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02/05/2024



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Aniversário do velho Arino

 Aniversário do velho Arino

Hoje meu pai faria 101 anos. Viveu pouco mais que a metade disso, apenas 54 anos. Arino Brazil Cubas Buchmann foi embora de repente: baixou a cabeça para colocar isca no anzol, dentro de um pequeno barco, no mar da praia de Itajuba, entre Barra Velha e Piçarras, ao amanhecer do dia 20 de fevereiro de 1977 e assim ficou. Pode ter sido enfarte, embolia pulmonar ou AVC. Jamais saberemos. O que sabemos é que o cigarro, seu parceiro desde os nove anos de idade, teve parcela fundamental de culpa.

 

O velho Arino, como meus irmãos e eu ainda o chamamos, foi um pai rigoroso, com plena consciência do quanto era difícil controlar três filhos rebeldes. Não hesitou em nos exemplar, digamos assim. Nem por isso foi menos respeitado. Pelo contrário, segue admirado por quem o conheceu.

 

Na Rádio Difusora de Joinville, ZYA-5, onde foi comentarista esportivo, era Arino Brazil. Fez carreira como executivo, em Curitiba e em Recife, e transitava com facilidade por Rio e São Paulo sem perder a alma de sertanejo. O mundo em que se sentia feliz era o do campo e do mato. Torcedor do Fluminense desde o tricampeonato carioca de 1937/38/39; motorista diferenciado, em estradas de terra e barro; carpinteiro habilidoso; apreciador de cachorros perdigueiros; atirador de grande perícia. Conhecia os segredos da vida rústica, por ter sido criado em fazendas e em serrarias, nos idos de 1920 e 1930.

 

A vida nunca foi fácil para o menino de cabelos castanhos claros e olhos verdes. Perdeu o pai com quatro anos, de doença renal, naqueles tempos em que não existia penicilina. Aos nove foi colocado em um trem em São Bento do Sul, com destino ao Colégio Santo Antônio de Blumenau. Nem sua mãe, nem o padrasto indesejado o acompanharam na viagem. Sozinho, desbravou os caminhos.

 

Orgulhava-se de seu posto de 2º Tenente da Reserva do Exército, conquistado depois de haver cursado o CPOR – Centro de Preparação de Oficiais da Reserva, em Curitiba. Foi com a farda de gala, em um baile da vitória, realizado em Joinville em comemoração à derrota nazista, em maio de 1945, que conheceu minha mãe – e dela nunca mais se afastou.

 

Flávio e Murilo, os filhos gêmeos, e eu, nos reunimos com frequência. O velho é assunto permanente, cada um com as próprias memórias da convivência paterna, inclusive porque, a partir da idade adulta dos filhos, tornou-se grande amigo de todos. Dos gêmeos era também parceiro nas aventuras pelos campos do Paraná, Santa Catarina e até do Paraguai.

 

Anos depois de sua partida, uma secretária da empresa em que eu trabalhava, foi fazer meu cadastro bancário. Quando se deparou com a filiação, foi me perguntar:

 

– Você é filho do Seu Arino Buchmann, ex-diretor da Cosepa, o homem mais bonito de Curitiba?

 

Respondi que sim. Ela me mediu de cima a baixo e completou, com desdém:

 

– Quem diria!

 

Pois então, aquele homem elegante, nascido em Campo Alegre – SC, em 26 de dezembro de 1922, hoje completaria o primeiro aniversário do seu segundo século de existência. Infelizmente, nem perto disso chegou. Mas ainda nos faz uma falta danada.

 

Leia outras colunas do Ernani Buchmann aqui.

 

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