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ERNANI-CABECA-COLUNA

Numerofóbico

06/05/2025

Meus desencontros com a matemática vêm de longe. No curso primário ainda me defendi com a aritmética, depois começou a tortura.

Nas aulas no Colégio Santa Maria tive mestres matemáticos diversos. Mas desde o primeiro ano do ginasial meus pais foram obrigados a encontrar um professor particular para o filho numerofóbico, a começar pelo Coronel Cleômenes.

As lições eram dadas no quartel da praça Ouvidor Pardinho, conhecido como a Fábrica de Curitiba. Sempre havia em cima da mesa do Coronel um exemplar da Última Hora, que eu filava para ler a coluna do Stalislaw Ponte Preta, alterego do jornalista Sérgio Porto.

Aos sábados o Coronel me recebia em casa, a partir das 14h, em uma vila militar que havia na rua Buenos Aires, ao lado do estádio Joaquim Américo. Depois da aula, era possível assistir a um jogo no estádio: havia um palanque de ferro erguido do lado de fora do muro, em nível mais alto que o das arquibancadas opostas à tribuna principal. Um deleite para o menino espectador.

Depois veio outro militar, o professor Hardy. Suponho, porque já a memória já obnubilou, que seja o major Francisco Hardy, preso em seguida ao golpe de 1964 e hoje nome de rua em Curitiba. Foi quem me abriu a cabeça para as equações, mas só as de primeiro grau. As de segundo, meu cérebro jamais conseguiu decifrar. A eles e a meu pai devo as sofridas aprovações que obtive.

Por conta disso, tratei de pular fora do Santa Maria. No Colégio Estadual as matérias eram da área de humanas, o que me livrou para sempre da vida matemática. Não tenho a menor ideia da importância de uma raiz quadrada e, confesso, hoje tenho dificuldades até para fazer regra de três. Limito-me às quatro operações, embora na vida as subtrações estejam levando ampla vantagem.

E por que estou contando esses episódios nada edificantes? Saiba, pois, que hoje é o Dia Nacional da Matemática, instituído em homenagem ao velho Malta Tahan. Júlio César de Melo e Souza, seu nome de batismo, foi um gênio da matemática e da criação literária. O heterônimo Malba Tahan iluminou milhares de mentes durante décadas. A criação era tão perfeita que ele possui biografia completa, incluindo sua trajetória desde a Arábia, com livros escritos em árabe e traduzidos para o português pelo professor Breno Alencar Bianco, outro personagem inventado.

A sumidade Júlio César de Melo e Souza foi uma das antenas da raça brasileira, em todos as suas versões. Noves fora, tudo.

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