Há uns 30 anos o Ministério da Saúde solicitou à Master, agência de propaganda na qual eu militava, uma campanha para incentivar os homens a usarem camisinha. Em tempos de aids, o protetor era fundamental, mas havia resistência. Os argumentos eram de que a camisinha quebrava o tesão, ou seja, era broxante.
O desafio estava em criar a estratégia correta para superar a dificuldade. Então, em um brainstorm de criação, começamos a imaginar como desmistificar a camisinha. Foi quando me ocorreu que os garotos têm o hábito de nomear seu, digamos, instrumento. O meu era rogério (tenho um primo careca com este nome), o de outro, cabeçudo, um terceiro o chamava de buck rogers e por aí afora. O do Vinicius Alzamora, redator que fazia parte do time, era bráulio.
Reunimos uma relação de nomes, com todos incluídos, e pedimos que a área de pesquisa fizesse um teste para ver qual o mais “palatável” aos ouvidos das pessoas. Sem trocadilho, deu Bráulio na cabeça.
O primeiro comercial foi criado a partir da maquete de um pênis, com um ator mostrando como vestir a piroca suavemente, mantendo o clima: “Aí você pega o seu bráulio e coloca a camisinha, etc…”.
Lançada a campanha em um intervalo comercial do Fantástico, no dia seguinte ninguém falava em outra coisa. Bráulio era um sucesso, só que não. O Ministro da Saúde, Dib Jatene, disse que não tinha visto a campanha (tinha). O Ministério ameaçou não pagar a veiculação (pagou). Até uma associação de pessoas chamadas Bráulio foi criada para processar todo mundo (não processou).
As histórias engraçadas começaram a aparecer. O sócio da Master, Antonio Freitas, era vizinho de um Bráulio – que deixou de cumprimentá-lo a partir de então. E diversas pessoas entraram em contato para contar o nome do seu bilau.
Ocorreu que, naquela segunda-feira fatídica, em que a mídia se fartou com matérias sobre o tema, um advogado chamado Bráulio, atuante na Justiça do Trabalho, apresentou-se no fórum para uma audiência. Entrou na sala com seu cliente, cumprimentou os servidores, testemunhas, o advogado da parte contrária e, por último, a juíza – a quem já conhecia:
– Boa tarde, Excelência!
Ela, de cabeça baixa, com a mão cobrindo a boca para evitar que vissem sua expressão de sarcasmo, devolveu o cumprimento:
– Boa tarde, Dr. Pinto!
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