O rapaz tinha nascido com o bumbum para a lua, filho e neto de famílias tradicionais no Paraná e no país. Não teve maiores dificuldades na infância e na adolescência, além de pequenos contratempos resolvidos por seus zelosos pais. Frequentador do seleto Country Club, teve cedo a oportunidade de conhecer a Europa e os Estados Unidos. No Jockey Clube, destacou-se mais tarde pela qualidade de seus cavalos campeões.
Eis que, nos primórdios da década de 1950, chegou o momento do privilegiado herdeiro prestar vestibular. Sem maiores admirações por Medicina ou Engenharia, optou pelo curso de Direito. Na época, Curitiba tinha apenas uma faculdade da área jurídica, a tradicional Faculdade de Direito da UFPR, recém-federalizada.
O exame vestibular era prerrogativa de cada faculdade. Elas marcavam as datas e aplicavam as provas de acordo com seus próprios critérios. Nada dos exames pasteurizados que passaram a vigorar nos anos 1970, com as mesmas matérias ministradas a candidatos a qualquer curso, de Filosofia à História Natural, de Letras à Mineralogia.
Na Faculdade de Direito as provas eram orais, abrangendo matérias específicas para ciências humanas: História; Português, incluindo Redação e Literatura; e uma língua estrangeira, entre Inglês e Francês.
O nosso personagem foi se saindo de forma razoável nas primeiras provas, sabendo que os sobrenomes que trazia se encarregavam de facilitar as coisas. Ainda que não fosse brilhante, era bom de conversa e conhecia o básico das matérias exigidas.
Enfim chegou o dia da prova de Francês, a língua pela qual havia optado. O professor, conhecido de sua família, recebeu-o de forma amistosa, não iria dificultar as coisas para um rapaz tão simpático. À questão colocada pelo mestre, ele responderia sem dificuldades:
– Meu jovem, por gentileza, traduza essa frase: “Le lion c’est le roi des animaux”.
E ele, cheio de conhecimento, certo de que dominava a língua de Victor Hugo, não vacilou:
– O leão do rei desanimou!
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