Alceu Rocha e seu cunhado Toninho têm clientes fiéis no Salão Itacolomi, ao lado do nosso cultuado Ao Distinto Cavalheiro. Pessoas como o acadêmico da APL, Dante Mendonça, e seu filho Pedro; Ney José de Freitas, ex-presidente do TRT da 9ª Região e diversos juízes do mesmo Tribunal; Jorge Samek, ex-Diretor geral de Itaipu; os irmãos Paulo e Luiz Eduardo Roncaglio, ex-Procurador Geral de Justiça do Paraná; o ex-superintendente da Fecomércio PR, Eduardo Gabardo Martins, e o atual superintendente da entidade, Alberto Samways, são alguns dos frequentadores. O salão já foi objeto de matérias e crônicas, pela sua tradição – está lá desde 1971 –, bom atendimento e cordialidade.
Há menos de um mês faleceu um dos clientes mais antigos do Alceu Rocha, o ex-vice-presidente do Paraná Clube, Fernando Medeiros. Fazia questão de ser atendido com hora marcada, em um local conhecido pela informalidade – atitude típica de advogado, sempre atento a prazos.
Fernando era um falso grosso, ainda que, às vezes, seu azedume incorporasse dons de oráculo. Nas Olimpíadas de Sidney, em 2000, assistíamos em um grupo na casa de Marco Aurélio Jardim, o último salto de Rodrigo Pessoa, o que lhe daria a medalha de ouro. Fernando cravou: o cavalo vai refugar. Seria algo inusitado, o cavalo Baloubet de Rouet era considerado o melhor do mundo. Pois refugou três vezes, pela primeira e única vez. O Brasil perdeu a medalha.
Porém, seu verniz mal-humorado escondia um grande coração. Era também emérito gozador, que conhecia todo mundo pelo apelido. E se comprazia em apelidar os outros.
Alceu foi vítima desse hábito. Fernando só o tratava por Pombo, porque, segundo ele, o barbeiro fazia caca na cabeça dos clientes. O que não o impedia de continuar marcando hora e a indicar o salão para os amigos.
O barbeiro recorda do seu, agora ex-cliente, com carinho. Tinha orgulho de tê-lo como freguês. Traço de uma alma boa, a levar a vida sem ressentimentos.
A cada mês, passo lá para cortar o cabelo e aparar a barba. Alceu e Toninho cuidam com competência dos meus fios. Até hoje não precisei chamá-los de Pombo.
Fernando, às vezes, exagerava na mordacidade.
