Ministério Público: entre ativismo e omissão” publicada em 09/08/2022. Uma vez mais era notada e denunciada a distância entre a norma constitucional e a prática concreta das instituições, no caso, do Ministério Público. O caráter puramente formal e, na prática, cada vez mais negligenciado da imposição das leis e normas vigentes também foi alvo de crítica na coluna “Dia do Professor sem professor habilitado” de 18/10/2022. O texto denuncia como as exigências legais impostas para o exercício da profissão de professor no Brasil tem se tornado letra morta, graças à omissão criminosa de diferentes instituições públicas e privadas. A desprofissionalização do ofício de professor é uma política ruinosa que precisa ser urgentemente revertida, para tanto basta cumprir as normas.
Algumas datas comemorativas se prestaram a considerações mais amplas sobre a necessidade e urgência de reformas políticas, administrativas e de Estado. O aniversário da Proclamação da Independência suscitou uma reflexão sobre a nova fase do processo histórico de recolonização brasileira pelas potências imperialistas mundiais iniciado em 1990, como abordado na coluna “O Século da Humilhação brasileiro” de 06/09/2022. Na mesma linha seguiu-se na data comemorativa da instauração do regime republicano a coluna “A República que nunca foi” de 15/11/2022. Dentre as sugestões ali apontadas para superar o caráter antirrepublicano do regime vigente destaca-se a extinção imediata de todos os cargos de livre nomeação como são os conhecidos “Aspones”.
Em segundo lugar na frequência das temáticas abordadas consta a da principal área de especialidade deste colunista. Nada menos de seis colunas se dedicam à História Militar. A primeira destas era voltada para a questão “Por que o Brasil não foi lutar na Guerra da Coréia?” de 12/04/2022 oferecendo um quadro comparativo com a atualidade com referência a um contexto em que se buscava conciliar uma política externa não-alinhada com os desafios do desenvolvimento econômico e social. A coluna seguinte “O que foi a Força Expedicionária Brasileira” de 26/04/2022 explicita os dilemas e implicações da constituição deste tipo de efetivo no presente e no futuro, sempre à luz da experiência histórica.
O aniversário da entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial foi rememorado na coluna “80 anos da declaração de guerra à Alemanha nazista” de 24/05/2022. O texto enfatizou a importância das relações bilaterais com os países vizinhos numa época de extrema fragilidade militar. As questões relacionadas à participação brasileira nas forças de paz estão abordadas no texto “O que foi o Batalhão Suez” de 21/06/2022. A coluna coloca questões que seguem válidas para o processo de tomada de decisão quanto ao envolvimento brasileiro neste tipo de iniciativa. O perigo representado pela espionagem e corrupção estrangeira foi tratado também com base na experiência histórica no texto “A Argentina e a subversão nazista durante a Segunda Guerra Mundial” de 01/11/2022. Finalmente, os riscos e contradições do alinhamento automático da política externa brasileira à dos Estados Unidos foram comentados na coluna “O que foi o Destacamento Brasileiro da Força Interamericana de Paz (FAIBRÁS)” de 14/02/2023.
Em terceiro lugar na frequência dos temas abordados aparecem os textos dedicados a outro tema de especialidade deste colunista, a Política Nacional de Defesa, com cinco colunas. O absurdo do elevado gasto militar em políticas de defesa inúteis e arcaizantes é denunciado no texto “Por uma Política Nacional de Defesa” publicado em 29/03/2022. São claramente apontadas quais deveriam ser as prioridades nacionais nesta área. Os riscos e implicações do intenso envolvimento político dos militares são descritos e analisados com base histórica na coluna “O fim da Doutrina Góes Monteiro e a crise do Partido Fardado” de 23/08/2022. A omissão criminosa dos representantes do povo face as questões fundamentais afetas a segurança nacional foi denunciada na coluna “O Congresso e a Defesa Cibernética Nacional” de 04/10/2022. O arcaísmo e irracionalidade da Política Nacional de Defesa em paralelo com a nefasta politização dos militares foi explicitada na coluna “Os militares não devem voltar aos quartéis” de 13/12/2022. Finalmente, a inépcia e incompetência das lideranças da área é o tema da coluna “O fracasso da transição na área da Defesa” de 24/01/2023. As razões para a demanda do texto pela demissão da cúpula da Defesa seguem inteiramente válidas desde então.
