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Monsieur Pujol

01/10/2024

 

O mais excêntrico, escandaloso, indecente “músico” já surgido foi Monsieur Joseph Pujol, astro do Moulin Rouge, em Paris, nos anos iniciais do século XX. Pujol entretinha o público com sua habilidade em executar músicas como O Sole Mio, A Marselhesa e outras usando como instrumentos os músculos da região hipogástrica e o esfíncter. Ou seja, seu repertório era entoado por puns.

Pujol manteve-se na ativa até o início da 1ª Guerra Mundial, quando concluiu que o mundo não estava para piadas, ainda mais, digamos, anais.

Morreu em 1945, para ser relembrado pela dupla Miéle&Boscoli em 1970, quando inauguraram a casa de shows Monsieur Pujol na Rua Aníbal de Mendonça, em Ipanema. Lembro de diversas vezes encontrar Miéle e a atriz Sandra Bréa fumando na frente da boate, eles que protagonizavam um espetáculo muito requisitado. Eu morava a meio caminho entre o Monsieur Pujol e a praia e dali escutava os ecos musicais do show.

Ia longe o humor ingênuo e fisiológico das primeiras décadas do século passado, dos quais essa quadrinha de autor desconhecido é bom exemplo:

O peido é um telegrama
Da estação dos intestinos
Avisando o Chefe Bunda
Que o trem merda já vem vindo.

Tal assunto peidorrento me venho à cabeça ao ouvir de um amigo o sufoco que passou em um shopping center. Caminhando com sua mulher, começou a sentir o desconforto típico dos gases em ebulição. Suportou um tempo, até ser obrigado a procurar um banheiro.

Instalado frente ao mictório, sentiu que um concerto punzal estava em vias de ser iniciado. O problema é que ao seu lado estava um desavisado rapaz no ato inocente de fazer pipi sem acompanhamentos.

A sinfonia não dava sinais de terminar. Segundo o músico peidante, a sua obra se mostrava mais longa que a protofonia do Hino Nacional – o que me fez lembrar a análoga Marselhesa do velho Pujol.

À saída do banheiro, o vizinho circunstante deu com outro sujeito entrando para aliviar a bexiga. Não deixou de avisá-lo:

– A coisa está feia e fedida aí dentro!

Por fim, considero impossível alguém ser capaz de entoar à maneira pujolística o Hino do Expedicionário, com todas as suas 16 estrofes escritas por Guilherme de Almeida. Será merecedor de um até agora inexistente Nobel de Música Intestinal.

Em todo caso vou sugerir ao executor do Hino Nacional que comece a ensaiar. No mundo de hoje, tudo é possível.

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