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ERNANI-CABECA-COLUNA

Atrapalhos cotidianos

08/04/2025

Nem sempre a gente se dá conta que o nosso dia a dia é repleto de pequenas emoções, surpresas, imprevistos, frustações, chateações. Ou seja, pepinos variados, com pouca margem para boas notícias. Aumento de salário, promoção, nascimento de filho são coisas raras. Acertar a megasena, então, impossível. Segundo um filósofo popular, a vida honesta anda difícil e a desonesta está fora de cogitação – por enquanto, porque no Brasil tudo pode mudar. A cada 20 minutos, como a Band News insiste em alardear.

Para quem já chegou à terceira idade (faço parênteses: por que terceira idade? Acho que a idade adulta já é a terceira, a que estou vivendo é algo como a quinta), o dia começa com a frustração de ver as cartelas dos seus remédios diminuindo dramaticamente. Preparemo-nos para deixar a magra aposentadoria na farmácia mais próxima. Sem esquecer de comprar escova de dentes, porque a sua já esgotou o prazo de validade, as cerdas estão horizontais.

Sim, temos pequena alegria ao saber que os boletos de algum financiamento terminarão em dezembro de 2026. É um prazo muito longo? Só para quem não viu que eles começaram há oito anos, faltam só dois. Será que você sobrevive até lá?

O trânsito pode tirar a nossa paciência. Curitiba sofre atualmente de concretomania. Existem ruas sendo concretadas em todos os bairros. Na minha região, fecharam uma em setembro, anunciaram que era coisa para três semanas, mentirinha eleitoreira. Estamos em abril, sete meses depois, e agora parece que a coisa vai terminar. A justificativa é aquela de sempre: os transtornos são passageiros etc. Eu acrescentaria, são passageiros, motoristas e cobradores.

Aí o incauto sai sem guarda-chuva. Com décadas de clima curitibano no lombo, se você não aprendeu a ser previdente merece ser encharcado, sofrer com os pés chapinhando, pegar um resfriado por conta.

E as calçadas de pedras irregulares? Tropeça-se aqui e ali, torcendo para que um tropeção mais forte não nos leve ao chão ou, pior, ao hospital.

A sorte do leitor é que escrevo esta crônica na tarde de uma sexta-feira, com o laptop apoiado no volante. Estou na borracharia, enquanto aguardo que consertem o pneu do carro, mas já tomado pelo espírito de fim de semana. Só falta perguntar para a diarista a razão dela ter sumido, buscar as roupas na lavanderia e consultar a lista da dieta para saber o que posso comer.

Pensando melhor, não vou fazer nada disso. Em casa, vou abrir uma cerveja, comer fritura. Os atrapalhos, as indagações e confusões que esperem sentadas. Segunda-feira eu resolvo. Caso sobreviva, lógico.

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