O quarto lugar das temáticas abordadas é ocupado por duas áreas distintas, empatadas no número de quatro colunas cada. Uma delas é a Política e História econômicas, um tema de predileção em minha atividade docente. A primeira coluna a respeito do tema rebate e denuncia o dogma rentista vigente explicitando que “Juro alto não segura inflação” de 15/03/2022. O texto propõe que seja proibido a ocupação de qualquer cargo no Banco Central por banqueiros ou ex-banqueiros por conta do conflito de interesse descrito na coluna. As origens reais da inflação são revistas historicamente no texto “A morte do Plano Real e a volta da inflação inercial” de 17/05/2022. A coluna aponta para a necessidade de se voltar a reindexar os reajustes salariais pela inflação, um tema até aqui largamente ignorado pelas lideranças sindicais, para desgraça e desespero de seus representados. As condições históricas que tornaram possível o papel de diferentes governos na promoção do crescimento econômico e na adoção de políticas setoriais são interpretadas em duas colunas: “Ditadura Militar e Indústria Cultural” de 31/05/2022 e “As reformas do governo Castello Branco e seu legado (1964-1966)” de 29/11/2022.
Os temas estaduais também ficaram em 4º lugar, com quatro colunas dedicadas a Problemas Paranaenses. No exame destas questões pude utilizar minha experiência como analista de políticas públicas, na forma de um acúmulo de conhecimentos cuja origem remonta ao meu processo formativo em nível de pós-graduação e que se estendeu até recentemente.
A proporção irrisória de rodovias asfaltadas e duplicadas no Paraná suscitou o texto “O arcaísmo da infraestrutura rodoviária paranaense” de 19/04/2022. Não só se revelava o atraso de proporções históricas causado pelas concessões de rodovias à iniciativa privada, quanto se confirmava o caráter insolúvel dos problemas de engenharia presentes nas imediações do quilômetro 666 da BR-376 que, apenas sete meses depois, se converteria no atual gargalo permanente. Neste caso a coluna foi profética. Desde então a aplicabilidade e até a inevitabilidade da adoção das propostas sugeridas no texto para superação do problema, sempre com recurso à tecnologia já conhecida e testada, a cada dia se tornam mais e mais auto evidentes.
A pior dos vexames paranaenses é tema da coluna “Paraná lidera analfabetismo na Região Sul” de 10/05/2022. O texto critica o abandono das políticas de erradicação do analfabetismo ocorrido em tempos recentes no Paraná e suas funestas consequências. Já o desastre e abandono das políticas museais estaduais foi tema de duas colunas: “A crise do Museu Paranaense” de 28/06/2022 e ”Pela reabertura do Museu do Mate e do Parque Histórico do Mate” de 20/09/2022.
Finalmente, em 5º lugar na recorrência das temáticas abordadas aparece a Guerra da Ucrânia, com três colunas. De todos os temas é o mais desafiante, mas também o mais relevante e atual. Em todas as colunas se pretendeu oferecer um panorama dos eventos o mais fidedigno possível, ao mesmo tempo em que se arriscavam prognósticos futuros. A coluna “A Guerra na Ucrânia e seus resultados” de 09/03/2022 enfatizava as razões estratégicas pelas quais seria difícil, senão impossível, uma vitória ucraniana, o que recentemente se converteu em um consenso. O texto “A Guerra na Ucrânia terá fim?” de 05/07/2022 já antecipava um conflito de longa duração, o que também vem se confirmando desde então. O texto “Tanques para a Ucrânia” de 07/02/2023 recoloca numa perspectiva histórica o embate tanto teórico quanto prático da adoção de tanques ou armas antitanques. Tomadas em seu conjunto as colunas sobre a Guerra da Ucrânia contém considerações que conservam sua validade, uma vez que se provaram capazes de resistir ao imediatismo e superar o mero senso comum e a falta de conhecimento especializado que predominam nos grandes órgãos de imprensa que tratam do assunto.
Para o próximo ano de atividade conto seguir sendo merecedor da confiança e amizade que os gestores do HojePR tem me dedicado desde sempre. Também espero que mais leitores se ocupem de comentar e criticar os conteúdos gerados, uma condição que é indispensável para o aprimoramento da forma e conteúdo dos textos. Finalmente, e com relação à motivação para seguir com esta coluna, manifesto a confiança de que o material publicado esteja sendo ou venha a ser socialmente útil, constituindo um tipo de auxílio à divulgação e popularização do conhecimento científico que é produzido na Universidade Pública Brasileira.
Dennison de Oliveira é professor de História na UFPR, para acessar o currículo clique aqui.
Leia outras colunas do Dennison de Oliveira aqui.