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O Country e a cultura

16/05/2023
country

Meu primeiro contato real com o Graciosa Country Club teve um poste no meio. No fim de 1969, uma semana antes ou depois, já não lembro, do acidente no mesmo local que feriu gravemente uma das filhas do então governador Paulo Pimentel, o Aero Willys em que eu era mero passageiro, todo garboso dentro de um smoking a caminho de uma festa a rigor, deu de cara com o poste fatídico.

 

Em época anterior ao uso do cinto de segurança, bati minha cabeça contra o para-brisa e não vi mais nada. Fui salvo pelo porteiro do clube, que me tirou das ferragens, fez parar um carro que passava e me enviou em meio a golfadas de sangue para o hospital.

 

Eu tinha um corte feio a um centímetro da carótida direita, um olho quase saindo da órbita, outros cortes pelo rosto e o nariz fraturado. Nunca soube o nome daquele bom homem, que não cheguei a conhecer, porque não tinha como vê-lo em meio aquela quase tragédia. Mas jamais esqueci que o Country contribuiu, pelo seu funcionário, para salvar a minha vida.

 

Ao longo dos anos seguintes, frequentei o clube muitas vezes como convidado. Ou para assistir os torneios abertos de tênis, ou exibições como a do sueco Bjorn Borg, Thomaz Koch, Carlos Alberto Kirmayr, Guga Kuerten e outros, ou para aperitivos no bar com os amigos sócios ou para festas de 15 anos. E até para compor a mesa diretora na posse da escritora Flora Munhoz da Rocha na Academia Paranaense de Letras. E aqui faço parênteses para autocelebração: foi no Graciosa que recebi o título de Membro Benemérito do Instituto dos Advogados do Paraná, dirigido por Tarcísio Kroetz. Local mais adequado, impossível.

 

No entanto, durante esses mais de 50 anos, nunca associei o clube à área cultural. Essa sempre foi uma atividade restrita ao desfrute dos associados, sem que a diretoria os quisesse divulgar para o conhecimento da população em geral, com poucas exceções. Mas isso mudou.

 

É o que faz do seu Departamento Cultural, na atual gestão, uma peça fundamental para conectar o Country a essa realidade disruptiva em que vivemos. Palestras como a de Leandro Karnal, encontros para lá de emocionantes como o da Família Gomm, lançamentos de alto significado cultural como o do livro Saramagos, enriquecido pela presença altissonante de Violante Saramago, a presença de grandes estudiosos de William Shakespeare, a Festa Literária do Graciosa, entre outros, são eventos que enriquecem a nossa vida cultural.

 

Não podemos esquecer que nosso estoque de ambientes para ações de cunho intelectual é pequeno. Espaços são fechados, universidades são vendidas a quem não tem raízes locais, livrarias entram em falência. Em tal contexto, o Graciosa Country Club se torna uma referência nesta área. A expressividade de suas iniciativas é muito grande para que corra o risco de fenecer.

 

A esperança de quem habita o meio cultural é não só de manutenção do atual modelo de gestão, mas até de ampliação de suas atividades. Os curitibanos de hoje e os de amanhã, e depois, serão para sempre gratos pelo grande conhecimento que lhes foi permitido receber nos salões deste clube tão acolhedor. Voilá!

 

Leia outras colunas do Erani Buchmann aqui.

 

1 Comentário

  • Graciosa,por tantos anos,trazendo grandes histórias e vida através da cultura!
    O grande diferencial é que isso tem sido trazido agora,nessa gestão,com uma qualidade inegável de divulgação e riqueza das atividades feitas!

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