O falecimento de Chloris Casagrande Justen, no último dia 8, encerrou um século de realizações desta mulher admirável. Nascida em 1923, não se conformou em ser apenas mãe de família, tarefa que desempenhou com maestria. Ao longo dos anos, tornou-se referência como educadora, poeta, líder de entidades culturais e militante das causas paranistas.
Curitibana de 1923, Chloris casou cedo com o juiz Marçal Justen, depois desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná, e com ele percorreu o estado, acompanhando o marido em suas funções de magistrado. Uma das epopeias do casal, ela com apenas 23 anos, foi a viagem para o Dr. Marçal assumir a comarca de Laranjeiras do Sul, em 1947, realizada em três dias: Curitiba-Ponta Grossa, Ponta Grossa-Guarapuava, Guarapuava-Laranjeiras do Sul. Dr. Marçal foi o primeiro juiz da cidade, logo depois da restauração do território paranaense graças à emenda supressiva encabeçada por Bento Munhoz da Rocha durante a Assembleia Constituinte de 1946, extinguindo o Território Federal do Iguaçu.
Ela contava que a residência destinada ao juiz da comarca tinha sido a residência do governador do Território, aparelhada com móveis, louças e pratarias do acervo do Itamaraty. A primeira medida do Dr. Marçal foi determinar um inventário de todos os bens ali contidos – medida que repetiu ao deixar a comarca. Era um homem rigoroso do seu dever com o patrimônio público.
Chloris, por sua vez, foi rigorosa em sua determinação. Qualificou-se como professora, foi nomeada diretora do Instituto de Educação do Paraná, passou a publicar seus poemas e a frequentar os saraus literários. Entre suas conquistas, está a sede do Centro Paranaense Feminino de Cultura, na Rua Visconde do Rio Branco, construída graças a sua capacidade de encontrar alternativas capazes de viabilizar seus sonhos.
A mesma capacidade de articulação a levou a conseguir os apoios necessários junto à Assembleia Legislativa para aprovar a lei que instituiu a obrigatoriedade do ensino da História do Paraná nas escolas. (Lei de 2001, nunca implantada).
Por último, já com 87 anos, assumiu um mandato tampão na presidência da Academia Paranaense de Letras, ela que era vice-presidente de José Carlos Veiga Lopes, falecido durante o mandato. Dois anos mais tarde, passou a cumprir seus dois mandatos completos como presidente da casa.
A partir de 2013, iniciou as tratativas para conseguir uma sede à Academia. Fundada em 1936, a APL passou a vida mendigando abrigos, no Centro de Letras, Instituto Histórico, Centro Feminino de Cultura e Sesc da Esquina.
A presidente levou sua determinação até o Palácio Iguaçu e foi graças a ela, com o apoio fundamental do então Secretário de Educação, Flávio Arns, que o Governador Beto Richa cedeu o Belvedere da Praça João Cândido para a Academia – restaurada nos anos seguintes pela Prefeitura de Curitiba, à frente o Prefeito Rafael Greca, também sensibilizado para a causa por Chloris.
Seu desaparecimento também sinaliza para o fim de uma geração de notáveis da cultura, como René Ariel Dotti, Eduardo Rocha Virmond e Luiz Geraldo Mazza, grupo agora restrito a dois ou três nomes, como Ernani Straube e Rui Cavallin Pinto, todos componentes da Academia Paranaense de Letras.
Chloris, com 101 anos, agora faz parte dos quatro acadêmicos centenários da APL. O primeiro foi Arthur Franco, falecido em maio de 1979 aos 103 anos. Foi seguido por Valfrido Pilotto, com 102 anos, morto em 2006. Flora Munhoz da Rocha foi a terceira a chegar ao centenário, falecendo aos 103 anos em 2014.
Chloris é um marco na cultura paranaense. Sua presença entre nós será perene.
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