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Intrigas acadêmicas

09/05/2023
vasco

A Academia Paranaense de Letras nasceu em setembro de 1936, em uma das salas da Escola Normal Secundária, na Rua Aquidaban, nada mais que o atual Instituto de Educação, na rua depois batizada como Emiliano Pernetta. A iniciativa foi de Ulysses Vieira, com direito a apelo pelos jornais para o comparecimento da intelectualidade.

 

Na verdade, tratou-se de uma refundação, porque em 1922 já havia sido criada a Academia de Letras do Paraná, que não resistiu muito tempo – mesmo presidida por Rocha Pombo ou, talvez, por causa disso, já que estava radicado no Rio de Janeiro.

 

Os patronos foram escolhidos e as cadeiras preenchidas naquela reunião presidida por Ulysses Vieira. Mas as coisas não andaram como deveriam. Quatro anos mais tarde, a diretoria optou por modificar a composição de patronos e cadeiras. O argumento era o de ajustar cada cadeira a um determinado gênero literário: entre outros, historiadores, poetas, músicos, dramaturgos, clérigos e, inclusive, governadores, além de acomodar outros nomes como patronos.

 

Aí o bicho pegou. Alguns intelectuais que participaram da primeira reunião acabaram sendo esquecidos, como Castella Braz, Alcebíades Miranda e Quintiliano Pedroso, este escolhido entre os primeiros 40 acadêmicos e defenestrado em 1940.

 

O remelexo foi grande. Entre outros, Valfrido Pilotto passou de fundador da Cadeira nº 17 a primeiro ocupante da Cadeira nº 1. Rocha Pombo, falecido em 1933, tornou-se fundador da mesma cadeira. Sá Nunes não aceitou ocupar a Cadeira nº 13, por superstição – ficou como primeiro ocupante da 12. Nestor Victor, morto desde 1932, virou fundador da Cadeira nº 6. Houve ainda outras incongruências, mas ficou tudo por isso mesmo.

 

Os presidentes se sucederam. Após Ulysses Vieira vieram Oscar Martins Gomes, com dois mandatos, Dá Sá Barreto, Osvaldo Pilotto e Vasco José Taborda (foto), o mais longevo. Vasco dirigiu a Academia entre 1970 e 1990, embora na segunda década da gestão tenha afrouxado na condução dos trabalhos. Muitas cadeiras estavam vagas, as reuniões deixaram de acontecer e a insatisfação dos acadêmicos restantes chegou ao limite.

 

Um grupo foi, então, à casa do presidente. Era composto por Túlio Vargas, Valério Hoerner Jr, Veiga Lopes, Felício Raittani e Lauro Grein Filho. Vasco ouviu irritado as ponderações, pediu licença e retirou-se. Os revoltosos ficaram à espera, ouvindo alguém a datilografar furiosamente.

 

Minutos mais tarde, o presidente voltou à sala e entregou sua carta de renúncia: “É isso que vocês querem? Pois está aí!”. Os outros agradeceram e despediram-se, sem saber que seria a última vez que veriam Vasco Taborda como membro da Academia. Magoado, ele jamais voltou a frequentá-la, até falecer sete anos mais tarde.

 

A mudança deu certo. A Academia voltou ao vigor das primeiras décadas e, entre outras novidades, abriu-se para a entrada das mulheres. Mas esta será outra crônica.

 

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