Telê Santana assumiu a seleção brasileira com vistas às eliminatórias para a Copa da Espanha, em 1982. Chegamos a achar que o Brasil teria outra geração dourada, agora com Zico, Falcão, Sócrates, Júnior, Eder, Toninho Cerezzo, Leandro e Oscar brilhando em campo. Era o time mais revolucionário depois da laranja mecânica da Holanda de 1974 – a mais inovadora de todos os tempos, embora tenha perdido a final contra a Alemanha.
Em 1982, estreamos mal, ainda que tenhamos vencido os soviéticos – esses prejudicados pelas arbitragens tanto na Copa anterior como naquela. Depois de Valdir Perez, nosso goleiro, tomar um frangaço, o zagueiro Luizinho cometeu dois pênaltis, ignorados pelo juiz “anticomunista”. Nos jogos seguintes vieram vitórias convincentes contra Escócia, Nova Zelândia e Argentina. Nesse jogo, Maradona meteu a chuteira na barriga do meia Batista e foi expulso.
Com a derrota para a Itália, kaput sonho do tetra. A certeza da vitória era tanta que até um personagem publicitário, o torcedor Pacheco, virou símbolo da euforia. Então o país entrou em depressão e, ainda hoje, há quem ache aquela seleção uma das maiores. Talvez seja exagero. Telê escalou mal o time no primeiro jogo e faltou equilíbrio: os jogadores tinham pouco compromisso para defender e excesso de vontade de atacar. Muito esquisito.
O mesmo Telê voltou à seleção para a Copa seguinte, outra vez no México depois da Colômbia desistir de sediá-la. O corte de Renato Gaúcho da relação dos que viajariam para o torneio escancarou uma crise: o lateral Leandro, pivô do corte do atacante, não apareceu no aeroporto. O avião ficou horas na pista do Galeão, com a porta aberta, esperando o jogador. Em vão.
O Brasil ganhou da Espanha na estreia, com ajuda do árbitro, engrenou com duas goleadas e viu-se frente à França nas quartas-de-final. Tivemos um pênalti a favor na reta final do segundo tempo, perdido por Zico. E fomos às penalidades. Deu ruim.
Já do lado argentino tudo daria certo. Maradona enfileirava adversários e driblava todos. Jogou com o pé esquerdo e a mão também: contra a Inglaterra “la mano de Dios” decidiu a parada.
Assim, a meta passou a ser a Copa da Itália, em 1990. O treinador era Sebastião Lazzaroni, jovem e inseguro. A seleção venceu por 1 x 0 seus três jogos na primeira fase, sem convencer. Nas oitavas de final a adversária seria a Argentina, também pouco cotada depois de perder para Camarões na estreia. Aí a água batizada entrou em cena: o lateral Branco foi tomar um gole em uma garrafa suspeita do massagista portenho e ficou grogue. Foi pelo lado dele que Maradona driblou a marcação e encontrou Caniggia para desclassificar o Brasil. A pior campanha da seleção nacional desde 1966.
Veio 1994, com a Copa nos Estados Unidos. Estádios de futebol americano adaptados para o “soccer”, a inovação de usar um estádio coberto, carrinhos-maca e, surpresa, a presença de torcedores lotando as arquibancadas em todos os jogos. Nossa seleção tinha um grande goleiro, Taffarel; uma boa cozinha administrada pelo chef Dunga, e dois craques decidindo na frente. Romário e Bebeto faziam gols e embalavam o bebê Matheus, filho do segundo.
A partir das oitavas tivemos emoções em tempo integral. Inclusive na inédita decisão por pênaltis. Quando chegou a vez do italiano Danielle Massaro bater, meu filho Marco, aos 12 anos, comentou:
– Danielle é nome de mulher, Massaro de japonês. Nenhum dos dois pode jogar este jogo. Taffarel vai defender.
Defendeu. Depois Roberto Baggio fez o trabalho que todos os brasileiros esperavam dele: mandou a bola tão alto que, diz a lenda, o chute derrubou o letreiro de Hollywood. Uma obra digna de um drama destinado ao happy end.
Veio 1998 e o brasil “renovou” seu comando mantendo o passado. Zagalo iria para a terceira copa como treinador da seleção. Ronaldo Fenômeno, chamado pelo pretensioso Galvão Bueno de Ronaldinho, estrelava o time, ao lado de diversos campeões nos Estados Unidos. Um time experiente, que venceu suas duas primeiras partidas até enroscar-se na Noruega, 1 x 2. Para Zagalo, a derrota seria um lado escuro na estrela do penta. Grossa bobagem.
A seleção venceu o Chile sem sustos nas oitavas, passou pela Dinamarca nas quartas e, nos pênaltis, eliminou a Holanda. Estávamos na final outra vez, agora contra a França. Então, Ronaldo sofreu a famosa convulsão. Acabou jogando, mas os franceses nos ofereceram um baile digno das melhores noites de gala no Palácio de Versalhes. Derrota incontestável.
Foi o suficiente para surgirem as mais impressionantes teorias da conspiração. A melhor das fake news afirmava que a CBF havia vendido a Copa, que a Nike teria exigido a escalação do seu contratado Ronaldo e outras estultices. No fim provou-se que o jogador tinha sido mesmo vítima – olha aí, surpresa – de uma convulsão.
Os anos seguintes foram conturbados, até Luiz Felipe Scolari, o Felipão assumir o comando do time. Classificado, levou para a Coreia do Sul-Japão sua aposta na dupla Ronaldo-Rivaldo, vindos de contusões difíceis, com Ronaldinho Gaúcho completando o trio de ataque. Atrás, um goleiro no máximo da forma e cinco zagueiros. Ainda assim, o time só acelerou quando Felipão escalou Kleberson ao lado de Gilberto Silva no meio-de-campo.
Enquanto Espanha e Itália ficaram pelo caminho, desclassificadas por arbitragens para lá de esquisitas, o Brasil foi subindo, até bater a Alemanha na final – nossa terceira consecutiva – e trazer, enfim, o tal de pentacampeonato.
Ninguém poderia imaginar. Foi o canto de cisne da seleção brasileira nas Copas Do Mundo, até hoje. Como veremos no capítulo final desta saga, depois de 2002 só nos coube tristeza. Frustração. E vergonha, muita vergonha.
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