Na época em que a Prosdócimo estava lançando o freezer vertical, o primeiro do país a habitar a cozinha – antes os freezers eram horizontais e ficavam na área de serviço – fomos gravar o comercial de lançamento nos Estados Unidos. Éramos quatro: o diretor do comercial, João Carlos Serres, o fotógrafo Dico Kremer, eu e a casca do freezer, sem motor, desnecessário para o fim pretendido.
Em Nova Iorque, onde já havia filmado e conhecia algumas pessoas, chamamos um produtor de comerciais da Macy’s, Adam Shapiro. Um sujeito magro, cheio de tiques, com o movimento dos braços coreografados, como o Zé Bonitinho, mas muito eficiente. Com alguns telefonemas, descobriu um lago congelado em Keystone, nas Montanhas Rochosas do Colorado e lá fomos nós.
O roteiro previa um esquimó chegando ao iglu da sua família, com um freezer Prosdócimo a reboque. Em Denver, Shapiro contratou o restante da equipe, mandou construir dois iglus, arrumou uma família de esquimós – incluindo duas crianças vietnamitas, como se fossem do Alasca –, mandou vir o guarda-roupa de Hollywood, contratou um helicóptero para filmar algumas cenas, dois caminhões para subirmos a montanha com tudo aquilo e instalou a trupe em um resort. Tudo em cinco dias.
A pressa era justificada. Estávamos no fim de abril e o lançamento do freezer estava previsto para o Fantástico do primeiro domingo de maio, na semana anterior ao Dia das Mães. Era a grande aposta do empresário Sérgio Prosdócimo, prevendo a mudança radical que aconteceria no design das cozinhas brasileiras, instalando o novo eletrodoméstico ao lado da geladeira e modificando para sempre os hábitos culinários das famílias.
Gravamos tudo em apenas um dia, depois do que voltamos a Nova Iorque. Bastava editar o material, incluir os efeitos especiais da assinatura, em produção em Nova Iorque, e a música-tema, antes entregar na Rede Globo em São Paulo.
Shapiro, para desanuviar o ambiente, porque havíamos tido algumas discussões, convidou Dico Kremer, Serres e eu para jantarmos em sua casa. Ali conhecemos sua mulher, uma linda cantora que adorava bossa-nova, além do gato persa do casal. Sentados em banquetas no bar da casa, passamos ao whisky. Quando eu quis ir ao banheiro, Shapiro gritou:
– Look the tail!!!
Tarde demais. Eu já havia pulado da banqueta e aterrissado sobre o rabo do gato. Depois do berro do bicho e seu consequente desaparecimento, Shapiro quis me estrangular:
– Arnuno, I hate you!
Arnuno era eu. Mesmo com uma semana dividindo apartamento em hotéis, trabalhando juntos 24 horas por dia, Adam Shapiro não conseguia pronunciar Ernani. Para ele, eu sempre seria Arnuno. Bem, não tiro as razões do Adam Xarope, considerando o que fiz com seu gato.
A verdade é que a equipe fez um ótimo trabalho, o comercial foi um sucesso, vendeu todo o estoque de freezers Prosdócimo, ganhamos o Prêmio Profissionais do Ano da Rede Globo e o anúncio fotografado pelo Dico, publicado na Veja, foi Anúncio do Ano.
Agora, Arnuno é a, deixa pra lá.
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1 Comentário
Boa! Este filme ganhou também o prêmio de melhor do milênio. Ou não?